2º capítulo

Luna voltou para o quarto com cautela, equilibrando o prato de sopa sobre uma bandeja e uma xícara de café.

— Pensei que talvez você quisesse comer alguma coisa… — disse, com um sorriso tímido.

Ele a olhou com atenção, como se tentasse decifrar o que se passava em sua mente. Era tão enigmático...

— Adoraria… — respondeu ele, sorrindo suavemente. — Então, Luna, não é? Esse é o seu nome?

— Isso… — confirmou, sentindo o coração acelerar com a simplicidade daquela pergunta.

— Como soube do derramamento de resíduos na nascente?

Ela ficou tensa.

— Então… aquele lugar é…

— É de propriedade particular — completou ele, observando cada reação dela.

— Eu sei… é que… — Luna começou a se atrapalhar, ficando nervosa.

Ele apenas sorriu, com uma tranquilidade desconcertante.

— Não precisa ficar constrangida por ter invadido. Tudo bem, não vou te denunciar.

Luna se encolheu involuntariamente. Se ele soubesse o que aquele lugar representava para ela…

— A sopa está incrível. Foi você quem fez? — perguntou ele, sorrindo, interrompendo seus pensamentos.

Ela sorriu de volta, meio sem jeito.

— Sim, fui eu…

— Cozinha muito bem. O que faz da vida, senhorita Gauber, além de perturbar a ordem pública, é claro… — brincou ele, soltando uma risada leve.

Luna ergueu o queixo, fingindo bravura:

— Eu não perturbo a ordem pública… eu apenas luto por justiça.

Ele a observou com mais interesse ainda.

— Já pensou em conversar com o dono da empresa?

— Já… mas nunca fomos recebidos.

— Como…? Mas… eu nunca soube que… — ele começou a falar, esquecendo-se do papel que estava interpretando ali.

Luna franziu a testa, desconfiada:

— E por que você saberia? Você é apenas um segurança, não é?

Henrique se lembrou, então, da mentira que havia contado. Não poderia se desmentir agora.

— Tem razão… às vezes me sinto importante demais por ser… digamos… um amigo íntimo do dono.

Ela arqueou as sobrancelhas:

— Conhece o dono da Ambiental?

— Sim, muito bem, aliás.

Luna se encheu de esperança.

— E conseguiria fazer com que nos recebesse? Quero dizer… para podermos, sei lá, discutir o assunto sem brigas, sem alvoroço?

Henrique sorriu, terminando as últimas colheradas da sopa:

— É claro. Vou falar com ele amanhã mesmo. Tenho certeza de que aceitará.

Ela recolheu o prato e a xícara, voltando minutos depois com um segundo cobertor.

— Para o caso de sentir frio durante a noite… — explicou, ajeitando o tecido sobre a poltrona.

Henrique a observou e perguntou, com um olhar curioso:

— E você vai dormir onde?

— No sofá da sala…

Ele balançou a cabeça, como se aquilo fosse inaceitável:

— Não seja boba… eu é que deveria estar no sofá…

— Nem pensar! Você está machucado!

Henrique suspirou, sorrindo de lado:

— Deite aqui…

Luna arregalou os olhos.

— Ficou doido?!

Ele ergueu as mãos, como quem jura inocência:

— Não estou cantando você, nem tentando nada. Juro. Só não quero que fique desconfortável no sofá.

— Não ficarei desconfortável…

— Então deixe que eu fique lá…

— Não! Isso é um absurdo!

Henrique riu baixo:

— Certo… então vamos parar de discutir… deita aqui comigo.

Luna travou. Ele era um completo desconhecido… e se a agarrasse do nada?

— Já disse… não vou encostar em você. Para de me olhar assim, com espanto…

— Desculpa… é que… eu não conheço você… então…

Ele assentiu, compreensivo:

— Acho justo e importante que desconfie. Mas sou comprometido, veja… — levantou a mão, mostrando a aliança no dedo. — E, aliás, sou bastante fiel também…

Luna ficou sem graça… e até… enciumada? Aquela mulher devia ter muita sorte mesmo… talvez o problema não fosse o medo de ele a agarrar… e sim, o medo de ela mesma fazer isso.

— Ok… mas só vou deitar aí para garantir que você fique bem… caso precise de ajuda durante a noite…

Henrique sorriu, tranquilo:

— Não precisa se explicar. Seremos apenas dois adultos dormindo na mesma cama, só isso.

Luna respirou fundo, foi até o banheiro, molhou os pulsos tentando controlar a temperatura do corpo, trocou de roupas e, enfim, deitou-se ao lado dele. Mas podia sentir sua presença ali, tão perto… aquilo era um tanto desconfortável.

— Boa noite, Henrique.

— Boa noite, Luna.

Ela fechou os olhos… e adormeceu mais rápido do que imaginava.

Acordou com a claridade da janela batendo em seu rosto. Abriu os olhos… e deu de cara com dois imensos olhos azuis, a encarando.

Luna se esqueceu completamente de que ele estava ali e saltou da cama, caindo no chão.

