Capítulo 5
A estrada de volta ao casarão parecia mais longa do que antes.
Alexios cavalgava em silêncio, com o coração pesado e a mente em turbilhão.
Durante dias em Kymi, ele viu com os próprios olhos o que os papéis e os números jamais mostraram: crianças carregando baldes d’água, mulheres trabalhando em silêncio com as mãos feridas, homens dobrados sobre a terra como se carregassem o peso do mundo.
E mesmo com toda aquela dureza…
Eles sorriam entre si.
Dividiam. Ajudavam. Resistiam.
E entre eles, uma presença silenciosa o acompanhava como sombra: Thalía.
Ele não a viu mais, mas sentiu que ela o vigiava. Que estava por perto.
E essa sensação de ser observado não era incômoda.
Era… reconfortante.
Mas agora ele voltava para a casa que sempre chamou de lar — e que agora mais parecia uma jaula feita de mármore e ouro.
Assim que atravessou os portões, um dos empregados correu para avisar ao general.
O pai o esperava na biblioteca, com o cenho fechado e o olhar cortante.
— Finalmente resolveu voltar — disse Nicandros Drakos, de pé junto à lareira, com uma taça de vinho na mão. — Espero que tenha feito algo útil por lá. A estrada precisa avançar.
Alexios largou as luvas sobre a mesa com um baque.
— A estrada não é o problema.
O pai arqueou a sobrancelha.
— Como assim?
— A forma como tratamos o povo de lá. Como ignoramos suas vidas. Suas necessidades. Suas histórias.
— São camponeses. Não soldados. Não clientes. Prestam serviço e recebem o que lhes é devido.
— Recebem migalhas! — Alexios ergueu a voz, pela primeira vez sem medo. — Eles vivem com fome, pai. Trabalham sob sol e chuva, crianças com feridas nas mãos, mulheres exaustas. E tudo que recebem é ordem. Frieza. Desprezo.
O general deu um passo adiante.
— Você está deixando emoções atrapalharem o julgamento. Não se governa com piedade, Alexios. Governa-se com estratégia.
— Não é piedade! — gritou. — É humanidade!
Silêncio.
O pai o olhou por um instante, surpreso.
Nunca ouvira o filho falar com tanta firmeza. Tanta alma.
— Você viu algo em Kymi que mexeu com você — disse o general. — Algo ou alguém?
Alexios desviou o olhar, mas sua expressão o denunciava.
O general apertou os olhos.
— Eu sabia. Alguma camponesa te encantou, foi isso?
— Não se trata de uma mulher, pai. Se trata de um povo. De um lugar que vive ignorado enquanto a nossa família se senta sobre o ouro.
— Você está confundindo honra com culpa — rosnou o general. — Nosso dever é manter o império de pé. Não ouvir reclamações de aldeões ingratos!
— Então talvez eu não queira esse império!
A frase explodiu no salão como uma bomba.
Alexios ofegava. O pai o encarava, tenso, em silêncio.
— Eu não nasci pra esmagar ninguém — disse, com a voz mais baixa agora. — E se continuar assim… esse nome Drakos vai significar apenas medo. Eu não quero ser temido. Quero ser lembrado com respeito. Com verdade.
O general virou o rosto com desprezo.
— Você está fraco, Alexios.
— Não. Estou acordado.
---
Naquela noite, sozinho no quarto, Alexios olhou pela janela.
A lua estava alta, e o vento soprava como em Kymi.
E ele soube, naquele instante, que algo havia mudado para sempre.
Ele não voltaria a ser o mesmo.
Nem aceitaria viver conforme esperavam.
E mesmo sem saber quando, nem como…
Ele voltaria àquele vilarejo.
Voltaria por ela.
Mas, acima de tudo, voltaria por ele mesmo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 42
Comments