O terceiro dia de trabalho começou às 7h42, com Gael entrando na sala sem cumprimentar ninguém, como sempre fazia. Deixou o terno no cabide, tirou o relógio, e estendeu a mão sem olhar.
— Café. Sem açúcar. Agora.
Thiago já estava preparado. Entregou a xícara antes mesmo de o CEO terminar a frase. Ainda assim, ouviu:
— Está muito quente. Você já me viu queimando a língua com café? Eu pareço amador?
— Parece humano — murmurou Thiago, sem querer.
Gael o encarou com a expressão de sempre: tensa, irritadiça, meio entediada. Mas havia algo diferente naquele instante. Uma faísca. Um pequeno estranhamento que reluzia entre a frieza habitual.
— O que disse?
— Nada. Vou ajustar a temperatura.
Era sempre assim. Ordens. Silêncios longos. Respostas cortantes. Olhares que pareciam uma avaliação constante. E Gael, com seu terno impecável e sua boca seca de gentilezas, nunca agradecia por nada.
Mas Thiago não era de se dobrar.
⸻
Na sala de reuniões, Gael ditava e Thiago digitava com velocidade. O ritmo era insano. Gael mudava o tom da voz com frequência, exigia precisão, odiava repetições, e tinha uma memória assustadora. Thiago, apesar de estar se saindo bem, ouvia o tempo todo frases como:
— Isso está torto.
— Você sempre respira assim?
— Se não prestar atenção, não dura a semana.
Era exaustivo. E fascinante.
Porque, por mais que odiasse admitir, Thiago sentia algo toda vez que Gael se aproximava. Algo que começava no estômago, descia pelas pernas e apertava o peito. Algo que ele não queria pensar como desejo. Mas que era.
Era quando Gael passava atrás dele, muito perto. Quando, sem querer, sua mão encostava em seu ombro ao pegar algum documento. Quando o perfume dele — amadeirado, sofisticado, brutal — invadia o ar sem pedir permissão.
E o pior: Thiago não sabia se queria fugir ou se afundar mais nisso.
Durante o intervalo, foi até a copa para tomar água. Estava suando, mesmo com o ar-condicionado no máximo.
“Você é louco, Thiago. Ele é hétero. Tem namorada. É seu chefe. E é um babaca.”
Mesmo assim, quando voltou à sala e viu Gael em pé, com a gravata meio afrouxada e a manga da camisa dobrada, algo nele tremeu por dentro.
Algo que não era respeito.
Algo que não era medo.
Era outra coisa. Algo que, se crescesse, poderia arruinar tudo.
Era o quinto dia. Quase uma semana.
Thiago achava que estava começando a pegar o ritmo. Já tinha entendido os horários, os e-mails que Gael queria respondidos em menos de cinco minutos, os códigos verbais que Clarissa usava para evitar explosões. Tudo estava… sob controle.
Até errar.
Era um detalhe. Um maldito anexo no e-mail errado. Um contrato que deveria ter sido enviado ao parceiro europeu e, por um deslize, foi para o grupo interno de diretores.
O caos se instalou em minutos.
Gael surgiu na sala com o rosto tenso e o celular na mão.
— Você enlouqueceu? — perguntou, jogando o aparelho na mesa com força. — Você tem noção do que significa vazar um contrato confidencial?
Thiago congelou. Tentou explicar. — Eu revisei três vezes. Deve ter sido um clique errado, uma janela…
— Você acha que estou interessado nas suas janelas?! — gritou. — Isso aqui não é uma escola pública onde você pode errar e levar bilhetinho pra casa! Aqui, um erro custa dinheiro, reputação, e a minha paciência!
Clarissa entrou na sala com uma expressão assustada. Gael fez um gesto brusco e ela saiu, fechando a porta.
— Eu devia te demitir agora.
O silêncio caiu como um soco.
Thiago não respondeu. Ficou em pé, olhos fixos num ponto qualquer atrás de Gael. As mãos tremiam. A garganta ardia.
Mas ele ficou.
Gael passou a mão pelos cabelos, impaciente. O silêncio agora era estranho. Ele olhou para Thiago — e viu.
Os olhos cheios d’água.
Não havia súplica ali. Nem covardia. Só um orgulho ferido lutando para não desmoronar.
— Eu não vou pedir desculpa — Thiago disse, voz rouca. — Mas vou fazer melhor amanhã. E depois de amanhã. E todos os outros dias.
Gael não respondeu. O peito subia e descia, e por um instante, algo no olhar dele suavizou. Um centímetro apenas.
Mas foi embora rápido.
— Saia da minha sala — disse, mais baixo, mais seco. — Agora.
Thiago saiu.
Entrou na copa, trancou a porta, se encostou na parede de azulejos frios e deixou as lágrimas caírem, caladas. Sem soluço. Sem drama.
Chorou de raiva. De frustração. De exaustão.
Mas não pensou em desistir nem por um segundo.
Porque havia algo dentro dele mais forte do que a dor: a certeza de que pertencia àquele lugar. Não por ser perfeito. Mas porque ninguém tinha lutado tanto pra estar ali quanto ele.
E se Gael achava que poderia destruí-lo com palavras… então estava prestes a descobrir que Thiago Andrade era muito mais difícil de quebrar do que ele pensava.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
Fatima Gonçalves
GENTE ELE É DURÃO BEIRA A FALTA DE EDUCAÇÃO
2025-10-11
  3
Clesiane Paulino
isso mesmo Thiago não abaixe a cabeça /Determined/
2025-10-25
  0
Ana Lúcia
mas não vai porque já está interessado kkkkk
2025-10-24
  0