###O Guardião da Caverna

Maya virou-se para a lateral da entrada da caverna e seu coração apertou no peito.

— O guardião... — sussurrou, correndo até ele.

Deitado próximo a uma pedra enraizada na vegetação, o velho guardião jazia inconsciente. O corpo forte, de pele marcada por símbolos tribais, respirava lentamente. Havia um pequeno dardo cravado em seu ombro esquerdo — o sangue escorria discretamente ao redor do projétil.

— Malditos... — murmurou Maya com os olhos marejados. — Eles usaram tranquilizante...

Volkar se aproximou, os olhos dourados estreitos.

— Metamorfos... ele é um como você?

— Sim. Por isso conseguiram capturá-lo. — Ela tocou o dardo com cuidado, retirando-o com firmeza. — Só doparam porque sabiam que não venceriam em combate direto.

Sem hesitar, ela buscou no chão um pequeno cristal translúcido, envolvido em musgo. Tocou-o com reverência e o colocou no centro do peito do guardião.

Volkar observava com atenção, percebendo a aura ao redor do corpo desacordado começar a vibrar. A energia do cristal pulsou uma, duas vezes... até que o peito do guardião arfou forte.

Ele despertou com um rugido baixo, os olhos amarelos brilhando.

— Maya...?

— Sim, estou aqui. Fique calmo.

O guardião se ergueu com dificuldade, olhou ao redor, identificando os estranhos e a tensão no ar.

— O que aconteceu?

— Intrusos entraram, estavam saqueando os cristais. Usaram um dardo em você, ficaram do lado de fora até que estivessem certos de que estava desacordado. Só conseguiram isso porque são covardes.

O guardião fechou os olhos, respirou fundo.

— Saqueadores não compreendem o que tomam. Mas não vai adiantar... os cristais arrancados assim não carregam vida. Não são nada além de adorno vazio.

— Eu sei — respondeu Maya. — Volkar viu isso. Ele é um visitante... dos antigos. A nave deles precisa de energia, e vieram em busca dos cristais certos.

Os olhos do guardião se voltaram para o homem alto de cabelos prateados. Seu olhar se suavizou.

— Então... visitantes de Zyron retornam à Terra.

Volkar fez uma leve reverência.

— Viemos em missão de reparo. Não sabíamos que seriam recebidos com tanta sabedoria.

— Essa aldeia guarda os ensinamentos antigos — disse Maya. — Eu nunca vi meu pai, mas minha mãe sempre disse que ele era um dos seus. Que veio uma única vez, há 23 anos, e teve que partir. Eu sou filha de um antigo. Desde pequena, sei que carrego algo diferente. Por isso eu nunca fui rejeitada aqui. Eles nos aceitaram porque sabiam.

Volkar pareceu tocado por aquela revelação.

— A maioria dos humanos entraria em pânico ou nos atacaria.

— Mas não nós. — Maya sorriu. — No totem sagrado da tribo, temos a imagem de vocês. Guerreiros das estrelas. Depois, eu te mostro.

O guardião se ergueu de vez, esticando os músculos. Estava recuperado. Estendeu a mão e tocou o cristal que ainda vibrava em seu peito.

— Esses que estão mortos, que foram arrancados precisam ser devolvidos à fonte.

Volkar assentiu.

— Jogue-os na nascente da caverna. A água viva talvez ajude a restabelecer sua energia. E nas caixas onde estavam, por favor, coloque os cristais que a Terra concedeu voluntariamente. Esses, sim, podem nos ajudar.

O guardião pegou as caixas com respeito.

— Eu mesmo os levarei à fonte. E cuidarei para que vocês recebam o que precisam para a viagem.

O Lago da Cura e a Árvore Viva

Antes que deixassem a caverna, Maya desviou pela galeria à esquerda, conduzindo Volkar por entre raízes e pedras cobertas de líquen luminescente.

— Espere — disse ela, com a voz suave. — Antes de voltarmos à aldeia, quero te mostrar algo. É aqui que devolvemos os cristais arrancados de forma errada. Aqueles que ainda podem ser salvos pela Mãe Terra.

Caminharam em silêncio até que a caverna se abriu num salão de beleza deslumbrante.

O teto brilhava com estalactites translúcidas e, no centro, um lago de águas cristalinas se estendia com um leve vapor prateado subindo de sua superfície. Nas margens, pequenos cristais brotavam como flores.

