Capítulo 5: Entre Mundos Distintos, Uma Alma Única

A sexta-feira chegou em Sorocaba com uma chuva fina e persistente, mas nem mesmo o tempo fechado conseguia abalar o entusiasmo de Anne. Enquanto o cheiro de terra molhada subia do asfalto, ela se preparava para o reencontro com Rael. Depois de uma semana de mensagens e ligações que pareciam encurtar oceanos, a expectativa de tê-lo ali, em sua cidade, em sua realidade, era quase insuportável.

Ela parou diante do espelho, seus olhos castanhos escuros refletindo a indecisão. Queria estar linda, mas sem parecer desesperada. Sua pele clara parecia mais vibrante, e os cabelos castanhos, com seu leve ondulado natural, caíam perfeitamente. Acabou optando por um vestido azul-marinho de tecido fluido, que abraçava sua silhueta sem ser apertado, complementado por um colar discreto que sua avó lhe dera. Enquanto se maquiava, um pensamento passou por sua mente: "Será que isso é 'demais' para uma estudante? Ele é um CEO." A antiga insegurança, resquício de uma época em que o dinheiro era uma preocupação constante em sua família, a visitou brevemente. Afinal, as aparências importavam no mundo dele, não é? Mas logo a afastou. Rael a aceitava como ela era, e era por isso que ele a procurava. Ela era Anne, e isso bastava.

Pontualmente às 20h, o interfone tocou. O coração de Anne saltou no peito. Era ele. Desceu as escadas do prédio com um sorriso que mal cabia em seu rosto, a cada degrau sentindo o magnetismo que a puxava para perto dele.

Rael a esperava na recepção, impecável em uma camisa social escura e calças bem cortadas. Seu cabelo liso e a barba por fazer acentuavam seus traços fortes, e seus olhos castanhos claros brilharam ao vê-la. O sorriso que ele abriu, o mesmo que havia povoado seus sonhos e se materializado nos encontros anteriores, a atingiu como um raio.

"Anne", ele disse, a voz rouca de admiração, e deu um passo à frente para abraçá-la. O abraço foi forte e reconfortante, a envolvendo por completo. O cheiro dele – uma mistura de perfume amadeirado e algo fresco, que ela já associava à segurança e ao desejo – inebriou seus sentidos. Ele a afastou um pouco para segurar seu rosto entre as mãos fortes. "Você está deslumbrante."

Anne corou, sentindo o calor das mãos dele. "Você também, Rael. É bom te ter de volta em Sorocaba."

"Bom te ter de novo perto de mim", ele corrigiu, o polegar acariciando suavemente sua bochecha. "Essa semana foi uma tortura." Ele segurou a mão dela e a guiou para fora do prédio, onde um carro executivo os aguardava.

O restaurante, escolhido por Rael, era um dos mais sofisticados de Sorocaba, conhecido pela culinária contemporânea e pela vista panorâmica da cidade. As luzes fracas, a música ambiente elegante e o burburinho discreto dos outros clientes criavam uma atmosfera de exclusividade. Anne sentiu um leve desconforto inicial com a pompa, mas o olhar caloroso de Rael a tranquilizou. Ele parecia perfeitamente à vontade naquele ambiente, mas seu foco era inteiramente nela.

Eles se sentaram, e a conversa fluiu naturalmente, como sempre. Rael a contou sobre os desafios da semana, uma negociação complicada que ele havia fechado em São Paulo, o estresse dos prazos. "É uma vida de constante pressão, Anne", ele suspirou, mas um brilho de paixão por seu trabalho ainda estava em seus olhos. "Às vezes, sinto que vivo em função de relatórios e teleconferências." Ele a olhou com uma intensidade particular. "É bom estar aqui com você, onde a única coisa que importa é a nossa conversa."

Anne sorriu, compreendendo. "Eu imagino. É um mundo bem diferente do meu, onde a maior pressão é entregar um projeto arquitetônico a tempo e com criatividade." Ela fez uma pausa, decidindo arriscar. "Minha família... bem, a gente nem sempre teve facilidade financeira. Meu pai teve um problema com a empresa dele alguns anos atrás, e a gente perdeu muito. Por isso, a faculdade é uma prioridade, preciso me formar e construir minha própria estabilidade. Eu venho de um lugar onde as coisas são mais simples, sabe? Sem jantares executivos e voos diários." Ela observou a reação dele, apreensiva.

Rael a ouviu com atenção, a expressão séria, mas sem julgamento. "Anne, isso não muda absolutamente nada. Pelo contrário. Admirável, na verdade. Mostra a sua força, a sua determinação. Eu construí o que tenho do zero também, a base da minha família não era de CEOs. Eu entendo o valor de cada conquista. E o fato de você se levantar, ir atrás dos seus sonhos, mesmo com as dificuldades... isso é o que realmente importa. Sua resiliência é linda." Ele apertou a mão dela por debaixo da mesa, um gesto de puro apoio e compreensão. "Além disso, você já demonstrou que não é uma pessoa comum. E isso me encanta."

Anne sentiu um alívio enorme. A aceitação dele era como um bálsamo. "É, eu não sou muito de seguir regras, às vezes", ela admitiu, um pequeno sorriso malicioso surgindo em seus lábios. "Sempre fui um pouco... digamos, 'estudante rebelde'. Questiono, busco o meu próprio caminho. Acho que é por isso que a arquitetura me fascina, porque é sobre romper barreiras, criar algo novo."

"Estudante rebelde? Gosto disso", Rael riu, os olhos dele brilhando de diversão. "É um contraste interessante com o meu mundo de regras e protocolos. Talvez seja exatamente o que eu preciso." Ele pegou a mão dela, e seus polegares se acariciaram suavemente. "Essa sua autenticidade, Anne, é uma das coisas que mais me atraiu em você desde o primeiro momento. Não é só o sonho, é você."

