O Peso da Pétala Queimando no Peito
Aric Solmar caminhava pelos corredores como um homem que conhecia cada sombra, mas já não reconhecia o próprio reflexo.
Fazia dois dias que lera a primeira carta.
Desde então, não havia conseguido se deitar com Laedra novamente.
Não por moral.
Mas porque, toda vez que seus dedos tocavam a pele de outra mulher, ele ouvia a frase:
“Você não quebrou a promessa… você a queimou.”
—
Naquela manhã, ele entrou na biblioteca.
Era raro.
Desde que Calanthe partira, evitava aquele lugar.
Era lá que ela passava horas lendo sobre antigos rituais, escribas perdidos, histórias da Chama Primordial.
Ele não queria esbarrar nela nas paredes.
Nem na ausência.
Mas algo o puxava.
Talvez a lembrança.
Talvez… a culpa.
—
Sentou-se diante da estante de pergaminhos antigos.
Apoiada sobre a escrivaninha, uma cópia rara de A Canção das Chamas Ligadas — presente de Calanthe, anos atrás.
Suspirou.
Mas, ao abrir o livro…
Algo caiu.
Um envelope.
Selado com uma gota seca de sangue…
E preso a ele, uma pétala vermelha.
Intacta.
Perfeita.
—
O coração de Aric bateu tão forte que ele precisou se apoiar na mesa.
Aquela flor…
Era do dia em que a pediu em união.
O dia em que prometeram nunca se afastar.
O dia em que ele sangrou o dedo só para colher o presente perfeito.
“Vale a pena ver você sorrir, mesmo que doa.”
Ele havia dito aquilo.
Ele mesmo.
E agora, aquela pétala estava ali, envelhecida… mas viva.
Como a dor que retornava.
—
Com as mãos tremendo, ele leu a carta.
“Essa pétala ainda carrega seu toque. Mas agora, ela carrega minha dor. E cada vez que você tocá-la… sentirá a culpa queimando em seus ossos.”
As palavras pareciam ter sido escritas com fogo.
O ar rarefez.
Ele segurou a pétala — e uma ardência súbita percorreu-lhe os dedos.
Real?
Alucinação?
Não importava.
Doía.
—
— Aric? — chamou Laedra, entrando no salão sem pedir permissão. — Estão esperando por você no Conselho. A Decisão sobre o Norte…
— Saia.
Ela arqueou as sobrancelhas.
— Como?
— Eu disse: saia!
— Você está tremendo — disse ela, se aproximando. — Está pálido… o que é isso na sua mão?
Aric recuou.
A pétala caiu no chão.
Laedra abaixou-se para pegá-la, mas quando a tocou… gritou.
A flor queimou sua pele, deixando uma marca fina e dolorosa.
— Isso é magia negra! — cuspiu ela, furiosa. — Isso é obra dela!
— Calanthe não usaria magia negra — respondeu Aric, com a voz embargada.
— Claro que não. Porque ela era perfeita, não era? Uma santa mártir que você destruiu sem pensar duas vezes.
Ela cuspia as palavras como facas.
— E agora? Vai me expulsar da sua cama? Vai correr atrás de uma mulher que está morrendo?
A frase o paralisou.
Morrendo.
—
Laedra saiu batendo a porta.
E Aric afundou no chão da biblioteca, as mãos cobrindo o rosto.
Sentia a pele pulsar no local da Marca de Chama.
Como se ela estivesse tentando acordá-lo.
Como se o vínculo ainda existisse.
Mas estava rompido.
Não estava?
Ou será que…
ele ainda era dependente dela, mesmo depois de tudo?
—
Naquela noite, Aric saiu da fortaleza e foi até o antigo templo onde Calanthe costumava cantar.
Ele entrou em silêncio, como um ladrão de memórias.
E sobre o altar, encontrou um último objeto:
Um caderno de rituais.
Com sua caligrafia.
Na última página, a dedicatória:
“Para Aric Solmar. Para que nunca se esqueça de que houve um tempo… em que foi amado.”
Ele chorou.
Pela primeira vez em anos.
—
Do alto de uma torre distante, Selis observava.
A terceira carta estava pronta.
Mas ainda não seria entregue.
Ela aguardaria o momento certo.
O momento em que Aric não apenas chorasse…
Mas quebrasse.
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Atualizado até capítulo 31
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