O salão da Fundação Vasconcellos pulsava de luxo e ostentação. Era o evento beneficente mais esperado do ano — com presença garantida de políticos, empresários, socialites e jornalistas da alta sociedade. As câmeras piscavam a cada entrada, enquanto os garçons circulavam com bandejas reluzentes de champanhe.
Mas o que ninguém sabia — o que nem os mais bem-informados suspeitavam — era que aquela noite mudaria tudo.
E no centro da mudança, caminhando com passos firmes entre os convidados, estava Helena Andrade.
Vestida em um longo de cetim azul escuro, de alças finas e corte justo, ela parecia feita sob medida para o cenário — embora a maioria ali jamais tivesse ouvido falar de seu nome. Os cabelos estavam presos num coque elegante, e seu batom vermelho carregava mais firmeza do que provocação.
Ela atravessava o salão com o porte de quem não devia nada a ninguém. E, ao seu lado, Enzo Vasconcellos — terno preto impecável, barba bem aparada, olhar afiado e postura que exalava controle.
Enzo era respeitado, mas nunca compreendido. Aos trinta e poucos anos, assumira o comando da família Vasconcellos com pulso firme e sem herdar o cinismo dos mais velhos. Tinha visão, estratégia e… segredos.
Segredos como o que estava prestes a revelar.
Horas antes, no escritório com vista para a cidade, Helena terminava de ajustar o brinco quando ouviu a voz firme atrás de si:
— Nervosa?
Ela se virou devagar. Ele estava encostado na porta, observando-a.
— Por que estaria? Só vamos chocar metade da elite brasileira — disse ela, com um sorriso sarcástico.
— A outra metade vai tentar nos destruir — completou ele, se aproximando. — Está preparada?
Helena o encarou de frente, sem baixar o olhar.
— Eu morri no dia em que Caio me traiu. O que você me deu… não é apenas um novo nome. É uma nova vida.
Enzo assentiu. Havia respeito no olhar dele. E algo mais — uma faísca que crescia a cada encontro, cada silêncio dividido entre os dois.
— Então vamos recomeçar direito — disse ele. — Como iguais.
Ela estendeu a mão.
— Como parceiros.
Os dedos se tocaram por um instante. Foi o bastante para que algo invisível passasse entre eles.
Quando subiram ao palco do salão principal, o ambiente se calou. Era raro ver Enzo Vasconcellos em público. E mais raro ainda vê-lo com uma mulher ao lado. Mas ali estava ele — com Helena de braço dado, os dois como um casal que ninguém jamais ousaria imaginar.
O mestre de cerimônias ajustou o microfone. Todos aguardavam por um discurso técnico, frio, empresarial.
Mas Enzo surpreendeu.
— Boa noite — disse, com a voz grave e controlada. — Hoje não venho aqui apenas como presidente da Fundação Vasconcellos. Venho como homem. E como homem, quero compartilhar com vocês algo pessoal.
Os flashes dispararam.
Helena permaneceu firme, os olhos voltados para o público, o queixo erguido.
— É com honra que anuncio meu noivado com esta mulher — ele passou o braço pela cintura dela, num gesto sutil mas carregado de presença — Helena Andrade.
As palavras reverberaram como trovões.
Houve um momento de paralisia.
Depois, um burburinho frenético.
Os jornalistas se entreolhavam, anotavam com desespero. Algumas socialites bufaram. Um grupo de investidores sussurrou, tentando lembrar de onde conheciam o nome “Helena Andrade”. Outros apenas encaravam o casal, surpresos com a ousadia.
Mas ninguém estava mais estarrecido do que Caio Vasconcellos, parado do outro lado do salão com uma taça na mão que quase caiu ao chão.
Caio reconheceu o rosto dela antes mesmo de ouvir o nome.
Mas foi ao ouvir “noiva” e “Enzo” na mesma frase que sentiu o chão abrir sob seus pés.
— Não... — sussurrou, engasgado com o próprio vinho. — Isso é algum tipo de piada?
A mulher que ele usou, descartou e zombou… agora era a noiva do seu tio. Do homem que ele mais temia e queria superar.
A mesma mulher que ele acreditava destruída, humilhada, esquecida.
Ali. Diante de todos. Intocável.
E ao lado do único homem que podia tirá-lo da linha de sucessão em um estalar de dedos.
— Como... como isso aconteceu? — ele balbuciou.
O sangue fervia em seu rosto. As mãos tremiam.
E, pior do que tudo, era vê-la sorrindo.
Não um sorriso de vingança.
Mas um sorriso de quem não o temia mais.
Depois do anúncio, enquanto os convidados ainda processavam o escândalo, Helena e Enzo se retiraram discretamente para o jardim do terraço do salão.
O ar estava fresco. A cidade brilhava abaixo.
— Eles vão tentar destruir você — disse Enzo, com tranquilidade. — A imprensa. A família. E principalmente... Caio.
— Deixe que tentem — respondeu ela, virando-se para encará-lo. — Eu já sobrevivi ao pior.
Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles.
— Você não tem medo de mim?
— Não. Você nunca mentiu para mim.
Enzo a observou por longos segundos. Então tirou do bolso um pequeno anel de diamante, delicado, discreto. Colocou-o no dedo dela com um cuidado quase reverente.
— Este é apenas o começo.
