A Herdeira Desperta

O silêncio no quarto da torre era cortante.

Catarina estava sentada na chaise longue de veludo azul, a carta da avó repousando em seu colo, as palavras ainda ecoando como um sussurro vindo do túmulo.

“Eles esconderam a verdade sob o pretexto da tradição.

Um nome não vale mais que uma consciência limpa.

Se quiser salvar o que é seu, aprenda a ser mais astuta do que todos eles juntos.”

Com mãos firmes, ela abriu a pasta de couro desgastado encontrada junto à carta. Dentro, documentos antigos, atas adulteradas de reuniões do conselho e o mais precioso: uma cópia não protocolada do testamento original de Benedito Bittencourt de Valença, anterior à cláusula que envolvia os Montenegro de Bragança.

E um nome. Subscrito em várias margens.

Alexandre Figueira.

Atual vice-presidente do conselho.

Antigo advogado pessoal do avô.

Homem de confiança… de todos, exceto da avó.

Catarina se levantou devagar, com a mesma postura com que aprendeu a entrar em salas de reuniões desde os 14 anos.

Ela não precisava mais de permissão.

Agora, tinha provas.

Agora, tinha poder.

Na ala oeste, Thomás folheava pastas da vinícola da família com olhar desconfiado.

Alguns contratos haviam sido renegociados sem sua ciência.

Movimentações financeiras suspeitas.

Assinaturas que não batiam com os relatórios.

E o nome de seu irmão mais velho, Eduardo, começava a surgir em conversas veladas nos corredores do escritório.

Aparentemente, Thomás não era o único herdeiro com um alvo nas costas.

Naquela noite, Catarina e Thomás se encontraram novamente na Sala dos Espelhos.

Ela carregava um fichário nas mãos. Ele, um olhar cansado — mas atento.

— Lembra quando brincávamos aqui de tribunal? — ela disse, quase com um sorriso. — Você sempre era o juiz.

— E você, a promotora que queria prender o pai. — Thomás respondeu, sentando-se. — O que trouxe hoje?

— Provas.

— De quê?

— Que o contrato de fusão é baseado em um testamento adulterado. Que meu avô foi manipulado. E que o nome Figueira aparece em lugares onde não devia estar.

Ela jogou os documentos sobre a mesa entre eles.

— Minha avó deixou tudo. Estava esperando que eu acordasse a tempo.

Thomás passou os olhos pelos papéis, cada vez mais atento. Ao terminar, se recostou.

— Se isso vier à tona, o conselho desmorona. Seu pai cai. Minha família perde influência.

— E talvez… — ela disse, aproximando-se — pela primeira vez em décadas, alguém fora deles assuma o poder.

— Você. — ele disse, com certeza.

— Nós. — ela corrigiu, mas sua expressão era ambígua demais para ser ingênua.

Por um instante, o silêncio entre eles foi quebrado apenas pelo som das chamas da lareira.

— Vai mesmo confiar em mim com isso? — Thomás perguntou, encarando-a.

— Não. — ela respondeu. — Mas não tenho escolha. E você também não.

Ele sorriu.

Não de diversão.

Mas de respeito.

— Então vamos derrubar o império.

— Não. — ela se levantou. — Vamos reconstruí-lo. Mas dessa vez… com as nossas regras.

Horas depois, em seu quarto, Catarina abriu um novo caderno e escreveu apenas uma linha no topo da página:

Plano de Recuperação do Legado Valença – Etapa 1: Desmascarar Figueira.

E no rodapé, quase como um bilhete a si mesma:

“Nunca mais ser moldada por silêncios herdados.”

Ela apagou a luz.

Mas pela primeira vez, não sentiu medo do escuro.

Sentiu poder.

Imagens do quarto da Catarina

Mãe do Thomás

Helena Duarte Montenegro de Bragança

• Idade: 57 anos

• Profissão: Curadora de arte e embaixadora cultural da Vinícola Bragança em eventos de alto prestígio pela Europa.

• Aparência: Cabelos castanho-claros sempre presos com elegância, olhos observadores e uma aura de nobreza clássica. Sua voz é calma, suas palavras medidas, e seus silêncios dizem mais que discursos.

• Personalidade: Sutil, estratégica e profundamente refinada. Helena prefere manipular com afeto e inteligência, não com imposição. Está sempre dez passos à frente — e raramente se deixa ler por completo.

• Histórico: Criada entre Madri, Lisboa e Viena, filha de diplomatas brasileiros e neta de colecionadores de arte. Sua formação mistura cultura e política — uma ponte entre mundos. Casou-se com Henrique aos 27 e teve Thomás pouco depois.

• Relação com Thomás: É mais emocional que o marido, mas nunca totalmente acessível. Trata o filho com elegância e expectativa velada. Teme que ele “sinta demais” para o lugar que o destino reserva — e tenta moldá-lo com gentilezas que soam como ameaças disfarçadas.

Resumo do próx capítulo

Após reunir as provas deixadas por sua avó, Catarina dá início à sua estratégia para desmontar o império que a usou como peça. No centro da jogada está Alexandre Figueira, o vice-presidente do Conselho Valença — e o homem que ajudou a forjar a cláusula que tiraria dela o controle legítimo do império da família.

Ela começa com o mais sutil: plantar dúvidas. Durante um brunch formal com membros do conselho e convidados estrangeiros, Catarina faz perguntas “inocentes” que expõem contradições em versões oficiais sobre o passado da empresa. Tudo é dito com educação impecável — mas com veneno entre as palavras.

Enquanto isso, Thomás também se move: confronta discretamente o irmão, Eduardo, sobre movimentações suspeitas nos contratos da vinícola. O clima entre os irmãos se torna tenso, e Thomás percebe que há mais gente interessada na sua queda do que imaginava.

Em um raro momento de intimidade, Catarina e Thomás se encontram nos jardins da mansão, longe das câmeras. Ela revela a próxima fase do plano: infiltrar-se no próprio conselho, conquistar os aliados certos e expor Figueira — não com escândalo, mas com precisão cirúrgica.

O capítulo termina com Catarina recebendo um bilhete anônimo, deslizado sob a porta do seu quarto. Nele, apenas uma frase escrita à mão:

“Nem todos querem que você vença. Nem todos querem que você sobreviva.”

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