capítulo 4

Theo passava os dedos devagar pelo pulso, onde ainda sentia o calor do toque de Dante. Não havia mais brilho, mas o local parecia… vivo. Latejante. Como se a pele lembrasse daquele toque tanto quanto o coração.

Já era fim de tarde quando recebeu uma mensagem inesperada.

📲 “Me encontra na quadra de trás. Agora.”

Sem pensar duas vezes, Theo correu. O céu alaranjado pintava os muros da escola, e a quadra onde ninguém costumava ir estava vazia — exceto por Dante, parado no meio, de mãos nos bolsos e expressão indecifrável.

— Achei que você tinha fugido depois daquilo — Theo brincou, chegando perto. — Sabe… ligação de fado é meio intenso até pra um alfa brucutu.

— Eu precisava pensar.

Theo o encarou por alguns segundos, o sorriso brincalhão dando espaço a algo mais sério.

— E… você pensou em quê?

Dante respirou fundo e tirou as mãos dos bolsos. Aproximou-se devagar, com passos cuidadosos. Seus olhos não desgrudavam dos de Theo.

— Pensei que tô ferrado.

— Por quê?

— Porque você é doce, fala demais, é grudado, tem cheiro de nuvem com açúcar… e mesmo assim, eu não quero fugir de você. Quero te puxar mais pra perto.

Theo mordeu o lábio, as bochechas tingidas de rosa. Sentiu o coração acelerar tanto que quase teve certeza de que o próprio Dante podia ouvi-lo.

— Então puxa.

Dante hesitou por um segundo. Mas depois, como se uma força maior o empurrasse, ele tocou o rosto de Theo com as duas mãos, com uma delicadeza que ninguém imaginaria vinda daquele alfa bruto. Os dedos deslizaram pelas bochechas, o polegar roçou de leve os lábios do ômega.

— Você tem noção do que tá fazendo comigo?

— Tenho, sim — Theo sussurrou. — Mas só porque você tá fazendo o mesmo comigo.

O mundo ao redor pareceu sumir. Os sons, as cores, os ventos... tudo se calou.

Eles estavam a centímetros de distância. Os olhos de Dante ardiam em intensidade, e o cheiro dos dois agora se entrelaçava no ar — uma dança quente, envolvente, inevitável.

Então veio o momento.

O quase.

Os lábios de Theo se entreabriram. Dante inclinou-se, lentamente, sentindo a respiração do ômega roçar seu rosto.

Mas quando seus lábios quase se tocaram…

Theo estremeceu.

Um arrepio tomou seu corpo. O cheiro que exalou no segundo seguinte era diferente. Mais denso. Quente. Inundava o espaço ao redor.

Dante deu um passo para trás, instintivamente, e prendeu a respiração.

— Theo… você está…

— É — Theo murmurou, envergonhado. — Acho que... entrou antes da hora. Meu cio.

Era cedo. Theo ainda não tinha um ciclo regular — os médicos diziam que o estresse, ou um laço emocional intenso, podiam antecipar os sintomas. E com a ligação de fado recém-formada... era quase inevitável.

— Eu… eu não queria que fosse agora. Assim.

— Ei — Dante disse, se aproximando devagar. — Respira. Tá tudo bem.

— Você deve estar sufocado com meu cheiro — Theo falou, apertando os braços ao redor do corpo, os olhos marejados. — Todos os alfas ficam descontrolados quando um ômega entra no cio perto deles. Eu não queria que você achasse que eu tô forçando algo.

Dante chegou mais perto, até ficar na frente dele. O cheiro doce de Theo estava forte, sim — mas não o descontrolava. Ao contrário, acalmava seu lobo. Despertava algo protetor, quente, reconfortante.

— Eu sou seu fado, lembra? — Dante disse, roçando o nariz levemente no topo da cabeça de Theo. — Meu instinto não quer te marcar à força. Quer te segurar e manter você seguro. Aqui.

Theo soluçou baixinho, ainda tremendo. E então, sem avisar, se jogou nos braços de Dante.

— Você é melhor do que eu imaginei — Theo murmurou no pescoço dele.

— E você me deixa completamente maluco.

Ficaram ali, abraçados, no meio da quadra vazia, enquanto o cio de Theo pulsava leve no ar, mas sem medo. Porque Dante estava ali. Firme. Forte. E não ia embora.

Ele se afastou só o suficiente para olhar nos olhos de Theo outra vez.

— Quer que eu fique com você essa noite?

— Quero.

— Só pra cuidar de você. Te proteger. Nada além do que você permitir.

Theo assentiu com os olhos brilhando.

— E se eu permitir um beijo?

Dante sorriu de lado, o olhar selvagem e doce ao mesmo tempo.

— Aí, meu ômega… você vai ter muito mais do que um.

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