Helena sorriu.
— Ótimo. Eu adoro começar do zero.
De volta ao salão principal, o impacto do anúncio ainda reverberava como uma nota musical tensa e inacabada. A cada passo que Helena dava, acompanhada por Enzo, os olhares se desviavam, as conversas sussurradas se multiplicavam e os sorrisos educados pareciam prestes a derreter.
Ela sentia o peso do escândalo sobre os ombros, mas não fraquejava.
Era o momento de mostrar que havia renascido.
Enzo mantinha-se ao lado dela com firmeza. Seu toque em suas costas era sutil, mas protetor. Seu olhar varria o salão com precisão. Era como se dissesse ao mundo: toquem nela e tocam em mim.
— Estão em choque — murmurou ele, com a voz baixa, apenas para ela.
— Eu também estaria — respondeu Helena, erguendo a taça de champanhe e fingindo um brinde para os curiosos.
A primeira a se aproximar foi Vera Vasconcellos, tia de Enzo por parte de pai — e uma das matriarcas mais fofoqueiras da elite. Trazia um sorriso congelado no rosto e uma joia no pescoço que valia mais que a pensão onde Helena havia morado.
— Enzo, querido… que surpresa maravilhosa — disse ela, olhando para Helena como quem observa uma mancha num vestido branco. — E… Helena, não é? De onde mesmo nos conhecemos?
— Talvez da página de escândalos da sua revista favorita — disse Helena, com elegância letal. — Mas garanto que agora vai me ver com mais frequência… nas colunas de noivas.
Vera engoliu em seco, desconcertada. Enzo disfarçou o sorriso.
— Precisamos ir cumprimentar outros convidados, Vera — ele disse. — Mas adorei sua... recepção calorosa.
Eles se afastaram, deixando a socialite perplexa e quase ofendida — mas silenciosa. Afinal, ninguém ousava bater de frente com Enzo publicamente.
Mas então veio ele.
Caio.
O homem que um dia Helena amou.
O mesmo que a usou como isca de uma aposta suja.
E agora estava parado ali, no meio do caminho deles, de terno impecável e olhos vermelhos, como se tivesse bebido o orgulho.
— Enzo — cumprimentou ele, com a mandíbula tensa.
— Caio — respondeu Enzo, com frieza.
Helena sentiu os olhos do ex-namorado percorrerem seu corpo inteiro. Mas ao contrário do passado, agora ela não tremia. Era ele quem parecia vacilar.
— Então é verdade — disse Caio, tentando sorrir. — Vocês vão mesmo se casar?
— Sim — respondeu Helena, antes que Enzo abrisse a boca. — E dessa vez… sem mentiras.
O golpe foi direto. E doeu. Ela viu o vacilo nos olhos dele.
— Eu não fazia ideia que você… — ele começou, mas parou. — Onde esteve esse tempo todo?
— Longe do inferno — respondeu ela, ainda com o sorriso calmo.
— Eu procurei você — disse ele, quase sussurrando. — Eu… eu me arrependi.
Enzo interrompeu, seco:
— Arrependimento é um luxo que vem tarde demais. Especialmente para quem nunca soube o valor da verdade.
Caio olhou para o tio com ódio contido.
— Isso é sobre vingança, Enzo?
— Não. Isso é sobre justiça. Algo que você nunca aprendeu a respeitar.
Helena virou-se para Caio com a cabeça erguida.
— Você me destruiu achando que eu ia desaparecer. Mas eu voltei. E agora estou exatamente onde deveria estar: ao lado de alguém que me enxerga. E, mais importante… acima de você.
Ela passou por ele sem olhar para trás.
Caio ficou parado, engolindo a própria impotência.
Naquele momento, ele entendeu: perdeu o jogo.
E a mulher que um dia foi peão… agora era a rainha no tabuleiro do seu maior adversário.
Mais tarde, já na cobertura de Enzo, com os saltos nas mãos e os ombros finalmente livres, Helena servia-se de uma taça de vinho tinto. Enzo observava-a do outro lado da sala, com um olhar mais suave do que o habitual.
— O que foi? — ela perguntou, percebendo.
— Você foi perfeita.
Ela sorriu.
— Você também. Principalmente quando quase partiu o Caio ao meio com uma frase.
Ele se aproximou, devagar. Pousou a taça na mesa de vidro e parou à frente dela.
— Hoje você enfrentou o mundo, Helena. E venceu.
Ela o olhou nos olhos, sentindo o coração bater de uma forma estranha. Intensa. Nova.
— Eu só estou começando, Enzo.
Ele sorriu de canto.
— É isso que me fascina em você.
Por um momento, o ar entre eles ficou denso. Cheio de coisas não ditas. Havia aliança. Havia tensão. E havia desejo, ainda velado, mas crescendo a cada encontro de olhares, a cada aliança selada diante do mundo.
Ela se afastou, primeiro. Mas deixou uma promessa no ar:
— Boa noite, noivo.
Ele sorriu mais largo.
— Boa noite, futura Sra. Vasconcellos.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 56
Comments
Zilma sena Santos
aí vem coisa, vejamos os próximos capítulos kkk
2025-06-30
0
bete 💗
adorandooooo ❤️❤️❤️❤️❤️
2025-07-01
0
mariinha
as cartas foram lançadas
2025-06-29
0