A segunda-feira amanheceu nublada, como se o próprio céu anunciasse a tempestade que estava por vir.
O site da Revista Foco & Poder, conhecido por escândalos seletivos e manchetes sensacionalistas, lançou a bomba logo às 6h da manhã.
“A Noiva do Patriarca: de florista pobre a manipuladora emocional — os segredos sombrios de Helena Andrade.”
A matéria era extensa, recheada de imagens do passado, frases distorcidas e até mesmo o registro médico da doação de rim que Helena fizera. Contava, sem pudores, como ela havia vendido o órgão no mercado negro para salvar um “namorado misterioso” — que, ao final, teria desaparecido.
Mas a cereja do bolo estava nos últimos parágrafos:
“Fontes próximas confirmam que o homem em questão era ninguém menos que Caio Vasconcellos, sobrinho do patriarca Enzo. O relacionamento teria começado como parte de uma aposta cruel feita por Caio e seus amigos — a mesma aposta que resultou na destruição emocional de Helena.”
As redes sociais pegaram fogo.
Os grupos corporativos fervilharam.
A imprensa convencional correu atrás de fontes.
E a elite sorriu em silêncio, esperando o desfecho previsível: o afastamento de Helena, o cancelamento do noivado e o fim da ilusão romântica criada por Enzo.
Na cobertura de Enzo, o caos já estava instalado.
— A imprensa quer um posicionamento oficial — informou Davi, assessor direto. — Três jornalistas estão na portaria. A sede da empresa está cheia de fotógrafos. Funcionários estão comentando nos corredores. Há quem diga que ela usou você pra se vingar do Caio…
Enzo fechou os olhos por um segundo. Depois, com a voz firme:
— Onde está ela?
— Na biblioteca.
Helena estava diante da janela quando ele entrou. Usava uma calça de alfaiataria clara, camisa preta simples e estava descalça. As mãos seguravam um tablet, onde lia os comentários que se multiplicavam em tempo real.
— Já vi todas as versões — disse ela, sem se virar. — Desde a sofredora aoportunista até a vilã calculista. A criatividade das pessoas é ilimitada.
Enzo se aproximou devagar.
— Eu sinto muito.
— Não sinta. — Ela virou-se para ele. Seus olhos estavam serenos. — Isso ia acontecer em algum momento. Eles só anteciparam o inevitável.
— Helena, você não precisa se expor. Posso redigir um comunicado. Colocar os advogados no caso. Você pode ficar em silêncio e—
— Não.
A palavra cortou o ar.
— Eu não vou me esconder, Enzo. É isso que eles querem. Que eu me encolha. Que chore. Que peça desculpas por sobreviver.
— E o que vai fazer?
Ela ergueu o queixo.
— Vou dar uma entrevista. Para o jornalista certo. E contar a verdade. A minha verdade. Com as minhas palavras.
Enzo hesitou. Ela percebia o medo dele — o medo de que a exposição a machucasse ainda mais.
— Confie em mim — disse ela, se aproximando. — Você não me escolheu por ser fraca. Então me deixe ser forte agora.
Enzo a encarou em silêncio. Depois assentiu, com o maxilar tenso.
— Escolha o jornalista.
— Eu já escolhi.
Às 18h daquele mesmo dia, a entrevista ao vivo começou.
A escolhida foi Luísa Prado, jornalista séria, respeitada e implacável com quem mente — mas admirada por seu compromisso com a verdade.
Helena estava impecável. Usava um conjunto sóbrio, cabelo preso em um coque elegante e um olhar firme que transmitia tudo, menos vergonha.
Luísa começou direta:
— Helena, o Brasil está em choque com a matéria divulgada hoje. A pergunta que todos fazem é: é verdade?
Helena inspirou fundo. E respondeu:
— Sim. Eu fui enganada. Eu acreditei que amava alguém e fiz o que achei certo para salvá-lo. Trabalhei em cinco empregos. Vendi tudo que tinha. E, sim… doei meu rim, desesperadamente, acreditando que estava salvando o amor da minha vida.
