Capítulo 2 – A Proposta Mais Inesperada

O céu da madrugada ainda era um manto escuro quando Helena desceu do ônibus em uma cidade desconhecida. O rosto, marcado pelo cansaço, mal escondia o que restava de sua alma: um amontoado de cacos.

Ela não tinha destino.

Apenas o instinto de fugir.

Fugir de Caio. Fugir do hospital. Fugir da mulher que um dia foi.

Sem celular, sem documentos verdadeiros, sem o dinheiro que havia deixado cair no corredor do hospital… Helena simplesmente sumiu. Escolheu a primeira cidade que apareceu na placa rodoviária e começou do zero. Assumiu o nome da avó falecida: Estela. Não por coragem, mas por necessidade.

Conseguiu um quarto minúsculo no fundo de uma pensão, passou dias procurando trabalho, até conseguir uma vaga simples numa floricultura de bairro. A vida era dura, simples, mas silenciosa. Pela primeira vez em meses, ninguém olhava para ela com pena. Ninguém esperava nada. E isso era libertador.

Mas a dor ainda latejava. À noite, sozinha no colchão fino, ela revivia aquela tarde no hospital como se fosse um pesadelo que não largava sua pele. As vozes de Caio e dos amigos dele ecoavam em sua mente como ecos perversos. “Pobrezinha”, diziam. “Brincadeira”. “Uma aposta.”

Ela havia dado tudo. Literalmente.

E agora… era ninguém.

Ou pelo menos, era o que pensava — até a manhã em que foi chamada para fazer uma entrega fora da rotina.

O pedido havia sido feito com urgência: uma caixa de rosas brancas, frescas, envolvidas em papel de seda. O cliente? Um nome grande. Importante. Um homem misterioso, reservado e… extremamente rico.

O motoboy da floricultura não apareceu. A dona, aflita, insistiu para que Helena entregasse o arranjo.

— É um cliente novo. Exigente. Por favor, Estela, é só deixar na recepção.

Helena hesitou. Não gostava de sair do anonimato. Mas algo dentro dela — talvez o sussurro de uma mulher que começava a querer se levantar — a empurrou a dizer "sim".

Vestiu o uniforme, pegou a caixa de flores e seguiu as instruções até um dos edifícios mais luxuosos do centro financeiro. O saguão era tão brilhante que ela se via refletida no chão. O contraste entre ela e aquele mundo era gritante, e por isso mesmo ela manteve o olhar baixo.

Ao dizer o nome do destinatário — Enzo Vasconcellos — os olhos da recepcionista se arregalaram. Um segurança surgiu em segundos. Mas, ao invés de barrá-la, a escoltou até um elevador exclusivo.

— O senhor Vasconcellos deseja recebê-la pessoalmente — disse o segurança, sem dar margem a perguntas.

Helena engoliu em seco.

O sobrenome. Vasconcellos.

Seria… da família de Caio?

O coração bateu errado, mas ela não recuou. Quando as portas do elevador se abriram, foi como atravessar um limiar. O escritório era silencioso, decorado com madeira escura, mármore e obras de arte de valor inestimável. Havia uma aura de poder ali. Não de ostentação… mas de domínio.

— Pode entrar — disse uma assistente, abrindo uma porta dupla à sua frente.

Helena entrou.

Ele estava de costas, observando a cidade através da imensa janela panorâmica. Alto, ombros largos, postura imperturbável. Os cabelos escuros mesclavam-se com fios prateados nas têmporas. Mesmo imóvel, era impossível não sentir a presença dele ocupar todo o ambiente.

— Pode deixar as flores sobre a mesa — disse ele, sem virar-se.

Helena obedeceu em silêncio, mas antes que pudesse se afastar, a voz dele soou novamente.

— Eu preferia que tivesse usado o seu verdadeiro nome.

Ela congelou.

Virou-se devagar. E então o viu.

Enzo Vasconcellos.