— Ai…

Henrique se inclinou:

— Ei… está tudo bem com você?

Ela respirou fundo… ok, era só Henrique… o cara estranho com quem acabara de dividir a cama.

— Tudo… tudo tranquilo…

— Você se machucou?

— Não, está tudo bem… — respondeu, levantando-se com cuidado, percebendo que ele ainda a observava, o que era extremamente intimidante.

Ele tinha essa mania de olhar diretamente nos olhos enquanto falava, de acompanhar cada movimento dela… esse cara precisava ir embora logo.

Luna olhou para o relógio e deu um salto: passava das oito da manhã! Precisava passar na reserva e ir para o laboratório.

— Atrasada? — perguntou ele, percebendo sua agitação.

— Um pouco…

Nesse momento, o telefone dela começou a tocar. Luna saiu para atender.

— Oi, Ravi…

Do outro lado da linha, a voz dele soou aliviada e irritada:

— Luna! Finalmente! Estava tão preocupado… mandei inúmeras mensagens no seu chat!

— Desculpa… nem olhei o telefone. Estive ocupada… por que não ligou?

— Estava sem crédito. O Jairo falou que te ajudou a socorrer um cara… quem era?

Luna hesitou, olhando de canto para Henrique.

— Não tenho bem certeza… o nome dele é Henrique. Ele é segurança da Ambiental… e está aqui ainda.

— O quê?! Ficou doida?! Deixou um desconhecido dormir na sua casa… e ainda por cima do lado inimigo?!

— Não existe lado inimigo, Ravi… o cara é gente boa… estava machucado e precisava descansar…

— E você, gentilmente, ofereceu a sua cama!

— Sim, oras…

— E tem coragem de responder isso na cara dura?! Eu tô indo aí agora! Quero ver quem é esse sequelado…

— Calma, Ravi… não complica as coisas… ele vai nos ajudar com o dono da empresa. Disse que são amigos, que vai conseguir uma reunião…

Ravi bufou, incrédulo:

— Esse cara tá só te cantando… te enrolando pra te conquistar… se é que já não conquistou! Henry Locki Master nunca iria ouvir um segurança sobre receber ativistas…

— Mas, Ravi…

— Estou indo até aí e pronto!

Ele desligou antes que ela pudesse continuar protestando.

Quando se virou, Henrique estava parado atrás dela, com a postura séria. Havia penteado os cabelos e vestido um paletó elegante.

De fato, Ravi tinha razão… olhando assim, ele não parecia nem um pouco com um segurança. O terno era de grife… e a postura, impecável.

Luna abanou a cabeça, tentando afastar aqueles pensamentos.

— Já estou indo… ocupei muito do seu tempo e, pelo visto, causei algum desentendimento entre você e o seu namorado…

— O Ravi não é meu namorado… eu não tenho namorado…

Henrique soltou um meio sorriso e abaixou a cabeça.

— Ainda assim… já vou. Minha família deve estar preocupada…

Luna pensou imediatamente na aliança no dedo dele… a noiva deveria estar surtando… afinal, ele mesmo dissera que não tinha família.

— Obrigada por tudo, Luna. Não vou esquecer o que você fez.

Ele se aproximava enquanto falava, e Luna deu dois passos para trás, tentando manter uma distância segura… mas Henrique invadiu seu espaço em segundos, fez um pequeno carinho no rosto dela… e então se afastou, dando-lhe as costas.

— Vou conseguir a reunião, como prometi. Aguarde uma ligação minha.

— Mas… eu não tenho o seu número…

Henrique sorriu de canto, abrindo a porta:

— Eu tenho o seu. Tenha um bom dia…

E saiu, antes mesmo que Luna pudesse protestar. Sorte a dela, pois Ravi chegou alguns minutos depois. Ela ainda estava atônita… em que momento ele tinha pegado o número dela?

— Cadê o cara? — perguntou Ravi, já entrando sem cerimônia.

Luna suspirou:

— Ele já foi…

— Ah… ficou com medo, né? Safado…

— Ele nem sabia que você vinha… na verdade, não ficou… a família dele devia estar preocupada…

— Família?! É casado ainda por cima?

— Tem uma noiva… eu acho…

Ravi abriu os braços, indignado:

— Noiva?! E ainda assim ficou ciscando no terreno dos outros?!

Luna cruzou os braços, irritada:

— Ravi, chega! Minha casa não é terreno de ninguém, ok? Não rolou nada entre eu e esse desconhecido… e, se tivesse rolado, seria problema meu… e dele. Afinal, eu sou solteira, não sou?

Ravi a olhou de cima a baixo, acusador:

— Então, pelo visto… você ficou interessada, não ficou?

— Eu não disse isso…

Ele balançou a cabeça, decepcionado:

— Sinceramente… eu esperava mais de você, Luna…

Dito isso, saiu batendo a porta.

Luna desabou no sofá, frustrada. Ravi era seu amigo desde a infância, mas… às vezes… ele conseguia ser tão controlador… tão possessivo… que simplesmente a irritava.

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