Luísa não escondeu a surpresa pela franqueza.
— E Caio Vasconcellos?
— Me usou. Fui o prêmio de uma aposta nojenta. Mas sobrevivi. Sofri. Fui enterrada viva pela vergonha, pela humilhação. Mas estou aqui. Inteira. E nunca mais deixarei que ninguém fale por mim.
— E sobre seu noivado com Enzo Vasconcellos?
Helena olhou diretamente para a câmera.
— Não preciso que ninguém me proteja. Nem que me aceitem. Enzo me respeitou desde o início. Nunca mentiu. Nunca me escondeu. E, por isso, ele é o único homem digno de caminhar ao meu lado.
Luísa ficou em silêncio por um instante, antes de murmurar:
— Isso foi… poderoso.
Helena apenas assentiu.
— Não quero piedade. Quero que toda mulher que já foi usada, manipulada ou calada saiba que ela pode levantar. E que ninguém define o seu valor — nem a família que você tem, nem o dinheiro que você não tem. E muito menos… um homem covarde.
A entrevista foi assistida por mais de dez milhões de pessoas nas primeiras 3 horas.
Comentários começaram a mudar.
A hashtag #HelenaResiste entrou para os assuntos mais comentados.
Naquela noite, Enzo estava no terraço da cobertura quando ela chegou. Estava sóbrio, quieto, admirando as luzes da cidade.
Ela se aproximou devagar.
— Você assistiu?
— Duas vezes.
— E?
Ele virou-se. A encarou. Depois deu um passo à frente.
— Você foi brilhante. Verdadeira. Imparável.
— Mesmo com meu passado sujo?
— Ele não é sujo. É corajoso. Você não é feita de manchas. É feita de cicatrizes. E isso… te torna indestrutível.
Helena sentiu a garganta apertar.
— Eu achei que ia desabar hoje.
— Mas você construiu uma nova fundação com os escombros. Helena… você não precisa do meu sobrenome.
— Eu sei.
— Mas quero te dar mesmo assim.
Ela sorriu, pela primeira vez sem defesa.
— Então me beija, Vasconcellos. Só por orgulho mesmo.
E ele obedeceu.
A entrevista ainda ecoava em cada canto do país quando o dia seguinte começou.
Revistas, colunistas e até âncoras de telejornais se dobraram à força do que viram.
“Ela não chorou. Não pediu desculpas. Ela se ergueu.” — disse um comentarista político no Twitter.
“Helena Andrade redefiniu o que é cair e levantar.” — cravou uma influenciadora feminista.
“A elite tremeu. Pela primeira vez, não foi ela quem escreveu a história.” — publicou um blog de opinião.
Mas dentro da Vasconcellos Holdings, o cenário era outro.
Às 10h da manhã, o elevador se abriu no último andar da empresa.
Helena saiu com passos firmes, trajando um blazer bege claro e calça escura. O cabelo solto, maquiagem leve — uma elegância discreta, mas irrefutável.
Ela sabia que todos a observavam.
As assistentes murmuravam.
Executivos a encaravam com mistura de julgamento e fascínio.
Alguns desviavam o olhar. Outros, mais ousados, cochichavam.
Mas ela não baixou a cabeça nem por um segundo.
No fim do corredor, a sala de reuniões aguardava cheia. Clarisse estava sentada à cabeceira — Enzo ainda não havia chegado. E Helena sabia: era de propósito.
Um teste.
— A convidada ilustre chegou — disse Clarisse, com um sorriso mordaz. — Imaginei que depois de expor seu melodrama nacionalmente, tiraria um dia de folga.
— Não me dou ao luxo de descansar quando há guerra — respondeu Helena, sentando-se à mesa.
Todos ficaram em silêncio.
