A Jovem entre Gigantes

...Luisa cruz...

Ser jovem no FBI é uma maldição disfarçada de medalha.

Com 20 anos, sou a mais nova da unidade de comportamento violento.

Entrar aqui foi como mergulhar num campo minado com os olhos vendados:

todo mundo espera que eu exploda.

Mas eu não vim pra explodir.

Vim pra caçar monstros.

Na minha primeira semana, me deram uma pilha de relatórios sobre um caso antigo: assassinatos em série envolvendo padrões mentais.

A maioria dos agentes ignorou.

Achavam que era apenas mais um psicopata com ego inflado.

Mas eu notei algo.

Ele nunca matava por impulso.

Matava por arquitetura.

E onde há estrutura, há lógica.

Onde há lógica… eu posso entrar.

O nome nos arquivos era direto:

> Assunto: Israel Keyes

Status: Ativo. Altamente perigoso.

Observação: “Possui conexão direta com única sobrevivente viva: Misaka Hoshigaki.”

Foi a primeira vez que li aquele nome.

E foi o primeiro arrepio que tive no FBI.

...****************...

— “Você acha mesmo que vai entender Israel melhor que os veteranos?” — perguntou o Agente Leon, me testando.

— “Eu não acho. Eu tenho certeza.”

Ele riu, mas não disse mais nada.

A maioria dos agentes me via como uma mascote.

Mas eu ouvia tudo.

Absorvia tudo.

Analisava tudo.

Inclusive o que não estava nos relatórios.

A sobrevivente, Misaka, tinha 19 anos quando sobreviveu ao ataque de Israel.

A mesma idade que eu tinha quando entrei pro FBI.

E desapareceu do mapa.

— “Você vai atrás dela?” — perguntou Camila, uma agente tática que raramente falava comigo.

— “Não. Vou entender por que ela sumiu.”

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O dossiê sobre Misaka era… estranho.

Muito estranho.

Nenhuma movimentação bancária. Nenhuma compra registrada. Nenhum documento atualizado.

Mas o nome dela apareceu em lugares proibidos.

Acesso não autorizado à base de dados do FBI.

Invadiram a rede da inteligência interna.

E o rastro? Apagado com perfeição.

Só um detalhe sobrou:

Um símbolo em forma de espiral gravado no canto do código-fonte.

— “Ela deixou isso de propósito.” — falei em voz alta.

Theo, analista técnico, me olhou do lado.

— “Como você sabe?”

— “Porque eu teria feito o mesmo.”

...****************...

A primeira vez que vi sangue real foi em Willowgate.

Chamaram a unidade pra investigar uma denúncia: um galpão abandonado.

Gritos. Correntes. Câmeras quebradas.

Meu coração estava acelerado, mas a mente firme.

Entramos com a equipe de resgate.

A primeira coisa que vi foi uma garota presa numa cadeira.

Cabelos roxos. Pele machucada. Olhos… vivos demais.

Misaka.

Antes mesmo de falarmos, ela disse:

— “Demoraram.”

E sorriu.

Como se não fosse vítima.

Como se fosse a única ali que sabia o que realmente estava acontecendo.

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Misaka foi levada ao hospital.

Mas meu trabalho com ela só estava começando.

Ela dizia pouco, mas cada gesto dela era uma equação.

Era como tentar decifrar um código que te observa enquanto você tenta resolvê-lo.

E no fundo…

Eu sabia que ela e Israel estavam conectados de um jeito que ninguém mais entenderia.

Mas eu entenderia.

Porque eu também sou mais do que aparento.

E eu não vou descansar até Israel Keyes estar no chão.

Seja com a ajuda dela…

…ou contra ela.

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O rádio chiava com a comunicação dos policiais na cena do resgate.

“Encontramos uma sobrevivente. Jovem, machucada, mas viva.”

Meu coração acelerou. Não era só mais uma vítima.

Quando a van do FBI chegou no hospital, eu estava esperando.

Olhei para ela antes que a retirassem da ambulância.

Roxa, frágil, mas com um sorriso que desafiava a dor.

Ela usava óculos — o tipo que faz a gente pensar que ela é só mais uma garota comum.

Só que não.

Era impossível ignorar o ar afiado do olhar dela. Como se estivesse analisando cada detalhe da sala, de mim, dos agentes.

Ela me encarou e sorriu.

“Demoraram”, disse.

Eu engoli seco.

Aquilo não foi uma reclamação. Foi um aviso.

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No hospital, os médicos cuidavam dela, mas eu não desgrudava.

Quando a equipe de agentes chegou para apresentar a estrutura de apoio, foi a primeira vez que ouvi seu nome completo.

— “Consultora especial Misaka Hoshigaki.”

Ouvir aquilo me deu uma sensação estranha. Ela não era só sobrevivente.

Era uma arma.

Observei cada movimento dela.

Ela nunca deixou o sorriso cair.

Mesmo quando o rosto estava machucado, a voz trêmula de dor.

E o mais estranho: ela parecia estar sempre calculando tudo ao redor.

Até quando olhava para mim.

Foi naquele instante que soube: ela não queria só minha ajuda.

Ela queria que eu fosse parte do jogo.

...****************...

Enquanto os médicos tiravam sangue, eu fiquei ao lado dela.

Perguntei se queria alguma coisa.

Ela respondeu com uma risada baixa.

— “Ele fez questão de me deixar um presente.”

Ela mostrou a mão com marcas de corda.

— “É um convite para caçar ele.”

O queixo dela levantou.

Eu senti algo ali. Algo perigoso.

Mas ela precisava de mim.

E eu precisava dela.

