Henrique chegou em casa pela manhã. Gerttu, a empregada finlandesa, veio correndo, apavorada:
— Meu querido, fiquei tão preocupada com você…
— Estou bem, Gerttu, está tudo bem… — Ele a abraçou com carinho e ela correspondeu, aliviada.
— Seu tio falou que vândalos invadiram a empresa, renderam e machucaram pessoas... quase enfartei de preocupação com o seu sumiço!
Henry respirou fundo, sem acreditar no tio.
— Não foi nada disso… Eles apenas protestavam na frente da empresa. Eu é que desci para controlar a situação, mas alguém chamou a polícia e a confusão começou… Se não fosse por um desses "vândalos", eu nem mesmo sei onde estaria agora.
— Você foi socorrido por um deles então?
— Sim… uma garota, na verdade.
— Só por ela ajudar você já ganhou a minha admiração então… — Gerttu sorriu com ternura.
Ele sorriu também, enquanto subia as escadas, desabotoando o paletó:
— A minha também, Gerttu… a minha também.
Quando Henry chegou à empresa naquele dia, ninguém parecia acreditar no que estava vendo. Ele andou por entre as pessoas, cumprimentando todos. Os olhares de espanto o incomodavam. Cansado daquela atmosfera, chamou um rapaz de canto:
— O que está havendo aqui? Por que estão me olhando desse jeito?
— Bom… o senhor Pontes disse que o senhor tinha sido sequestrado por vândalos, espancado, e que estava no hospital…
Henry fechou os punhos de raiva e seguiu direto para a sala do tio. Entrou num rompante, sem bater à porta, e pegou Teodoro aliciando uma secretária.
— Tio…
O velho, todo sem graça, mandou a garota embora. Ela poderia muito bem ser neta dele.
— Sobrinho querido… o que faz aqui? Achei que descansaria hoje…
— Era a ideia… até porque eu fui sequestrado e espancado por vândalos, não?
— Oh, meu querido… eu precisava de uma desculpa para os funcionários…
Henry se aproximou do tio, encarando-o com frieza:
— Na dúvida, sempre escolha dizer a verdade, titio…
Teodoro sorriu, sem graça. Henry respirou fundo e foi para o seu escritório. Precisava averiguar as fotografias que Luna havia lhe passado. Ele avaliou tudo cuidadosamente e depois pegou o carro, indo até o local onde as fotos tinham sido tiradas.
Seguindo-se pela paisagem das imagens, percebeu que aquele lugar era muito mais bonito do que podia imaginar. Em meio à mata, uma casa abandonada jazia solitária, um pouco destruída pelo tempo. Logo ali, uma fonte de água corria, envenenada por resíduos químicos que exalavam um forte odor.
Léo, um dos capangas de Teodoro, viu Henry sair de lá e resolveu ligar para o patrão:
— Sujou pra nós, Theo. O garoto acabou de sair daqui… fotografou todos os encanamentos e viu toda a sujeira que estamos fazendo…
— Que garoto?
— O seu sobrinho… saiu daqui há pouco, louco da vida…
— Ele viu o derramamento de resíduos?
— Ele foi direto até o local… até parecia que sabia de alguma coisa…
— Impossível!
— Na pressa que ele estava, não vai demorar muito pra chegar até aí. Prepare-se…
— Limpe toda a fábrica e mande as pessoas embora! Ele não pode encontrar nada que esteja no depósito!
Henry entrou na garagem da empresa, irritado, pegou o elevador e invadiu a sala do tio, sem bater.
— Espero que tenha uma excelente desculpa para estas fotos, tio… — disse, jogando as imagens sobre a mesa.
Teodoro se levantou calmamente, olhando para o celular do sobrinho:
— Não estou sabendo de nada disso, Henry. Estou tão surpreso quanto você…
— Quem autorizou isso? Não foi você?
— Como eu disse… nunca fui informado de nada disso antes.
— Tem as suas assinaturas nesse projeto…
Teodoro pegou os papéis das mãos do sobrinho e analisou:
— Isso é uma calúnia! Alguém falsificou a minha assinatura!
Henry duvidava muito que aquilo fosse verdade, mas não queria bater de frente com o tio. Ele era a única família que lhe restava.
— Faça o que quiser a respeito… Se quiser procurar os culpados ou processá-los, fique à vontade. Por ora, eu vou resolver isso.
— O que vai fazer?
— Encerrar as atividades da filial até que tudo esteja de acordo com as normas ambientais. Vou organizar uma comitiva de imprensa para tentar melhorar a nossa imagem no mercado e vamos trabalhar na recuperação do solo e das águas da nascente, bem como replantar as árvores que foram mortas pelos resíduos químicos ou arrancadas para a construção da filial.
— Mas isso vai custar milhões!
— O certo, tio, é sempre o certo. Erramos muito nisso… agora vamos correr atrás desse enorme prejuízo.
— Mas isso vai prejudicar os cofres da empresa…
— Somos uma multinacional multimilionária… Por que está tão preocupado com alguns milhões?
— Henry, eu entendo a sua preocupação pelo meio ambiente… mas temos que pensar no nosso futuro…
— O meio ambiente é o nosso futuro.
Luna chegou exausta do trabalho e se atirou no sofá. Seu celular começou a tocar.
Ela olhou a tela e viu um número desconhecido. Suspirou e atendeu, desconfiada:
— Alô?
— Oi, Luna… é o Henri… quer dizer, Henrique… — corrigiu-se, assim que lembrou que ela não sabia seu nome verdadeiro.
— Ah… oi, Henrique! Como está? Você melhorou bem?
O coração dele deu uma palpitada… ela se importava. Sorriu involuntariamente:
— Sim… estou bem, obrigado por perguntar. Eu conversei com o meu chefe… ele quer receber você…
— Como? Isso é sério mesmo?
— Sim… por que não seria?
— É que… é tão surreal… Normalmente, empresas grandes como a Ambiental não ligam para nós, os ativistas…
— Eu ligo… quer dizer… a empresa… ela liga… — disse ele, atrapalhado, se corrigindo ao mesmo tempo.
Ela, porém, tentou não se encantar. Afinal, aquele homem era comprometido.
— Posso agendar você para amanhã, às 10 horas?
— Claro!
— Ótimo. Até amanhã então, Luna… durma bem…
Meu corpo inteiro se aqueceu, lembrando daqueles olhos me observando hoje, mais cedo.
— Você também… durma bem…
Ele desligou. Eu tentei não sorrir… Mas o sorriso já estava ali, estampado na minha cara de bolacha idiota.
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Atualizado até capítulo 31
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