Gordofobia: O Peso que Não se Vê

Página 5 – Gordofobia: O Peso que Não se Vê

"Meu corpo não é um pedido de desculpas. É casa, é história, é existência."

Desde pequena, Letícia sabia que ocupava mais espaço do que a maioria das meninas da sua idade. Aos seis anos, escutava tias comentarem, como se ela não estivesse ali:

— Essa menina vai ter que fechar a boca.

No colégio, ser gorda era como carregar um cartaz invisível escrito: "Me ridicularize". Apelidos como “rolha de poço”, “boi” e “balão” atravessaram os anos como facas finas. Os professores ignoravam. Os colegas riam. A dor, Letícia comia.

A adolescência foi ainda mais cruel. Quando se apaixonou pela primeira vez, escutou da própria melhor amiga:

— Você não tem chance. Ele gosta de menina bonita.

Menina bonita. Letícia nunca se viu assim. Tentou dietas malucas, remédios perigosos, exercícios exaustivos. Emagreceu 12 quilos em dois meses. E desmaiou no terceiro. O médico disse que era anemia. A terapeuta disse que era falta de amor próprio. Letícia não sabia mais o que pensar.

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A faculdade e a mudança de olhar

Quando entrou na faculdade de Psicologia, pensou em desistir na primeira semana. Não se sentia parte. As cadeiras pequenas, as roupas que não cabiam nas lojas do campus, os olhares disfarçados.

Mas foi ali que conheceu Iago. Um colega de turma que se sentava ao lado dela e fazia perguntas gentis, sem forçar conversa. Aos poucos, Iago virou amigo. Depois, confidente. E, mais tarde, algo mais.

— Você é bonita, Letícia. Mas parece que te ensinaram a não acreditar nisso.

Aquilo a tocou. Pela primeira vez, alguém a via inteira. Não como um corpo a ser corrigido, mas como uma pessoa a ser celebrada.

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Internet, raiva e resiliência

Letícia criou um perfil nas redes para falar sobre autoaceitação. No começo, era discreto: fotos, frases motivacionais, textos sobre saúde mental. Quando postou uma imagem de biquíni, recebeu mais de 3 mil comentários. Alguns elogiando. Outros a chamando de irresponsável, doente, "mau exemplo".

Chorou. Mas não apagou.

Escreveu:

"Meu corpo não é público. Não pede aprovação. Ele é meu. E merece respeito."

A postagem viralizou. Começaram a convidá-la para lives, podcasts, debates. Virou referência no movimento antigorofobia. Começou a estudar o tema com profundidade e aplicá-lo na sua formação.

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O amor-próprio como revolução

Letícia entendeu que não precisava amar cada parte do seu corpo todos os dias. Mas podia respeitá-lo, cuidar dele, acolhê-lo. Parou de se esconder em roupas largas. Passou a dançar, a ir à praia, a sentar sem medo. Criou um grupo terapêutico para pessoas gordas. Ali, ouviu histórias como a dela. E percebeu que sua dor tinha nome: gordofobia.

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Hoje, Letícia é psicóloga, escritora e ativista. Tem um consultório com poltronas largas, espelhos sem distorção e livros sobre corpos reais. Mora com Iago. Viaja. Sorri sem pedir desculpas.

Em uma de suas palestras, disse:

— Ser gorda não é defeito, é diversidade. Gordofobia é que é violência. E meu corpo não vai mais pedir perdão por existir.

O auditório aplaudiu de pé. E Letícia, pela primeira vez, acreditou:

Ela sempre foi bonita. O mundo é que precisou mudar o olhar.

Fim.

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Comments

Mochi

Mochi

Ei autora! Cadê o próximo capítulo?? 😩

2025-06-29

1

Ver todos
Capítulos
1 HOMOFOBIA: O silêncio que mata
2 Racismo - Sombras da Desigualdade
3 Machismo: Quando o Corpo da Mulher Vira Campo de Batalha
4 Página 4 – Xenofobia: A Terra Prometida
5 Gordofobia: O Peso que Não se Vê
6 Capacitismo: Capazes de Existir
7 Idadismo: O Tempo que Nos Habita
8 Religiofobia: A Fé Que Resiste
9 Classismo: As Divisórias Invisíveis
10 Preconceito Linguístico: A Voz que Não Se Cala
11 Misoginia: A Dor Silenciosa das Palavras
12 Transfobia: O Corpo Que Habito, A Alma Que Resiste
13 HIV/AIDS: O Preço do Silêncio, O Valor da Verdade
14 Preconceito Regional: Da Roça Pro Mundo
15 OS INVISÍVEIS
16 O Valor Invisível
17 Sozinhas, mas inteiras
18 O Lugar Que Nunca Foi Dado
19 Liberdade que não liberta
20 A Beleza Que Não Se Esconde
21 A Cor da Invisibilidade
22 O Olhar Que Não Entende
23 Tinta Não Define Caráter
24 Invisíveis por Desejo dos Outros
25 Indigenofobia: As Raízes Que Resistiram
26 Preconceito contra mães adolescentes: O Peso do Olhar, a Força do Amor
27 Preconceito contra órfãos ou crianças acolhidas: Sombras que Persistem
28 Preconceito contra pessoas que usam medicamentos psiquiátricos: O Remédio é Cuid
29 Preconceito contra trabalhadores do sexo: Invisíveis à Luz do Dia
30 Amar Mais de Um: Contra a Polifobia
31 "Ela Mereceu Ser Estuprada": Misoginia Extrema e a Culpabilização da Vítima
32 Vozes Unidas : Encontros, Feridas e Coragem
Capítulos

Atualizado até capítulo 32

1
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2
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3
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