...****************...

Fiquei no quarto do hospital naquela noite, esperando qualquer sinal.

Ela estava deitada, com os olhos fixos no teto, aparentemente perdida.

Quando finalmente falou, a voz estava firme, sarcástica.

— “Aquele filho da mãe fez isso pra eu ir atrás dele.”

Ela riu.

— “Que patético. Me deixou com isso na cabeça.”

Respirei fundo.

Sabia que aquela caçada ia ser a mais difícil da minha vida.

Mas eu não iria deixar ela enfrentar aquilo sozinha.

Porque, no fundo, talvez ela fosse a única que pudesse vencer esse jogo.

...****************...

No dia seguinte, convoquei a equipe no centro tático improvisado do hospital.

Eles chegaram rápido, cada um com suas especialidades, mas sem saber ainda o peso que aquela missão teria.

Apresentei a eles a consultora — ou melhor, a peça-chave do quebra-cabeça: Misaka.

Eles olharam para ela com curiosidade e uma pitada de receio.

Era difícil imaginar que aquela jovem com cabelos roxos e sorriso constante fosse uma sobrevivente de um dos serial killers mais perigosos que conhecemos.

Camila, minha parceira tática, foi a primeira a se aproximar, firme e direta.

— “Então é você que vai ajudar a gente a pegar o Keyes?”

Misaka apenas sorriu, aquela mesma expressão fria que não demonstrava medo.

— “Não vou só ajudar. Vou acabar com ele.”

O ar ficou pesado. Todos sentiram.

Naquele instante, entendi que não estávamos só formando uma equipe.

Estávamos começando uma guerra.

...****************...

Os próximos dias foram uma mistura de tensão e silêncio.

Misaka se recusava a ficar parada.

Estudava os casos, revisava os detalhes, analisava tudo com um olhar clínico.

Eu observei a forma como ela lia os agentes, como testava os limites de cada um.

Mas, acima de tudo, notei como ela estava fechada, como se carregasse um mundo que ninguém podia tocar.

Ainda assim, ela confiou em mim para liderar aquela operação.

E eu decidi que não iria decepcioná-la.

...****************...

Logo, recebemos a notícia da nova vítima.

O símbolo da espiral, o mesmo padrão de sempre.

Sabíamos que Israel estava provocando.

Sabíamos que ele queria que nós caíssemos em suas armadilhas.

Mas agora, com Misaka ao nosso lado, a caçada tinha uma nova força.

E eu estava determinada a ser o escudo entre ela e o que quer que viesse.

...****************...

A rua da casa da vítima estava cercada por viaturas e fita amarela.

O corpo da enfermeira já havia sido retirado, mas o cheiro de sangue ainda estava lá — pairando no ar como um aviso.

Misaka veio conosco.

Contra as recomendações médicas. Contra o bom senso.

Mas com aquele mesmo olhar firme, determinado, impossível de ignorar.

Assim que descemos da van, coloquei a mão no ombro dela.

— “Você fica aqui fora.”

Ela arqueou a sobrancelha.

— “Você tá brincando, né?”

— “Não tô. Isso ainda é uma cena ativa. E eu sou responsável por você.”

Ela me encarou por longos segundos, os olhos semicerrados, como se avaliasse se valia a pena obedecer.

Depois cruzou os braços.

— “Tá bom. Esperando aqui, como uma boa garota.”

Desconfiei do tom.

Mas entrei com Camila, Theo e Leon.

E deixei Misaka do lado de fora.

...****************...

A casa era pequena, bagunçada, com sinais de luta.

Sangue escorrido pelas paredes da cozinha. Um símbolo desenhado no espelho do banheiro — a espiral de Israel, torta… falsa.

— “Isso não foi obra dele.” — murmurei.

Theo completou:

— “Alguém tentou imitar. Mal feito.”

Mas, no fundo, uma parte de mim já sabia disso.

Um grito do lado de fora.

Saí correndo.

Vi Misaka caída no chão, segurando o estômago.

Um homem fugia — rápido, desesperado.

Meus instintos agiram.

— “FBI! PARADO!”

Corri atrás dele, tirei a arma.

Ele virou o rosto por um segundo — e foi o suficiente.

PÁ!

Um disparo no ar.

Ele parou, levantou as mãos.

Camila e Leon chegaram logo depois para algemá-lo.

Voltei para Misaka.

Ela se levantava, rangendo os dentes.

O rosto ainda sorrindo, apesar da dor.

— “Ele me acertou bem… mas pelo menos consegui o que queria.”

— “Você tá bem?”

— “Melhor do que ele quando você agarrou.”

Parei por um segundo.

— “Por que você correu atrás dele, Misaka?”

Ela deu de ombros.

— “Instinto. Eu vi algo nos olhos dele. E eu sabia que ele sabia.”

...****************...

De volta à sala da casa, o suspeito foi colocado contra a parede.

Misaka encostou no batente da porta, ofegante, observando.

Eu fazia as perguntas.

Mas ela… estava absorvendo tudo.

Foi então que ela murmurou algo, só pra mim:

— “Ele matou a enfermeira. Mas não por ele. Ele queria parecer com o Keyes.”

Eu olhei pra ela, surpresa.

— “Como você sabe?”

— “Análise.” — ela sorriu, e piscou. — “Digamos que eu leio mais rápido que vocês.”

No fundo, eu sabia que havia algo diferente naquela garota.

Algo que nem todos entenderiam.

Mas uma coisa estava clara:

Misaka era perigosa.

Não porque fosse instável.

Mas porque ela sabia demais.

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Atualizado até capítulo 59

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