O sábado amanheceu com um sol generoso em Sorocaba, mas para Anne, a luz que preenchia seu quarto vinha de dentro. Acordou antes do despertador, uma energia vibrante a impulsionando para fora da cama. A noite anterior, com o reencontro no bar de jazz, ainda era uma névoa doce em sua memória. A voz de Rael, a forma como seus olhos claros a fixaram, a promessa de um encontro... Tudo parecia inacreditável, mas ao mesmo tempo, a coisa mais real que ela já havia vivido.
Enquanto se preparava para o café da manhã, Anne pegou o celular. Não havia mensagens novas, mas o número de Rael salvo em seus contatos era uma prova tangível. Não era um sonho, não era apenas um sinal. Ele era Israel Nery, um CEO em Sorocaba a trabalho, e ele a chamaria. Sua pele clara parecia irradiar um brilho novo, e seus cabelos castanhos com leves ondas caíam naturalmente sobre os ombros enquanto ela se movia pela cozinha.
"Bom dia, mundo!", ela murmurou para si mesma, um sorriso genuíno enfeitando seus lábios. A rotina de estudante parecia ter ficado em segundo plano; a única disciplina que importava hoje era a da paciência, esperando pelo convite de Rael. Ela tomou seu café da manhã lentamente, saboreando cada gole, a mente divagando sobre o que ele estaria fazendo agora, o que conversariam.
A mensagem de Rael chegou pouco antes do almoço, como prometido:
“Bom dia, Anne. Espero que tenha tido uma noite tão boa quanto a minha. O convite para o café ainda está de pé? Que tal por volta das três da tarde, naquela cafeteria charmosa perto da Praça do Rosário? Me avise. Rael.”
O coração de Anne deu um salto. Ela mal conseguiu digitar a resposta, os dedos tremendo levemente de pura excitação.
“Bom dia, Rael! Com certeza! Três da tarde é perfeito. Te vejo lá!”
Ela desligou o celular e soltou um suspiro longo e feliz. A cafeteria na Praça do Rosário era um de seus lugares favoritos em Sorocaba, com suas mesas na calçada e o cheiro de café fresco misturado ao aroma das flores da praça. Era o cenário perfeito para a "realidade de um sonho".
As horas que antecederam o encontro pareceram uma eternidade. Anne experimentou algumas roupas, decidindo-se por um vestido leve de algodão que realçava seus olhos castanhos escuros e combinava com a simplicidade elegante que ela queria transmitir. Ela não queria parecer que estava se esforçando demais, mas queria estar impecável para a materialização de seu homem dos sonhos. O cabelo foi cuidadosamente penteado, as ondas naturais realçadas, e uma maquiagem leve finalizou o visual.
Pontualmente às três da tarde, Anne chegou à cafeteria. O lugar já estava com algumas mesas ocupadas, o burburinho de vozes se misturando ao som suave de um jazz ambiente. Ela o avistou quase que imediatamente. Rael estava sentado em uma mesa na calçada, de costas para ela, mas a silhueta, os cabelos lisos e a forma como ele segurava uma xícara de café, era inconfundível. Havia uma elegância natural nele, mesmo em um ambiente descontraído.
Um frio na barriga, misturado com a euforia, a fez hesitar por um segundo. E se ele fosse diferente agora, à luz do dia, longe da penumbra do bar? E se a magia da noite anterior fosse apenas um truque da iluminação ou da sua própria imaginação? Ela respirou fundo, afastando as dúvidas. Este era o sinal.
Ela se aproximou, e quando estava a poucos passos, Rael se virou, como se sentisse sua presença. Os olhos castanhos claros dele se iluminaram em um sorriso largo e genuíno, o mesmo sorriso que havia povoado seus sonhos. Ele se levantou, vindo ao seu encontro com a mesma mão forte estendida que a havia amparado.
"Anne! Que bom que veio", ele disse, a voz suave e acolhedora, dissipando qualquer resquício de nervosismo nela. "Fico feliz em te ver."
"Olá, Rael!", ela respondeu, sentindo o calor do aperto de mão dele por um segundo a mais do que o necessário. "Também fico feliz em te ver. Este lugar é lindo."
Eles se sentaram. O garçom se aproximou, e Rael, com um gesto cavalheiro, pediu um café para ele e um capuccino para Anne, lembrando-se da preferência dela da noite anterior. Anne sentiu uma pequena pontada de prazer por ele ter se lembrado de um detalhe tão pequeno.
"Então, aqui estamos nós", Rael começou, apoiando os cotovelos na mesa, os olhos fixos nos dela. "O primeiro encontro oficial fora do reino das coincidências bizarras." Um riso suave escapou dele.
Anne riu junto. "Pois é. É... estranho, não é? No bom sentido."
"No melhor dos sentidos", ele concordou. "Eu passei a manhã pensando no que você disse sobre o sonho. E no que eu senti. Não consigo tirar da cabeça. Como se a gente já se conhecesse de algum lugar, sabe?"
Ela assentiu, a pele clara corando levemente. "Exatamente! É exatamente essa a sensação. Eu tive um sonho tão vívido com você, e depois te encontrei no cartório, e agora aqui... É surreal." Ela contou um pouco mais sobre os detalhes do sonho, a familiaridade do olhar dele, o conforto da presença. Não havia vergonha em suas palavras, apenas a pura convicção de que aquilo era algo grandioso.
Rael ouvia com uma atenção profunda, seus olhos castanhos claros refletindo a intensidade da história dela. Quando ela terminou, ele fez uma pausa, respirando fundo.