— Vejo que aprendeu bem a usar palavras — murmurou Gustavo, do outro lado. — Mas discursos não sustentam uma empresa. Ou um nome.
Helena cruzou as pernas com calma.
— Nomes não sustentam caráter. E foi por isso que o de vocês se manchou tanto nos últimos anos.
— Como ousa? — disparou Clarisse.
— Como eu ouso? — Helena riu, sem humor. — Ousadia foi o que me trouxe até aqui. E a única coisa que me assusta é conviver com gente que acredita que dinheiro e sobrenome justificam tudo.
As portas se abriram com força.
Enzo entrou. Terno escuro, expressão fechada, olhar fatal.
— Bom dia — disse, com a voz firme. — Espero que todos estejam confortáveis. Porque a partir de agora, quem se incomodar com a presença da minha noiva… está livre para pedir demissão. A porta continua no mesmo lugar desde que assumi o cargo.
Um silêncio sepulcral se instalou.
— Essa é a nova política da empresa? — arriscou Gustavo.
— Não. Essa é a nova era. E ela não tem espaço para misoginia, arrogância ou sabotadores disfarçados de família. — Enzo se virou para Helena. — Vamos?
Ela se levantou. Ergueu o queixo.
E antes de sair, se virou uma última vez:
— Obrigada pelo café amargo. Me ensinou a não adoçar nenhuma verdade.
Horas depois, na cobertura, Helena estava no terraço observando a cidade quando Enzo apareceu, trazendo duas taças de vinho.
— Você foi mais forte do que eu imaginava — disse ele, entregando uma taça.
— Eu não tenho escolha.
— Tem, sim. A maioria teria escolhido desaparecer. Você escolheu enfrentar.
Ela o olhou, séria.
— Eu só sou assim porque ninguém nunca me protegeu, Enzo. Tive que ser minha própria fortaleza. E agora... às vezes me pego com medo de confiar.
Ele se aproximou. Seu tom era baixo, quase íntimo.
— Você não precisa confiar em mim hoje. Nem amanhã. Só quero que saiba que… se um dia decidir abaixar as armas, eu estarei aqui. Não para dominá-la. Mas para caminhar ao lado.
Helena sentiu o peito apertar. Aquela não era uma declaração romântica. Era uma oferta de liberdade com afeto.
— Está se tornando perigoso para mim gostar de você assim.
— Então vamos ser perigosos juntos.
Ela sorriu, encostando a testa na dele.
— Obrigada por ficar.
— Obrigado por não fugir.
E ali, naquela troca silenciosa, eles deixaram de ser apenas aliados.
Começaram a ser… um.
Do outro lado da cidade, Clarisse Vasconcellos chutava uma cadeira contra a parede do escritório.
— Maldita. Aquela mulher virou uma mártir! — gritou.
Gustavo, sentado ao telefone, apenas resmungou:
— A imprensa agora a quer como colunista, sabia? Uma marca de luxo ligou querendo que ela seja embaixadora. Está se tornando um símbolo.
Clarisse bufou.
— Então a gente precisa encontrar outro ângulo. Outra brecha. Ela não pode sair ilesa!
Foi quando Caio apareceu na porta. Olhos vermelhos, voz baixa.
— Eu tenho uma.
Os dois o encararam.
— Posso fazer ela cair. Mas… vou precisar de liberdade pra agir como eu quiser.
Clarisse sorriu pela primeira vez naquele dia.
— Dê o golpe final, Caio.
E faça com que ela se arrependa por ter se levantado.
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Atualizado até capítulo 56
Comments
Zilma sena Santos
autora por favor não deixe essas corjas ganharem nenhuma tramóia que fizerem kkk Helena já sofreu muito, tá Dando a volta por cima
2025-06-30
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bete 💗
quanta prepotência
o tombo será grande ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-07-02
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Dulce Gama
tá lindo cada capítulo esta arrasando 👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁🎁♥️♥️♥️♥️♥️🌟🌟🌟🌟🌟
2025-06-30
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