Ela o reconheceu de fotos, das poucas vezes que Caio o mencionou — sempre com medo, reverência. O homem era o patriarca da família. O verdadeiro dono do império. Respeitado por muitos, temido por todos.

— Helena Andrade — disse ele, com firmeza. — Sumiu por bastante tempo.

Ela sentiu a raiva pulsar.

— Está me seguindo?

— Acompanhando — corrigiu ele. — Desde o momento em que saiu daquele hospital.

Helena franziu a testa, o corpo em alerta.

— Por quê?

Ele deu dois passos à frente. Seus olhos, escuros e precisos, estavam cheios de algo que ela não esperava: admiração.

— Porque você sobreviveu à pior versão do meu sobrinho. E porque fez algo que nenhuma mulher que conheço faria: deu tudo de si, inclusive um órgão, por amor. Por alguém que não merecia. Isso me diz que você é muito mais forte do que parece. E mais leal do que qualquer um da minha família.

Helena tentou manter a postura, mas sentia a raiva subir.

— Vai me oferecer um emprego? Quer me dar uma esmola? Me transformar em mais uma peça no tabuleiro de vocês?

— Não — ele respondeu, firme. — Quero que se case comigo.

O silêncio explodiu como uma bomba no ar.

Helena piscou, como se não tivesse ouvido corretamente.

— O quê?

— Casamento. Comigo. Formal, legal, real. Você será a nova Sra. Vasconcellos.

Ela riu. Um riso seco, incrédulo.

— Isso é uma piada?

— Não costumo brincar com nada, Helena — disse Enzo. — Muito menos com casamento.

Ela recuou um passo, atônita.

— Por quê?

Ele caminhou até a mesa, pegou um copo d’água, bebeu lentamente antes de responder.

— Porque estou em guerra. E preciso de uma aliada. — Ele a encarou. — Minha família está podre. Meus irmãos querem meu cargo. Caio, agora que descobriu que você sumiu, quer limpar a imagem e posar de arrependido para subir nas graças do patriarca. E eu? Eu preciso de alguém ao meu lado que não tenha medo deles. Que tenha queimado todas as pontes e, portanto, não tenha mais nada a perder.

Helena apertou os dedos. Seu peito doía.

— E você acha que eu aceitaria por quê? Dinheiro?

— Não — ele disse, direto. — Pelo poder de não ser mais jogada. E, talvez, para ter a chance de olhar no rosto do homem que te destruiu e fazê-lo se ajoelhar.

Helena sentiu um tremor passar pelo corpo.

— E o que você ganha com isso?

— Uma esposa leal. E um nome limpo. — Ele parou diante dela. — Além disso, quero alguém ao meu lado que não se curva. E você… não se curva mais, não é?

Helena o encarou.

Era loucura. Tudo. Mas também… era a chance de virar a mesa.

Não era sobre amor. Não ainda.

Era sobre liberdade. Sobre poder. Sobre escolher.

Ela estendeu a mão, devagar.

— Então me diga, Enzo… quando é o casamento?

O sorriso que ele lhe deu foi quase imperceptível. Mas real.

— Em breve, Sra. Vasconcellos.

E foi naquele instante que Helena percebeu: ela não era mais a garota traída.

Agora, era a mulher que ia reescrever sua história.

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Comments

Zilma sena Santos

Zilma sena Santos

que reviravolta na vida da Helena, gostei parabéns autora

2025-06-30

1

Dulce Gama

Dulce Gama

Que isso Autora linda sua história está ótima estou adorando muito parabéns estou lendo algumas histórias suas tem uma que já está concluída vi agora quando chegou a notificação pra mim no meu celular vou terminar esses capítulos e vou terminar de ler parabéns autora suas histórias são lindas 👍👍👍👍👍🌹🌹🌹🌹🌹🎁🎁🎁🎁🎁♥️♥️♥️♥️♥️🌟🌟🌟🌟🌟