"É... impressionante. Eu nunca fui muito de sonhar assim, ou de dar atenção a pressentimentos. Minha vida é bem... lógica, você sabe. Sou CEO de uma empresa de tecnologia, estou em Sorocaba para supervisionar um projeto de expansão por alguns meses." Ele deu de ombros. "Minha cabeça está sempre em números, estratégias, dados. Mas depois daquele dia no táxi, e principalmente ontem... É como se uma outra parte de mim tivesse despertado."
"Uma parte que acredita no destino?", Anne brincou, sentindo-se mais à vontade com a naturalidade dele.
Ele sorriu, um brilho divertido nos olhos. "Talvez uma parte que está começando a considerar a possibilidade. Afinal, não é todo dia que a gente esbarra com alguém que parece ter saído de um sonho. E você é estudante, certo? De quê?"
Anne relaxou ainda mais. "Sim, sou estudante de Arquitetura aqui na PUC. Estou no último ano. É bem diferente do seu mundo de tecnologia e CEOs, né?" Ela fez um gesto amplo com a mão, como quem abrange universos distintos.
"Diferente, mas talvez não tanto quanto você pensa", Rael refletiu, pegando sua xícara de café. "Arquitetura é sobre criar, projetar, transformar espaços. Minha empresa, no fundo, também faz isso. Construímos soluções, pontes entre problemas e respostas. A gente só usa ferramentas diferentes." Ele a olhava com curiosidade genuína, buscando as conexões. "E o que te atraiu para a arquitetura?"
Anne se animou. "Ah, eu adoro a ideia de ver algo que você imaginou no papel se tornar real. O processo criativo, pensar em como as pessoas vão interagir com o espaço, a estética, a funcionalidade. É como resolver um quebra-cabeça gigante e lindo."
"Eu entendo perfeitamente", Rael concordou, e por um momento, a conversa fluiu para além do "sinal". Eles falaram sobre a importância da criatividade, os desafios de transformar ideias em realidade, e até mesmo sobre o estresse dos prazos, algo que Anne, como estudante de arquitetura, compreendia bem.
"Então, você está em Sorocaba por quanto tempo?", Anne perguntou, a curiosidade sobre a estadia dele superando a timidez.
"Bem, o projeto é de alguns meses, talvez até o fim do ano. Mas posso estender, se tudo correr bem", ele respondeu, e o olhar que ele deu a ela quando disse "se tudo correr bem" parecia sugerir que o sucesso do projeto não era a única variável em questão.
O capuccino de Anne chegou, cremoso e com um aroma delicioso. Ela deu um gole, sentindo o calor reconfortante. Rael, por sua vez, bebia seu café puro, os olhos atentos a cada reação dela. O sol da tarde filtrava-se pelas folhas das árvores na praça, criando padrões de luz e sombra nas mesas. O barulho dos carros e o burburinho das pessoas passantes no centro de Sorocaba, antes imperceptíveis, agora formavam uma trilha sonora suave para a conversa.
Eles discutiram seus filmes favoritos, livros que os marcaram, e até mesmo suas opiniões sobre a melhor pamonha da cidade. Rael se mostrou surpreendentemente divertido e leve, com uma inteligência rápida que a fazia rir. Ele não era apenas o CEO focado em negócios; havia uma profundidade e uma curiosidade sobre o mundo que a cativavam. E Anne, por sua vez, sentiu-se completamente à vontade para ser ela mesma, compartilhando suas paixões e anseios. A conversa fluía sem esforço, como se eles tivessem um dicionário interno para as almas um do outro.
"Sabe", Rael disse em um determinado momento, apoiando o queixo na mão e a observando com um sorriso pensativo. "Ainda estou tentando processar tudo isso. Meu cérebro de CEO quer uma planilha, um plano de negócios para essa... 'coisa do destino'. Mas meu lado humano só quer saber mais sobre você."
Anne sentiu um arrepio gostoso. "E meu lado estudante está tentando encaixar a matemática do destino na lógica do universo", ela brincou de volta, percebendo que a leveza dele era um convite para a intimidade. "Mas a verdade é que... desde o sonho, e agora com você aqui, é como se algo que estava faltando de repente se encaixou."
Ele estendeu a mão novamente, desta vez por cima da mesa, e tocou gentilmente a dela. "Eu entendo. É como se eu estivesse procurando por algo que nem sabia o que era, e então... Você apareceu, primeiro no táxi, depois no bar, e agora aqui. É uma sensação estranha e boa ao mesmo tempo. Como se eu tivesse finalmente encontrado o ponto de equilíbrio."
O toque durou apenas alguns segundos, mas a eletricidade entre eles foi inegável. Era um toque que prometia mais, que confirmava a ternura do sonho.
Quando o sol começou a se inclinar no horizonte, tingindo o céu de tons alaranjados e rosados sobre os telhados de Sorocaba, eles perceberam que haviam passado horas ali. A cafeteria estava mais vazia agora, a música um pouco mais alta.
"Já está escurecendo", Anne observou, um toque de melancolia na voz, não querendo que o momento terminasse.
Rael apertou suavemente a mão dela. "Pois é. Mas não precisa terminar aqui, a menos que você queira. Que tal a gente jantar? Ou se você tiver compromissos, podemos marcar de novo em breve."
Anne não hesitou. "Eu adoraria jantar, Rael. Não tenho compromissos."
O sorriso dele se alargou, e a satisfação em seus olhos era evidente. "Ótimo. Conheço um restaurante japonês maravilhoso aqui perto. O que você acha?"
"Perfeito", Anne concordou, sentindo a empolgação de um segundo encontro espontâneo e a promessa de que a "realidade de um sonho" estava apenas começando. Aquele sábado em Sorocaba, que começou com a espera ansiosa, agora se estendia para uma noite que parecia ser o próximo capítulo de algo verdadeiramente mágico.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 23
Comments