Enquanto a noite avançava e os pratos chegavam – sushis e tempuras elegantemente apresentados – a conversa deles se aprofundava. Eles falavam sobre medos, sobre as expectativas de suas famílias, sobre o que buscavam em um relacionamento. Anne percebeu que Rael, apesar de todo o sucesso e poder, carregava um desejo profundo por conexão e estabilidade. Ele não queria apenas uma companhia; ele ansiava por alguém que o entendesse, que fosse seu porto seguro.

"Minha vida é tão volátil por causa do trabalho", Rael confidenciou, os olhos castanhos claros fixos nos dela. "É difícil construir raízes. Mas desde que te conheci, sinto uma vontade de fincar âncoras. De ter um lugar, uma pessoa para voltar de verdade." Ele fez uma pausa, o olhar intenso. "Eu não quero que isso seja só um encontro casual, Anne. Eu sinto que é... algo mais."

Anne sentiu um calor se espalhar por seu peito. As palavras dele ecoavam seus próprios anseios. Ela sentia que, com ele, o "casamento" – não a cerimônia em si, mas a união profunda e duradoura – não era uma fantasia distante, mas uma possibilidade real e tangível.

A atração entre eles era inegável, e aumentava a cada minuto. Rael a olhava com uma intensidade que a fazia suspirar, e seus toques sutis – um roçar de mãos, um toque no ombro – enviavam arrepios por sua pele. Anne, por sua vez, encontrava-se cada vez mais à vontade para flertar, para rir alto com as piadas dele, para se inclinar em sua direção, absorvendo sua presença.

No entanto, um leve e súbito vislumbre de um novo elemento surgiu quando uma garçonete jovem e atraente se aproximou da mesa para retirar os pratos, demorando um pouco mais no atendimento de Rael, com um sorriso um pouco mais demorado direcionado a ele. Anne sentiu uma pontada quase imperceptível. Não era ciúme em sua forma mais tóxica, mas uma leve apreensão, um calor subindo por sua nuca. Ele era um CEO, bonito, solteiro... naturalmente, chamaria a atenção. Ela observou Rael. Ele sorriu educadamente para a garçonete, mas seus olhos voltaram para Anne quase que imediatamente, como se ele sequer tivesse notado a atenção extra. A pontada de possessividade se dissipou tão rápido quanto veio, substituída por um alívio e uma certeza de que ele estava focado nela.

"Você está tão linda esta noite, Anne", Rael sussurrou, a voz rouca, sem desviar o olhar dos olhos castanhos escuros dela. A garçonete já havia se afastado, e a atenção dele era inteiramente dela. "Eu... eu não paro de pensar no nosso beijo de ontem."

Anne sentiu o rosto corar. "Eu também não. Foi... mágico."

"Não, foi real", ele corrigiu, o polegar dele acariciando a pele clara de sua mão. "E eu quero mais dessa realidade."

Quando o jantar terminou, Rael fez questão de acompanhá-la até o seu apartamento. A chuva havia parado, e a noite estava fresca e estrelada em Sorocaba. A rua estava calma, iluminada apenas pelos postes. Ao chegarem à porta do prédio, o silêncio entre eles foi preenchido por uma tensão deliciosa.

Rael se virou para ela, suas mãos fortes segurando gentilmente seu rosto. Os olhos castanhos claros dele mergulharam nos dela, repletos de um desejo contido e de uma ternura profunda. "Anne... eu não sei como explicar isso. Mas estar com você é como... finalmente voltar para casa. É um sentimento que eu nunca tive antes. É a verdade do meu sonho."

Anne fechou os olhos por um instante, absorvendo as palavras. "Eu sinto o mesmo, Rael. É como se eu finalmente estivesse vivendo o que eu sempre sonhei."

Ele se inclinou, e o beijo que se seguiu foi mais profundo, mais intenso do que o primeiro. Era um beijo que prometia tudo, que selava a conexão de suas almas, que apagava qualquer dúvida sobre a "realidade de um sonho". Os lábios dele eram macios e experientes, e ela se entregou completamente, sentindo a língua dele explorar a sua com uma doçura apaixonada. As mãos dela se enroscaram em seus cabelos lisos, puxando-o para mais perto.

Quando o ar se fez necessário, eles se separaram ofegantes, os olhos brilhando na penumbra. Rael a abraçou forte, um abraço que a fez sentir protegida e amada. "Eu preciso ir. Amanhã cedo tenho um compromisso de trabalho aqui perto, mas à tarde, eu quero te ver de novo. Que tal um almoço?"

"Sim!", Anne respondeu, a voz embargada pela emoção e pelo desejo. "Qualquer hora, Rael. Eu te espero."

Ele a beijou mais uma vez, um selar suave e demorado nos lábios, antes de se afastar, sem quebrar o contato visual até que ela estivesse segura dentro do prédio.

Anne subiu para o apartamento flutuando, a mente e o corpo ainda vibrando com a intensidade do encontro. O beijo, a conversa, a aceitação de sua história e de seu lado "rebelde", a pequena pontada de ciúme que ele nem percebeu, mas que a fez sentir desejada... Tudo contribuía para a certeza de que Rael era, de fato, a realidade de seu sonho. Aquele homem complexo, CEO, viajado, com sua própria bagagem de vida, encaixava-se perfeitamente em seu mundo, em seu coração. E a promessa de um futuro, de um "casamento" de almas, parecia mais perto do que nunca. Ela adormeceu com o nome dele nos lábios, sonhando com o próximo encontro, com a próxima vez que a realidade superaria o sonho.

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