Capítulo 3 — O Inimigo do Meu Marido

O restaurante do hotel era sofisticado, discreto, com janelas amplas e toalhas brancas de linho. O tipo de lugar onde grandes acordos são firmados sob sorrisos suaves e taças de vinho.

Valentina sentou-se primeiro. Estava com as costas eretas, o olhar firme, como se tivesse passado a vida fazendo isso. Mas, por dentro, o coração batia como um tambor de guerra. Ela não estava acostumada a jogar — mas estava aprendendo rápido.

Nicolas se sentou à frente dela, relaxado, quase divertido. Era o tipo de homem que parecia confortável em qualquer ambiente. Como se soubesse que o mundo sempre acabava girando em torno dele.

— Tenho que admitir — disse ele, cruzando os braços sobre a mesa —, quando te vi na entrada do evento, achei que fosse engano. Ou um golpe baixo do destino. Mas agora que você está aqui, me chamando para um café... estou curioso.

Valentina ergueu uma sobrancelha.

— Curioso é um bom começo.

— Não é todo dia que a esposa perfeita de Arthur Diniz aparece querendo conversar comigo — ele sorriu, inclinado para frente. — Vocês ainda estão casados, certo? Ou você finalmente acordou?

Ela manteve o olhar frio.

— Ainda estamos casados. E, acredite, o fato de eu estar aqui diz muita coisa.

O garçom chegou, e eles pediram. Café para ela. Whisky para ele. Às três da tarde.

— Então me diga — Nicolas apoiou o queixo sobre a mão —, o que você quer de mim, Valentina?

Ela respirou fundo, cruzando as pernas de maneira elegante.

— Quero fazer um acordo. Um arranjo. Um jogo, se preferir.

— Um jogo?

— Sim — ela respondeu, sem desviar os olhos. — Arthur me traiu. Com outra mulher. Isadora.

Ele soltou um assobio silencioso.

— Isadora? A secretária?

— A própria.

— Claro. Sempre soube que ela era um problema.

— Descobri ontem. Ele me propôs um casamento aberto. Achou que eu jamais aceitaria. Que eu ficaria magoada, encolhida. Submissa.

— Mas você disse sim.

— E agora quero você.

O silêncio que se seguiu foi denso.

Nicolas a encarou como se quisesse ver além das palavras, escavar o que havia por trás daquela proposta inesperada. Depois, deu uma risada baixa.

— Isso está ficando interessante.

— Não estou propondo um caso — ela disse, firme. — Estou propondo uma parceria.

— Continua parecendo um caso disfarçado.

— Não. Eu quero jogar o jogo de Arthur contra ele. Quero que ele sinta cada insegurança que me fez engolir. Quero que cada desculpa que ele usou contra mim se volte contra ele. Quero que, pela primeira vez na vida, ele perca.

— E por que eu?

Ela o fitou.

— Porque você é o único homem que ele odeia mais do que ama a si mesmo.

A risada de Nicolas veio mais forte dessa vez, verdadeira.

— Isso foi bom — ele disse. — Poético, até.

Ela manteve o tom sério.

— Eu sei que vocês têm um passado. Que houve negócios mal resolvidos. Que ele te sabotou na época da fusão da Diniz Holdings com o Banco Tavares.

— Ele mentiu para o conselho — Nicolas disse, a voz de repente mais fria. — Me passou por incompetente, manipulou dados, destruiu minha credibilidade naquele círculo. Sim, temos um passado. E uma dívida aberta.

Valentina se inclinou sobre a mesa.

— Então me ajuda a cobrá-la.

Ele a observou por longos segundos.

— E o que eu ganho com isso além de diversão?

— Você ganha prestígio. Ganha exposição. Vai jantar na minha casa. Vai ser visto comigo. Vai entrar no círculo social do qual ele sempre quis te tirar. Vai mostrar que não apenas você venceu — mas que ele perdeu tudo.

— Incluindo a esposa.

— Incluindo a esposa.

Ele girou o copo de whisky entre os dedos.

— E você? O que realmente quer com isso?

Valentina hesitou. Pela primeira vez, sua expressão suavizou.

— Quero me ver livre.

— Livre de Arthur?

Ela sorriu, sem humor.

— Livre de mim mesma. Da mulher que fui por ele. Quero me reinventar. Quero sentir o gosto do poder. Do desejo sem culpa. Do risco. Quero... descobrir quem eu sou quando não estou tentando ser o ideal de alguém.

Nicolas a olhou de um jeito diferente agora. Como se finalmente visse além da esposa traída. Como se visse uma mulher à beira da revolução pessoal. E ele respeitava revoluções.

— Isso é mais do que um jogo — ele disse. — Isso é vingança com roteiro.

— E você adora um bom roteiro, não é?

— Amo.

Eles brindaram. Café e whisky.

Um novo pacto selado.

Nos dias seguintes, Valentina não parou. Atualizou suas redes sociais. Apareceu em eventos discretos. E, ao lado dela, Nicolas Montenegro.

Arthur assistia tudo com um sorriso tenso, tentando se manter sereno. À noite, perguntava com sutileza onde ela tinha estado. Valentina devolvia com a mesma moeda:

— Fiquei na cobertura do Nicolas. Ele se sente inseguro quando eu durmo fora.

E dizia isso olhando nos olhos. Sem remorso. Sem medo.

Ela não precisava fingir mais.