2025-06-29

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Ver todos
Capítulos
1 Capítulo 1 – A Última Prova de Amor
2 Capítulo 2 – A Proposta Mais Inesperada
3 Capítulo 3 – A Noiva que Ninguém Esperava
4 Capítulo 4 – O Jantar dos Lobos
5 Capítulo 5 – O Escândalo
6 Capítulo 6 – A Ascensão e o Veneno
7 Capítulo 7 – Farpas Disfarçadas e Propostas Inesperadas
8 Capítulo 8 – O Nome que Ela Enterrou
9 Capítulo 9 – Os Rastros Apagados
10 Capítulo 10 – Antes Que o Silêncio Me Engula
11 Capítulo 11 – Onde a Verdade Assusta
12 Capítulo 12 – O Preço de Quem Somos
13 Capítulo 13 – O Sangue Que Eles Tentaram Apagar
14 Capítulo 14 – E Se Nosso Amor For Um Erro?
15 Capítulo 15 – Até Que a Verdade Seja Impossível de Ignorar
16 Capítulo 16 – A Voz de Quem Nunca Foi Ouvido
17 Capítulo 17 – Onde Tudo Silencia, Só o Amor Grita
18 Capítulo 18 – O Dia em Que Quiseram Me Calar
19 Capítulo 19 – Vozes Que Ninguém Mais Vai Calar
20 Capítulo 20 – Quando a Verdade Grita Mais Alto
21 Capítulo 21 – Depois da Tempestade, o Mundo Acorda Diferente
22 Capítulo 22 – Onde o Amor Começa, de Verdade
23 Capítulo 23 – Te Conhecer de Novo
24 Capítulo 24 – Amar é Também Desconstruir o Silêncio
25 Capítulo 25 – Dois Corações, Uma Só Vida
26 Capítulo 26 – Dois Corações, Dois Mundos, Um Só Amor
27 Capítulo 27 – Para Que o Amor Caiba em Dois Berços
28 Capítulo 28 – Entre Céus Abertos e Sombras Antigas
29 Capítulo 29 – Quando o Amor Também Vira Escudo
30 Capítulo 30 – E o Mundo Mudou Com Dois Choros
31 Capítulo 31 – Amor em Meio ao Caos (e à Sombra)
32 Capítulo 32 – Quando o Passado Bate à Porta
33 Capítulo 33 – O Dia em Que a Verdade Encarou a Mentira
34 Capítulo 34 – As Coisas Que Minha Mãe Nunca Me Disse
35 Capítulo 35 – Sombras que Nunca Foram Embora
36 Capítulo 36 – A Voz Que Rompe o Silêncio
37 Capítulo 37 – A Bênção e a Tentação
38 Capítulo 38 – Quando o Coração Falha por um Segundo
39 Capítulo 39 – O Peso da Mentira e a Força da Verdade
40 Capítulo 40 – Quando a Verdade Encontra Testemunha
41 Capítulo 41 – Justiça Não Se Compra
42 Capítulo 42 – A Rotina Depois da Guerra
43 Capítulo 43 – O Inimigo Silencioso
44 Capítulo 44 – A Teia de Mentiras
45 Capítulo 45 – O Peso dos Segredos
46 Capítulo 46 – O Alvo Invisível
47 Capítulo 47 – Quando o Amor se Faz Escudo
48 Capítulo 48 – Verdades Enterradas
49 Capítulo 49 – Até Que o Mundo Silencie
50 Capítulo 50 – O Nome Que Ele Nunca Escolheu
51 Capítulo 51 – Casamento, Confronto e Coragem
52 Capítulo 52 – Vozes Que Não Se Calam
53 Capítulo 53 – Onde os Segredos Respiram
54 Capítulo 54 – O Nome Que Ela Escondeu
55 Capítulo 55 – Quando a Justiça Tem Nome
56 Epilogo – E Depois da Tempestade, o Amor Ficou
Capítulos

