VOZES DE CORAGEM: Combatendo o Preconceito
Vozes de Coragem: Combatendo o Preconceito
Página 1 — Homofobia: O Silêncio que Mata
"Se eu soubesse que amar alguém do mesmo sexo custaria tanto, teria aprendido a me esconder melhor." — foi o que Rafael pensou enquanto olhava para o espelho rachado do banheiro da escola. O rosto ainda ardia depois do soco que levou, não apenas do colega de classe, mas da ignorância que atravessava gerações.
Naquele dia, tudo começou com uma pergunta boba:
— Você é gay?
Rafael hesitou. Responder "sim" era abrir a porta da verdade, mas também a da violência. Disse que não. Não convenceu. Pouco tempo depois, estava trancado no banheiro, o corpo curvado, o orgulho em pedaços. Os risos de quem assistia à agressão do lado de fora do banheiro doíam mais do que os golpes.
Rafael tem 16 anos. Mora em uma cidade de médio porte no Brasil, onde todo mundo conhece todo mundo. Vive com os pais — evangélicos fervorosos — e dois irmãos mais novos. Há meses carrega um segredo: está apaixonado por Bruno, colega da escola, que também parece gostar dele, mas tem medo de mostrar. A cada troca de olhares no corredor, há o risco de serem descobertos. E punição não vem só de colegas, mas de pais, professores e até de estranhos na rua.
A história de Rafael é ficção. Mas poderia facilmente ser real. Milhares de jovens LGBTQIA+ vivem cercados de medo, violência e rejeição apenas por quem são. Em 2024, segundo o Grupo Gay da Bahia, mais de 250 pessoas LGBTQIA+ foram assassinadas ou cometeram suicídio no Brasil por conta da LGBTQIA+fobia. São vidas apagadas por preconceito — não por escolha, não por “estilo de vida”, mas por uma sociedade que insiste em não aceitar o diferente.
O lar como primeira trincheira
Na casa de Rafael, o tema “homossexualidade” só aparece em pregações da igreja: “é pecado”, “é doença”, “é influência demoníaca”. A mãe costuma mudar de canal quando vê dois homens se beijando. O pai diz que não criaria um “viado”. Rafael ouve tudo em silêncio. Sabe que, se descobrirem, pode ser expulso de casa. Como já aconteceu com tantos outros jovens. Segundo a Casa 1, organização que acolhe pessoas LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade, a maioria dos acolhidos são jovens entre 18 e 25 anos, expulsos por suas famílias ao revelarem sua orientação sexual ou identidade de gênero.
Rafael guarda suas verdades em um caderno de capa preta. Nele, escreve cartas para Bruno que nunca entrega. Também anota planos de fuga, fantasias de liberdade, e desenhos de como gostaria que o mundo fosse. Um mundo onde ele pudesse caminhar de mãos dadas sem medo, onde amar não fosse um risco.
A escola que educa… ou adoece
Na escola de Rafael, falar de diversidade é tabu. Os professores ignoram os apelidos maldosos. Quando ele foi empurrado na escada, disseram que era “brincadeira de adolescente”. Quando pediu apoio da direção, a resposta foi:
— Tente não se expor tanto.
A escola, que deveria ser espaço de proteção e aprendizado, muitas vezes se torna o palco da opressão. Relatórios da UNESCO apontam que alunos LGBTQIA+ têm rendimento escolar inferior e maiores taxas de evasão por causa de bullying e discriminação. E o pior: a omissão dos adultos normaliza a violência.
Rafael já pensou em abandonar tudo. Às vezes, sonha com um lugar distante, onde ninguém conhece seu nome, onde possa recomeçar. Mas algo dentro dele insiste. Uma força silenciosa que diz: "você merece existir."
A violência silenciosa que grita
A homofobia não se limita a atos brutais. Ela também se esconde em palavras “inocentes”, em piadas, no “não tenho nada contra, mas...”, nos olhares tortos, nas exclusões sutis. É uma violência que muitas vezes não deixa hematomas, mas corrói por dentro. Faz com que pessoas LGBTQIA+ tenham três vezes mais chances de desenvolver depressão e cinco vezes mais propensão ao suicídio, segundo a OMS.
E quando essa violência se institucionaliza, o problema se agrava: faltam políticas públicas, representatividade nas decisões, protocolos de segurança e acolhimento. Mesmo com a criminalização da homofobia no Brasil desde 2019, ainda há resistência para aplicar a lei e proteger quem precisa.
Pequenos atos de coragem
Apesar de tudo, Rafael resiste. Com medo, sim. Com dor, também. Mas resiste.
No final do dia, Bruno o encontra escondido atrás da escola. Traz um curativo. E silêncio. Rafael sorri. Por um instante, o medo cede espaço ao afeto.
Eles não falam nada. Apenas se olham. E naquele momento, entendem que há força em existir, mesmo quando o mundo tenta apagar quem você é.
Rafael ainda não encontrou segurança. Ainda não contou a verdade aos pais. Ainda caminha com cautela pelos corredores da escola. Mas não está mais sozinho. E isso muda tudo. Porque o primeiro passo para combater o preconceito é não permitir que ele cale a sua voz.
E Rafael ainda tem muito a dizer.
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Você diz que não gosta de gays porque ‘Deus criou Adão e Eva’. Mas isso é uma interpretação completamente rasa e literal de um texto simbólico. A história de Adão e Eva é uma alegoria sobre o início da humanidade, não um manual de orientação sexual. Usar isso pra justificar ódio é manipular a religião pra defender seu próprio preconceito.
Além disso, se a gente fosse viver só com base no que tá escrito literalmente na Bíblia, ninguém hoje poderia comer carne de porco, vestir roupa com tecidos mistos ou cortar o cabelo. Isso tudo também está na Bíblia. Por que você ignora essas partes e foca só na que te dá uma desculpa pra julgar os outros?
Jesus nunca condenou os gays. Mas falou várias vezes contra o orgulho, a hipocrisia e o julgamento alheio. Então talvez, se você quer mesmo se dizer cristão, comece amando o próximo como ele é — e não como você acha que ele deveria ser.
Ninguém diz ser preconceituoso, mas na hora não aceita ter um filho LGBT
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Atualizado até capítulo 32
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