Capítulo 2
Propriedade Drakos – Colinas de Eubeia, Grécia – 1863
As janelas do salão principal estavam abertas, mas o ar ainda parecia pesado. A brisa da manhã lutava para entrar entre as cortinas espessas de veludo, como se o próprio vento soubesse que ali dentro o tempo não corria livre.
Alexios Drakos estava de pé, diante de uma das colunas do pátio, observando o horizonte com olhos que pareciam buscar algo que não sabia nomear. Vestia uma camisa clara e calças de linho, mas sua aparência alinhada escondia a tempestade que fervia sob a pele.
— Está aqui desde o nascer do sol, meu filho? — a voz do general Nicandros Drakos soou firme atrás dele, carregada de autoridade e cansaço.
Alexios não se virou. Sabia exatamente o que viria a seguir.
— Acordei com dor de cabeça — respondeu, com a voz neutra.
— Dor de cabeça... — o pai soltou um suspiro áspero. — Talvez seja o peso da responsabilidade que finalmente está te encontrando. Está na hora de deixar os devaneios e assumir o lugar que nasceu para ocupar.
Alexios cerrou os punhos, mas manteve o tom calmo.
— Eu não sou como o senhor, pai. Não quero mandar em homens como quem comanda gado. Não quero um casamento por conveniência com uma mulher que nem conheço.
O general caminhou até ele, o som das botas ecoando no mármore frio.
— Não se trata do que você quer. Trata-se do nome que carrega. Drakos. Nós não nos misturamos com sonhadores, nem com camponeses, nem com ideias. Construímos. Mandamos. Protegemos.
— E destruímos — Alexios murmurou, amargo.
Nicandros o olhou com frieza.
— Amanhã você irá até Kymi supervisionar os trabalhadores da nova estrada. É um caminho estratégico para os negócios da família. Sem discussões. Já enviei um dos nossos para preparar sua chegada. Você parte ao amanhecer.
Sem esperar resposta, o pai se virou e desapareceu entre as colunas.
Alexios ficou ali, parado, como uma estátua que só o vento ousava tocar.
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Naquela noite, ele jantou com a mãe, calada como sempre, e a irmã mais nova, Elektra, que tentava quebrar o silêncio com sorrisos tímidos e comentários suaves. Mas tudo era forçado. Ali, cada gesto era ensaiado, cada palavra pesada antes de ser dita. Não havia espaço para espontaneidade.
A casa era grande demais, fria demais, cheia de quadros de ancestrais que o observavam como juízes silenciosos. O passado da família Drakos era pesado, feito de sangue, guerra e conquistas. E esperavam dele o mesmo caminho.
No quarto, ao sentar-se diante da lareira, Alexios pegou um livro — mas não leu. Seus olhos caíram sobre um mapa da região, aberto sobre a mesa.
Kymi. Um vilarejo pequeno, pobre. Esquecido.
Mas era para lá que o destino o levava agora.
E, por mais que fosse uma missão imposta, algo dentro dele se acendeu com essa ideia. Não era a estrada, nem os trabalhadores… era o desconhecido. Era o ar diferente daquele lugar onde, talvez, pudesse respirar.
Ele se levantou e abriu a janela. A noite estava clara, e o vento finalmente entrou, trazendo consigo o cheiro distante da terra, das folhas, da liberdade.
Sem saber, estava prestes a encontrar algo que jamais ousou desejar.
Não em salões de mármore, mas entre as pedras e as ervas de uma terra viva.
E ali, no silêncio do seu quarto dourado, Alexios fechou os olhos…
Sem imaginar que, do outro lado das colinas, uma mulher com pés descalços também olhava o céu, sentindo o mesmo vento.
Como se o destino já soprasse, com força, para que seus mundos colidissem.
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Atualizado até capítulo 42
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