A ruptura silenciosa

Mais uma vez, Renata se encontrava em sua baia minúscula, o fone de ouvido apertando a cabeça. A luz vermelha piscou, insistente, anunciando mais um cliente na espera. Mais uma batalha a ser travada.

— Paradise Telecom, Renata, bom dia! Com quem eu falo, por gentileza? — ela recitou, a voz já um pouco mais forçada do que o ideal.

— Com Carol. — A resposta veio seca, sem preâmbulos.

— Olá, Carol, em que posso ajudar?

— Se liguei pro setor de vendas é porque quero comprar algo, não acha? — A ironia na voz da cliente era um tapa.

Renata respirou fundo, tentando afastar a vontade de responder à altura. Aquela respiração era quase um código para "não surtar".

— Qual produto você deseja? — ela manteve a calma, ou o que restava dela.

— Quais produtos vocês têm? — O tom era de quem queria um show completo, não uma simples lista.

— Temos o Paradise Fibra, nossa internet 100% fibra óptica; o Paradise Móvel, nossa telefonia móvel; o Paradise TV, TV por assinatura com a qualidade Paradise; e o Paradise Music, nosso streaming musical. -Renata despejou as informações, como uma máquina programada, sem emoção.

— Quais são os preços de cada um?

— Temos diversos planos, senhora…

— Senhora está no céu. — A repreensão veio afiada, cortando a fala de Renata.

— Desculpe, moça. — Renata corrigiu, engolindo em seco.

— Temos diversos planos, desde individuais até corporativos.

— É só pra mim, meu marido, meus 3 filhos e minha sogra.

— Ok, vou então te passar os valores do plano família, tá bem? — Renata sentia a garganta seca, as palavras se arrastando.

— Ok, adiante. — Carol parecia se deliciar com a própria ignorância, com a lentidão proposital.

Renata estava por um fio. Um fio finíssimo. Por um momento, a imagem de mandar Carol fazer certa coisa que por se tratar de um livro o autor deve manter o respeito, passou voando pela sua mente, um lampejo de raiva incontrolável. Mas a voz da Valéria em sua cabeça, as metas, a necessidade do emprego... Respirou fundo, mais uma vez, forçando o corpo a obedecer e a continuar.

— Temos 600 MEGA por R$99,90. Paradise Móvel com 20 Gigas e ligação ilimitada por R$39,90. Paradise TV Família por R$59,90 e Paradise Music Premium Plus por R$39,90. Fechando o combo, fica R$299,90 mensais. — A voz de Renata soava mecânica, distante, como a de um robô que apenas largava os números.

— Bom, mas o chip seria quantos? — A cliente perguntou, arrastando as palavras.

— Por se tratar de uma família com seis pessoas, o plano família vai com seis chips, acesso até seis dispositivos simultâneos no Paradise Music.

— É bom, só que achei caro. Quais os valores do individual?

Renata fechou os olhos por um segundo, sentindo uma pontada na têmpora.

— Temos 300 MEGA por R$69,90. TV por R$24,90 com canais abertos, e o Paradise Music por R$14,90.

— E o chip tem?

— Tem sim, 20 Gigas com ligação ilimitada por R$39,90. Totalizando R$129,90 mensais no combo.

— Seriam quantos chips?

— O combo individual, só um.

— Se 600 MEGA são R$100,00, 300 MEGA não deveria ser R$50,00? — Carol questionou, o tom de voz insinuando que Renata a estava enganando.

Renata respirou fundo novamente, os punhos cerrados embaixo da mesa. Sentiu o suor frio na nuca, o surto a centímetros de distância. Mas respondeu, a voz trêmula:

— Esse é o preço tabelado.

Vou querer não.

E a linha ficou muda. Carol desligou, sem um "obrigada", sem uma despedida, deixando Renata com o fone no ouvido, a raiva borbulhando e o cansaço multiplicando-se.

A linha ficou muda, cortando a fala de Carol sem um pingo de cortesia. Renata, com o fone ainda no ouvido, sentiu a raiva borbulhar e o cansaço multiplicando-se. Aquela cliente era só a primeira do dia, e já havia sugado sua alma.