Nicolas era tudo o que Arthur jamais foi: espontâneo, imprevisível, perigoso. E mesmo que, no início, fosse só um acordo… Valentina estava descobrindo que, pela primeira vez, ser desejada não era um fardo.

Era poder.

E ela gostava da sensação.

Dois dias depois, Valentina desceu da cobertura de Nicolas com um vestido preto justo, salto alto e o cabelo solto como nunca usava quando saía com Arthur. O motorista particular do marido a esperava na frente do prédio, já informado de que deveria buscá-la ali.

Ela entrou no carro sem hesitar.

O motorista a olhou pelo retrovisor, surpreso, mas educado.

— Senhora Diniz, devo levá-la direto para casa?

— Pode parar antes no shopping. Quero comprar algumas roupas novas.

— Sim, senhora.

Valentina olhou a própria imagem refletida no vidro da janela: ainda era ela — mas mais solta. Mais ousada. Mais dona de si.

Ela abriu o Instagram. Havia uma nova notificação: uma foto dela e Nicolas no evento de lançamento de um novo fundo de investimento. A legenda era neutra, mas os comentários ferviam.

@luanacosta: Gente, essa não é a esposa do Arthur Diniz?

@carol_braga: O que ela tá fazendo com o Montenegro?

@joaoricardo: Fogo no parquinho, hein.

Ela sorriu. Sabia que Arthur veria. E viu.

À noite, quando ela entrou em casa, Arthur estava na sala com um copo de vinho e o olhar pesado.

— Preciso conversar com você — ele disse, direto.

— Diga.

— Isso... — ele apontou o celular —, você e o Nicolas? Isso faz parte mesmo do que combinamos?

Ela se aproximou calmamente, tirando os brincos como se aquilo fosse uma conversa casual.

— Você queria um casamento aberto, Arthur. Eu só aceitei os termos.

— Mas ele? — Arthur se levantou, nervoso. — Justo ele?

Valentina deu de ombros.

— Não pensei que você tivesse imposto restrições. Afinal, você está com a Isadora, que, por sinal, continua usando o mesmo perfume barato que me enjoava.

Arthur apertou os punhos. A máscara de tranquilidade dele estava começando a rachar.

— Você está fazendo isso só para me atingir?

— No começo, talvez. Mas agora… — Ela sorriu. — Estou me divertindo.

Arthur passou a mão pelos cabelos, irritado.

— Ele está usando você.

— E você não?

Silêncio.

Ela cruzou os braços.

— Você me traiu, Arthur. Achou que eu fosse te perdoar, te agradecer pela liberdade que me ofereceu de presente embrulhada em dor. Mas a liberdade é minha agora. E você vai assistir.

— Isso não vai terminar bem — ele murmurou.

— Para quem? — ela rebateu. — Para mim, já começou muito melhor do que eu imaginava.

Mais tarde naquela noite, Valentina ligou para Nicolas. Ela estava na cama, de robe, com a luz do abajur acesa e uma taça de vinho nas mãos.

— Aposto que ele está surtando — Nicolas disse do outro lado da linha, com aquele tom divertido.

— Ele tentou manter a pose, mas... está desmoronando por dentro.

— Você está jogando melhor do que eu esperava.

— Porque não é só jogo. É vida real. E essa, Nicolas, eu tô aprendendo a viver agora.

— Cuidado — ele disse, num tom mais sério. — Não se perca no caminho.

Ela ficou em silêncio por um segundo. Depois respondeu, com firmeza:

— Eu não tô me perdendo. Tô me encontrando.

Do outro lado da linha, Nicolas ficou em silêncio. Não porque discordava — mas porque começava a entender que talvez ela estivesse certa. Que aquilo não era só sobre Arthur. Nem só sobre vingança.

Era sobre ela.

E, de alguma forma estranha, ele começava a se importar.

No fim de semana, Valentina recebeu um convite inesperado: um jantar beneficente, tradicional entre as famílias da elite. Um evento formal, com listas fechadas, mesas separadas por sobrenomes de peso.

Ela deveria ir com Arthur.

Mas confirmou presença com Nicolas.

No salão iluminado por lustres de cristal, ela surgiu ao lado dele como um escândalo silencioso. Um sussurro que virava grito em cada olhar.

Arthur, sentado à mesa dos Diniz, travou o maxilar ao vê-los.

Valentina passou por ele com a cabeça erguida, o braço entrelaçado no de Nicolas, e um sorriso discreto no canto dos lábios.

Uma das madrinhas do evento cochichou:

— Eu pensei que ela fosse recatada...

A outra respondeu:

— Ela era. Até perceber que pode ser muito mais do que isso.

Durante o jantar, Nicolas tocou levemente a mão de Valentina, sob a mesa.

— Você está bem?

— Melhor do que nunca.

— Ele está te olhando como se quisesse matar alguém.

— Que bom. Eu também já quis.

Nicolas riu.

— Gosto da sua frieza. Mas cuidado pra não congelar por dentro.

Valentina ergueu a taça.

— Não se preocupe. O fogo tá bem aceso aqui dentro.

Eles brindaram.

E quando os olhares se cruzaram mais uma vez, já não havia só estratégia ou conveniência. Havia faíscas.

A fronteira entre o plano e o desejo começava a ruir.

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Comments

Marisa Sampaio

Marisa Sampaio

gostei de Valentina!
Fazer seu oponente prova do seu próprio veneno!

2025-07-05

2

Cida Barcellos

Cida Barcellos

É isso aí Valentina mulher poderosa 👏🏽👏🏽🥰🥰

2025-07-08

0

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