Quando o Vento Mudar

Capítulo 3

A manhã em Kymi começava com um silêncio incomum.

O céu, geralmente azul e limpo, estava coberto por nuvens pesadas, como se o dia soubesse que algo estava para acontecer. O vento soprava mais forte entre os ciprestes, trazendo consigo o cheiro da terra úmida e daquilo que não tem nome: mudança.

Thalía Myriná despertou antes da avó. A sensação estranha da noite anterior ainda pulsava em seu peito como um tambor abafado. Era como se algo a chamasse para longe da rotina, longe da trilha habitual. E sem pensar muito, seguiu um novo caminho, com o cesto vazio nos braços e os olhos atentos como quem pressente que o destino está por perto.

Na encosta da colina, onde as árvores eram mais altas e o solo mais firme, seus passos encontraram uma clareira escondida — um lugar que raramente visitava. Havia silêncio ali. Mas não era paz. Era expectativa.

Do outro lado da colina, Alexios Drakos cavalgava lentamente. Deixara a escolta no vilarejo e decidira explorar os arredores sozinho. Seu peito ainda pesava com as palavras do pai e a pressão do nome que carregava. Mas naquele instante, ele só queria respirar fora das paredes, fora das ordens.

Ao descer do cavalo e caminhar a pé por uma trilha estreita, ouviu um som suave: folhas se movendo. Galhos quebrando. E então… ela apareceu.

Thalía.

Surgiu entre as árvores como parte da paisagem, mas com presença de trovão. Os cabelos presos por um lenço gasto, a pele dourada pelo sol, os olhos intensos como tempestade. Seu vestido era simples, manchado de barro. Mas havia nobreza em cada passo.

Ela também o viu. Parou. Por um segundo, os dois pareciam estátuas vivas, imóveis no tempo.

O mundo prendeu a respiração.

Alexios sentiu o coração acelerar. Não pela beleza apenas, mas por algo mais profundo. Um reconhecimento inexplicável. Uma força invisível puxando-o em direção àquela mulher desconhecida.

— Você está perdido? — Thalía perguntou, a voz firme, mesmo com o coração galopando no peito.

Ele hesitou, depois sorriu, surpreso com a própria resposta.

— Talvez… mais do que imagino.

Ela franziu o cenho, desconfiada. Alexios deu um passo à frente, mas parou ao ver o olhar duro dela.

— Meu nome é Alexios. Alexios Drakos.

Silêncio.

O nome caiu entre eles como uma pedra num lago calmo. O rosto de Thalía se fechou. Ela conhecia aquele nome. Era o nome dos muros, das cercas, das ordens. Era o nome de quem mandava que os pobres calassem e aceitassem.

— Eu sei quem você é — disse ela, com frieza. — E sei o que vocês fazem com essa terra.

Alexios respirou fundo. Não estava ali para discutir. Mas também não esperava hostilidade tão rápida.

Tentou suavizar o tom:

— Não vim como patrão. Vim como homem. Só queria conhecer o que está além dos mapas.

Ela ergueu o queixo.

— E o que achou?

Ele sorriu de leve.

— Algo que não esperava encontrar.

Thalía apertou os dedos no cesto vazio. Por dentro, estava tremendo. Mas por fora… manteve o rosto firme.

Ela não sabia explicar o que sentira naquele instante. Mas sabia que aquilo era perigoso.

— Cuidado, senhor Drakos. O que não se espera, às vezes, é o que mais nos vira pelo avesso.

E virou-se para ir embora.

— Espere… como se chama?

Ela parou. Virou apenas o rosto, sem sorrir.

— Thalía.

E então seguiu seu caminho, com o vento empurrando seus passos e o coração batendo alto demais.

Alexios permaneceu parado, com os olhos fixos no rastro deixado por ela. Sabia que não era apenas uma camponesa. Sabia, ainda sem entender, que acabava de encontrar algo — ou alguém — que mudaria tudo.

Talvez estivesse mesmo perdido.

Mas agora… não queria se encontrar.

Capítulos

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!