Volkar parou, atônito.

— É... magnífico.

Maya se agachou, tirou um dos cristais que fora arrancado pelos invasores e segurou-o com reverência. Depois, com as mãos erguidas e olhos fechados, murmurou:

— Te ofereço, Mãe Terra, o que de ti foi arrancado, para que a ti volte. Que teu sopro o purifique. Que tua energia o reviva.

Ela lançou o cristal à água com delicadeza.

Assim que ele tocou a superfície do lago, uma explosão de luz azulada e dourada emergiu em espiral. O vapor aumentou, e um coro quase audível parecia ecoar nas paredes rochosas.

Volkar deu um passo atrás, impressionado.

— O que foi isso?

— A Mãe Terra energizou o cristal. Agora ele poderá voltar a pulsar.

Volkar ainda observava o lago, em estado de reverência.

— Impressionante... talvez seja isso que perdemos em nosso planeta. Deixamos de honrar a origem. Nós apenas extraímos, extraímos... e nossos cristais começaram a morrer.

Ela assentiu.

— Porque vocês esqueceram de agradecer. Aqui, se o cristal é retirado à força, ele adoece. Só os que caem sozinhos podem ser levados. Ou então, precisam ser devolvidos, como este.

Volkar olhou para ela com seriedade.

— Maya, você voltaria comigo ao meu planeta? Para ensinar meu povo... a restaurar esse vínculo?

Ela o fitou surpresa.

— Eu?

— Sim. Você... e sua mãe. Vocês têm sabedoria que nós esquecemos. Precisamos de vocês.

Maya ficou pensativa por um instante.

— Eu... não sei. Isso não é só uma escolha minha. Vamos primeiro falar com o xamã. Ele sempre orienta com clareza.

Volkar respeitou sua resposta com um leve aceno. Seus olhos, no entanto, se desviaram para o coração do lago, onde uma árvore crescia solitária.

Era uma árvore baixa, de tronco cintilante como quartzo e folhas translúcidas que pulsavam em tons de âmbar, esmeralda e safira. No centro, pendia um fruto reluzente, semelhante a uma gota cristalina.

— Aquela árvore... — sussurrou ele. — O que ela faz ali?

Maya sorriu como quem contempla um milagre antigo.

— Ela é a Árvore Viva. Canaliza toda a energia dos cristais deste lago. Seus frutos salvam vidas.

— Frutos? Ela dá frutos?

— Uma vez por ano — confirmou Maya. — E quando ela dá, nós recolhemos com respeito e guardamos em nossa câmara de cura. Eles não apodrecem. São como cristais. Mas, quando os tocamos com fé e pedimos a cura... eles se transformam no medicamento que precisamos.

Volkar deu mais um passo à frente, fascinado.

— Isso é inacreditável. Eu poderia levar uma semente dessa árvore?

Maya o olhou sério.

— Você terá que pedir permissão a ela.

Ele franziu o cenho.

— A ela?

— Sim. Ela é consciente. E se quiser te dar, ela mesma entregará a semente. Mas não será agora. Hoje você já viu demais. Espere o cair da noite. Volte aqui comigo e converse com ela. Se o seu coração for verdadeiro, ela saberá.

Volkar parecia rendido.

— Impressionante...

— No seu planeta — disse Maya com um sorriso gentil — acho que temos muito o que aprender também. Talvez sejamos um espelho um para o outro.

Eles permaneceram em silêncio por um instante, contemplando a árvore viva que, suavemente, deixava cair mais um fruto na água, envolvido por um halo de luz. A caverna os acolhia como um ventre antigo — onde a sabedoria da Terra e das estrelas finalmente se encontravam.

— Obrigada — disse Maya, emocionada. — Vamos retornar à aldeia. Os intrusos foram levados para lá. O chefe decidirá o que será feito com eles.

— Eles viram o que não deviam — disse o guardião. — Agora devem ser julgados segundo a sabedoria da terra.

Volkar caminhou ao lado de Maya até a saída da caverna.

— Seu povo é diferente — ele disse.

— Sim. Nós somos a lembrança viva dos antigos. E você... talvez seja o recomeço do nosso elo com as estrelas.

Eles seguiram pelo caminho de volta. Os pássaros silenciaram por um instante. A floresta parecia respirar com eles. E sob a luz suave que filtrava pelas copas das árvores, os cristais cantavam em sussurros para quem sabia escutar.

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