Atualizado até capítulo 56

1
Capítulo 1 – A Última Prova de Amor
2
Capítulo 2 – A Proposta Mais Inesperada
3
Capítulo 3 – A Noiva que Ninguém Esperava
4
Capítulo 4 – O Jantar dos Lobos
5
Capítulo 5 – O Escândalo
6
Capítulo 6 – A Ascensão e o Veneno
7
Capítulo 7 – Farpas Disfarçadas e Propostas Inesperadas
8
Capítulo 8 – O Nome que Ela Enterrou
9
Capítulo 9 – Os Rastros Apagados
10
Capítulo 10 – Antes Que o Silêncio Me Engula
11
Capítulo 11 – Onde a Verdade Assusta
12
Capítulo 12 – O Preço de Quem Somos
13
Capítulo 13 – O Sangue Que Eles Tentaram Apagar
14
Capítulo 14 – E Se Nosso Amor For Um Erro?
15
Capítulo 15 – Até Que a Verdade Seja Impossível de Ignorar
16
Capítulo 16 – A Voz de Quem Nunca Foi Ouvido
17
Capítulo 17 – Onde Tudo Silencia, Só o Amor Grita
18
Capítulo 18 – O Dia em Que Quiseram Me Calar
19
Capítulo 19 – Vozes Que Ninguém Mais Vai Calar
20
Capítulo 20 – Quando a Verdade Grita Mais Alto
21
Capítulo 21 – Depois da Tempestade, o Mundo Acorda Diferente
22
Capítulo 22 – Onde o Amor Começa, de Verdade
23
Capítulo 23 – Te Conhecer de Novo
24
Capítulo 24 – Amar é Também Desconstruir o Silêncio
25
Capítulo 25 – Dois Corações, Uma Só Vida
26
Capítulo 26 – Dois Corações, Dois Mundos, Um Só Amor
27
Capítulo 27 – Para Que o Amor Caiba em Dois Berços
28
Capítulo 28 – Entre Céus Abertos e Sombras Antigas
29
Capítulo 29 – Quando o Amor Também Vira Escudo
30
Capítulo 30 – E o Mundo Mudou Com Dois Choros
31
Capítulo 31 – Amor em Meio ao Caos (e à Sombra)
32
Capítulo 32 – Quando o Passado Bate à Porta
33
Capítulo 33 – O Dia em Que a Verdade Encarou a Mentira
34
Capítulo 34 – As Coisas Que Minha Mãe Nunca Me Disse
35
Capítulo 35 – Sombras que Nunca Foram Embora
36
Capítulo 36 – A Voz Que Rompe o Silêncio
37
Capítulo 37 – A Bênção e a Tentação
38
Capítulo 38 – Quando o Coração Falha por um Segundo
39
Capítulo 39 – O Peso da Mentira e a Força da Verdade
40
Capítulo 40 – Quando a Verdade Encontra Testemunha
41
Capítulo 41 – Justiça Não Se Compra
42
Capítulo 42 – A Rotina Depois da Guerra
43
Capítulo 43 – O Inimigo Silencioso
44
Capítulo 44 – A Teia de Mentiras
45
Capítulo 45 – O Peso dos Segredos
46
Capítulo 46 – O Alvo Invisível
47
Capítulo 47 – Quando o Amor se Faz Escudo
48
Capítulo 48 – Verdades Enterradas
49
Capítulo 49 – Até Que o Mundo Silencie
50
Capítulo 50 – O Nome Que Ele Nunca Escolheu
51
Capítulo 51 – Casamento, Confronto e Coragem
52
Capítulo 52 – Vozes Que Não Se Calam
53
Capítulo 53 – Onde os Segredos Respiram
54
Capítulo 54 – O Nome Que Ela Escondeu
55
Capítulo 55 – Quando a Justiça Tem Nome
56
Epilogo – E Depois da Tempestade, o Amor Ficou

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