4º capítulo

Luna ligou para Magali logo cedo e avisou que não iria ao laboratório naquele dia.

— Então o tal rapaz misterioso não mentiu... Você vai mesmo entrar pela porta da frente da Ambiental Intercorps? — perguntou Magali, surpresa.

— Vou… Mas vou ver se o Ravi vai comigo. Não quero ir até aquele lugar sozinha.

— Aquele lugar ainda mexe com você, mas não pode se deixar intimidar.

— Eu sei… Demorou muito, mas agora estou pronta para encarar tudo cara a cara.

— Acha que vão te reconhecer?

— Não. Eu era uma menina… Eles nunca saberiam quem sou.

— Melhor assim.

Luna saiu de casa meia hora antes da reunião e passou na casa de Ravi.

— Vamos, por favor… Você tem que vir comigo.

— Vai mesmo se meter com essa gente?

— Eu preciso salvar o Bayer.

— E por que acha que eles ajudariam, se foram eles mesmos que causaram todos os danos?

— Eu quero acreditar que Henrique não mentiu sobre o chefe dele…

— Já te disse: esse cara só está te enrolando porque está afim de você.

— Ele é comprometido. Eu vi o anel… E se quisesse algo comigo, teria feito alguma coisa na noite em que ficou lá em casa.

Ravi bufou, cruzou os braços e então cedeu:

— Certo, eu vou com você. Mas só porque não quero te deixar sozinha com esse pessoal.

— Obrigada, Ravi… Você é o melhor.

Pegaram um táxi e chegaram com alguns minutos de antecedência. Luna parou, nervosa, em frente à empresa.

— Não vai entrar? — perguntou Ravi.

— Estou com medo… Bem que o Henrique podia estar aqui me esperando.

— Besteira. Vamos logo.

Ele a pegou pelo braço e a puxou para dentro. Assim que entraram, a recepcionista levantou o rosto:

— Posso ajudar?

— Temos uma reunião com o dono da empresa — disse Ravi por Luna.

— O nome é Henry Locki Master — completou.

— E sobre o que seria?

— Sou Luna Gauber, ativista ambiental.

A mulher assentiu com um sorriso cordial.

— Ah, sim. Ele avisou que você viria. Queiram me acompanhar, por favor.

Subiram juntos no elevador. Luna mal conseguia conter a ansiedade; seu coração estava disparado. Quando as portas se abriram, uma longa parede com quadros dos antigos presidentes e o atual chamou sua atenção.

Caminhou devagar até a última fotografia. A moça da recepção sorriu.

— Preciso que aguardem aqui. Ele está em reunião com os acionistas, mas já irá atendê-los.

Luna, no entanto, mal ouviu. Seus olhos estavam fixos na fotografia diante dela. O sangue gelou. A foto era de Henrique. Mas no nome descrito na placa, lia-se: Henry Locki Master.

— Henrique? — murmurou, em choque.

— Ficou doida, Luna? — questionou Ravi, se aproximando.

— Esse cara… é o mesmo que eu ajudei.

— O quê?! Esse aí é o cara que dormiu na sua casa? Que disse que era segurança?

— É ele…

Ravi soltou uma gargalhada debochada.

— Mas esse cara é muito sem noção! Nem se deu ao trabalho de inventar um nome falso melhor, só aumentou o próprio.

— Isso não pode ser verdade…

— Quantas provas você precisa? Está aí, bem na sua frente! Ele mentiu para você. Vai esperar ele te enganar de novo?

Luna sentia o chão sumir sob os pés. Ravi a puxou pela mão.

— Vamos. Vamos ver esse cara agora.

— Não, Ravi, não podemos entrar!

Mas ele já havia empurrado a porta da sala de reuniões, e a puxado com ele. Todos os presentes se viraram para encará-los. Na cabeceira da mesa, Henry se levantou. Seus olhos se encontraram com os de Luna.

— Luna…

Aquilo bastou. Ela deu um passo para trás e saiu correndo, o rosto queimando de vergonha.

Henry saiu atrás dela, apressado.

— Henry! Onde você vai?! — gritou Teodoro.

Ele ignorou o tio. Precisava alcançá-la, precisava explicar tudo.

Luna apertava freneticamente o botão do elevador. Quando as portas se abriram, ela entrou correndo. Henry vinha logo atrás, e seus olhares se cruzaram por um segundo, antes que as portas se fechassem.

Ele correu para o outro elevador e desceu.

Quando chegou ao térreo, avistou Luna andando pelo saguão lotado, em direção à porta. Correu e segurou-a pelo braço.

— Luna, espere…

Ela se virou com os olhos marejados de raiva.

— Você não é o segurança…

— Nada muda o fato de eu ser o dono da empresa! Não muda nada. Eu ainda quero resolver o caso do Bayer!

— Você mentiu pra mim. Isso muda tudo.

— Muda o quê?

— Muda a minha impressão sobre você. A confiança… os conceitos. Eu nem sei seu nome de verdade!

— Me deixa explicar. Eu não sabia se podia confiar em você…

— Pois agora estamos quites. Porque agora quem não pode confiar em você sou eu.

Ela puxou o braço com força e saiu, determinada.

Ravi, que já havia descido, apareceu na mesma hora, indignado.

— Deixa minha garota em paz!

Ele correu atrás de Luna e a alcançou antes que entrasse no táxi.

Luna só queria sumir. Não acreditava que tinha sido tão burra.

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