"Mesmo quando a gente finge que tá tudo bem, o coração bate no ritmo do que tá preso na garganta."
Corredor principal
Clara passava pelo corredor com os fones no ouvido, mas não conseguia ignorar os olhares. Algumas pessoas cochichavam. Uma garota da turma de harmonia falou alto de propósito:
— Se acha artista agora só porque apareceu num vídeo com a garota da estação.
Clara apertou os passos. No fundo, sabia que não tinham dito com maldade direta, mas o tom carregava julgamento. Como se estar feliz fosse pecado. Como se se apaixonar por alguém como Luna fosse “estranho demais”.
Mais adiante, ouviu um comentário abafado de outro colega:
— Essa aí era tão certinha. Tá achando que virou rebelde agora?
Ela não olhou pra trás. Só apertou o estojo do violino contra o corpo e seguiu, sentindo o peso da coragem virar pedra no peito.
"Sei bem... isso me irrita. Essas pessoas que acham que são melhores que os outros." — pensou. — "E quando você tenta só ser você, eles olham como se fosse
Quarto da Nina
Nina estava testando pinceladas em um quadro inacabado. Luna entrou no quarto com o celular na mão, um pouco agitada.
— Nina, eu não sei lidar com isso.
— O quê? Mais curtidas no vídeo?
— Sim! E gente me marcando. Comentando. Mandando DM. Eu quero ser famosa, sabe? Mas eu não quero... chamar tanta atenção assim. Não desse jeito.
Nina deu uma risada curta, limpando o pincel na calça velha.
— Difícil disso acontecer, Luana. Ou você fica famoso ou não fica. E meio que você já chama atenção. Mesmo quando só entra numa sala.
Luna sentou na beira da cama, mexendo no colar que carregava.
— Mas e se as pessoas começarem a falar da Clara? Dela comigo? Se isso atrapalhar ela?
Nina virou-se para encará-la.
— Você já perguntou pra ela o que ela quer? Às vezes o medo é só projeção nossa.
— Eu só não quero ser o motivo dela se esconder.
— E se for ao contrário? E se for com você que ela aprende a se mostrar?
Luna ficou em silêncio.
Casa de Clara | Cozinha
Marta preparava um chá. Clara chegou com a mochila nos ombros, visivelmente cansada. Largou as coisas e se sentou à mesa.
— Filha, e aí? Como foi?
— Eu fui bem, mãe.
— Que cara é essa, filha? Cadê a alegria? A minha menina sorridente sumiu?
Clara ficou alguns segundos em silêncio, mexendo no cordão do estojo que ainda carregava.
— Nada demais, mãe. Eu só tô... cansada. — Ela respirou fundo. — Na verdade, eu tenho algo sim.
Marta parou de mexer a xícara. Sentou-se à frente.
— Estou ouvindo. Pode me contar.
Clara hesitou, a garganta apertada.
— Acha que eu tô indo depressa demais?
— Depressa em quê?
— Na vida. Nas escolhas. Em quem eu tô me tornando.
Marta franziu o cenho.
— Clara, o que aconteceu?
Clara encarou a mãe por um instante. E então desviou o olhar.
— Eu tô conhecendo alguém. Alguém que me faz sentir diferente. Me faz querer compor. Querer ser mais eu.
— Um menino?
Clara apertou os lábios.
— Uma menina. A Luna.
O silêncio caiu como uma cortina pesada entre as duas.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 41
Comments