Thiago não era feio — disso ele sabia.
Mas sua beleza nunca foi fácil, nunca foi óbvia. Era o tipo de rosto que chamava atenção duas quadras depois, quando a memória visual finalmente entendia o que havia ali: olhos escuros que pareciam guardar segredos demais, um maxilar marcado, sobrancelhas firmes, e uma cicatriz quase invisível no supercílio esquerdo, que dava um charme involuntário.
Tinha 1,86m de presença silenciosa. Ombros largos, pele morena de quem cresceu sob sol de verdade, e um corpo definido na medida em que a rotina puxada permitia — não de academia, mas de entrega, corrida e cansaço. Era bonito como quem nunca teve tempo de perceber que era.
Vestia uma camisa branca de manga dobrada, calça social preta e sapatos recém-engraxados. O relógio simples no pulso contrastava com os Rolex que passavam ao redor dele no elevador. Mas estava ali. No andar 32. Pronto ou não.
As portas do elevador se abriram, e tudo cheirava a dinheiro. Vidro temperado, piso de mármore, móveis minimalistas em tons de cinza e branco. O silêncio ali era uma linguagem própria.
Uma mulher loira, de coque apertado e andar preciso, veio em sua direção.
— Você é o novo assistente? — perguntou, sem sorrir.
— Sou, sim. Thiago Andrade.
— Sou Clarissa, secretária executiva do doutor Ferraz. Por enquanto, você vai responder a mim. Quando ele quiser falar com você, vai deixar claro.
Thiago assentiu, mas o estômago já dava sinais de ansiedade.
Clarissa entregou uma pasta. — Aqui estão seus horários, códigos de acesso, procedimentos internos. O doutor Ferraz gosta de café sem açúcar, reuniões com no máximo 30 minutos e pontualidade quase cirúrgica.
— Quase?
Ela sorriu, pela primeira vez. — Ele é cirúrgico. Eu só disse “quase” pra você não desmaiar de medo.
Antes que ele pudesse responder, uma porta de vidro se abriu no fundo do corredor.
E Gael Ferraz apareceu.
Terno cinza-escuro sob medida, 1,92m de postura impecável, barba por fazer, e um olhar que parecia atravessar o tempo. Ele andava como quem tinha o mundo sob os pés. E, de certa forma, tinha.
Parou a poucos passos de Thiago, olhando-o de cima, com olhos frios — mas atentos.
— Veio — disse, como se estivesse surpreso.
— Vim — Thiago respondeu, firme.
— Tem coragem, pelo menos. Vamos ver se tem competência.
E sem esperar resposta, virou-se e entrou em sua sala.
Clarissa lançou um olhar de quem queria dizer “boa sorte”, mas já sabia o resultado.
Thiago respirou fundo. Era só o começo. Mas já dava pra sentir que aquele homem ia ser o maior desafio da sua vida.
E talvez… o mais perigoso também.
Gael Ferraz não contratava por impulso.
Desde os 22, quando assumiu o controle da Ferraz Tech após a morte precoce do pai, aprendeu a tomar decisões com a cabeça — nunca com o coração. O mundo corporativo não dava espaço para sentimentos, dúvidas ou distrações. E ele era bom nisso. Frio, rápido, eficiente.
Foi por isso que, quando viu Thiago entrar na sala de entrevista no dia anterior, sua primeira reação foi de desdém.
Camisa barata, sapato de brechó, olhar duro. Não parecia com nenhum dos assistentes que já teve — todos moldados, domesticados, treinados. Thiago parecia… cru. Selvagem.
E, mesmo assim, ele o contratou.
Agora, sentado na cadeira de couro italiano de sua sala, Gael observava o jovem pela parede de vidro espelhado, enquanto ele recebia orientações de Clarissa.
— Ele é muito alto — murmurou para si mesmo, como se isso explicasse alguma coisa.
1,86. Quase da sua altura. Mas o que chamou atenção não foi isso.
Foi o jeito como Thiago olhou pra ele. Sem bajulação. Sem medo aparente. Como se enxergasse algo além da fachada de CEO.
Isso o incomodou.
Gael namorava há três anos com Helena. Médica, bonita, inteligente, o par ideal para um homem como ele. Tinham planos, estabilidade, jantares de aparências, uma rotina confortável. Nunca teve dúvidas sobre sua orientação sexual — nunca precisou ter. Mulheres sempre foram sua zona segura, previsível. Controlável.
Mas Thiago…
Havia algo naquele rapaz. Não era só beleza — embora ele fosse, de fato, estranho de olhar. Bonito, mas de um jeito que desafiava os padrões. O tipo de beleza que incomoda porque não suplica por aprovação. Estava ali, firme, silenciosa, quase arrogante na própria autenticidade.
Gael se pegou encarando o reflexo dele no vidro de novo. A forma como ele andava. Como falava pouco. Como parecia carregar um peso maior do que sua idade permitia.
E aquilo… atraía.
“Você está cansado, Gael”, pensou. “É só curiosidade. Nada mais.”
Mas a verdade é que pela primeira vez em muito tempo, ele sentia algo que não sabia nomear. E isso o deixava irritado. Muito.
Levantou-se de súbito e saiu da sala.
Ao passar por Thiago, viu de relance a curva do maxilar dele, os olhos firmes, a forma como ele segurava a pasta — como se tudo na vida dependesse daquilo.
Por que ele olha assim?, pensou. Como se me desafiasse sem dizer uma palavra.
Voltou para sua mesa, abriu o notebook, e se forçou a afundar nos números do mercado internacional. Precisava de controle. Precisava de ordem.
Mas Thiago Andrade já tinha se instalado numa parte da mente dele que não aceitava comando.
E Gael odiava perder o controle.
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Atualizado até capítulo 50
Comments
DaniNunes
Nem sempre pessoas que se atraem por alguém do mesmo gênero são gays ou lesbicasm ele pode ser bi, pan... mas por medo do preconceito e julgamento nunca se permitiu sair do padrão, da zona segura
2025-10-22
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Ana Lúcia
kkkkkk outro iludido que pensa ser hetero
2025-10-24
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Clesiane Paulino
já tô amando a história 🥰
2025-10-25
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