Mal teve tempo de respirar. Uma nova luz vermelha, mais insistente que a anterior, piscou no seu ramal. Não era cliente. Era a Valéria. O coração de Renata deu um salto.

Renata, na minha sala. Agora. -A voz de Valéria era gélida, sem espaço para perguntas, e a linha caiu antes que Renata pudesse sequer murmurar um "sim".

Com as pernas bambas, Renata arrastou-se até a sala da chefe. Valéria estava sentada à sua mesa impecável, a postura ereta, os olhos fixos na tela do computador. Nem sequer olhou para Renata quando ela entrou.

— A Carol acabou de ligar, Renata.

Valéria começou, a voz calma demais, um mau sinal.

— Ela me disse que você foi 'pouco flexível' com os pacotes, que você 'não soube entender a necessidade dela como cliente'.

Renata sentiu o sangue gelar.

— Mas, Valéria, eu ofereci todas as opções! Familiar, individual, os combos... A cliente não queria nada! Ela só perguntou, e perguntou, e me fez repetir tudo! — ela tentou explicar, a voz um pouco mais alta que o normal, o desespero se misturando à frustração.

Valéria finalmente ergueu o olhar, e o brilho nos seus olhos era puro gelo.

— Não me interessa, Renata. Flexibilidade é chave. O cliente sempre tem razão, e se ele não comprou, a culpa é da sua abordagem. Zero de vendas no seu nome hoje, Renata. Zero. — Ela fez uma pausa dramática. — Você sabe o que significa 'multi-produtos'? Significa que você tem que ser a solução para TUDO, não a barreira. Se continuar assim, não vejo futuro para você na Paradise.

A ameaça era clara, e Valéria nem precisava elevar a voz. Sua frieza era a pior parte. Renata sentiu a cabeça girar. A respiração falhou, e ela teve que se segurar na porta para não cair. Mais uma vez, o "inferno" da Paradise não era só vender, era sobreviver à Valéria.

Tudo continuou na normalidade de sempre dentro da Paradise, mas não no colégio, já era intervalo, e Felipe teve uma crise de ansiedade, no pátio, alguns dos alunos na proximidade o-levaram para sala de aula, e ficaram com ele, enquanto outros foram avisar a direção. Não teve jeito, a secretária ligou para casa da família para que alguém fosse buscar Felipe, Thiago atendera, estava assistindo televisão no momento, desligou o telefone com força e foi até o colégio bufando, chegando lá gritou imediatamente:

— Cadê esse moleque dramático?

— Calma senhor Thiago… — disse a secretária

— Calma não, eu sou o pai dele, eu que mando!

— Senhor, seu filho Felipe está em crise de ansiedade… — tentou explicar a secretária

— Está com drama! Ele é muito dramático. — respondeu Thiago com brutalidade

— Senhor…

— Não quero ouvir mais nada, cadê esse moleque pra eu levar logo e dar logo uma pisa nele? — interrompeu Thiago

— Vou lá chamar. -disse a secretária saindo

Minutos se passaram, Thiago chegou em casa com Felipe, não imaginava que Lucas tinha sido liberado mais cedo do seu colégio, e já estava chegando em casa também, Thiago pegou sua cinta e então bateu em Felipe que começava a chorar de dor, Lucas ouviu os gritos, parecia seu irmão, então adiantou os passos, chegando em casa em alguns segundos, ao ver seu irmão Felipe chorando e seu pai Thiago com a cinta na mão se preparando para bater mais, não pensou duas vezes e correu pra frente de seu irmão.

— Sai da minha frente! — gritou Thiago

— Você não vai tocar um dedo em Felipe. — retrucou Lucas com firmeza

— Seu moleque insolente! — gritou Thiago derrubando Lucas e logo em seguida batendo mais em Felipe que chorava ainda mais

Lucas não conseguia ver aquela cena e ficar sem fazer nada, ele não queria, mas não teve outra opção, sem pensar duas vezes, foi pra cima do seu próprio pai, para poder defender seu irmão Felipe, mas Thiago era mais forte que Lucas, e também te bateu muito com a cinta, deu um suspiro e saiu de casa. Lucas abraça seu irmão Felipe, prometendo que jamais deixaria qualquer pessoa tocar um dedo sequer nele, seus olhos lacrimejavam, não de dor, mas a promessa de vingança.

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