5. Cena do banheiro.

Havia mistério nos passos de Liam, uma confiança que beirava o hipnótico. E mesmo sabendo que era errado.

Me vi andando atrás dele, mantendo distância suficiente para que não percebesse.

Ele entrou em um dos corredores mais vazios do colégio e empurrou a porta do banheiro masculino. Parei. O bom senso gritava para eu voltar.

Mas meu corpo não obedecia.

Ouvi vozes. Baixas. Quentes.

Aproximei-me, com o coração acelerado, e toquei de leve a fresta da porta, ela não estava trancada.

E foi então que vi. Liam estava com ela.

A mesma garota que havia me provocado no meu primeiro dia.

Os dois estavam grudados como se o resto do mundo não existisse. Ela o puxava pela gravata com fome, enquanto ele a prensava contra a pia do banheiro, as mãos viajando pelo corpo dela com uma urgência quase violenta. As roupas eram arrancadas como se incomodassem, como se a pele fosse o único lugar permitido.

Meu coração disparou.

Eu deveria ter me virado. Ter corrido dali.

Mas não consegui.

Ela gemeu, puxando os cabelos dele com força. Ele sussurrou algo no ouvido dela, algo que eu não consegui ouvir… mas que a fez arquear o corpo e agarrá-lo com ainda mais ao desespero.

Fiquei paralisada.

E, ao mesmo tempo, algo dentro de mim queimou.

Um calor novo, incômodo. Latejante entre as pernas.

Era desejo?

Eu nunca tinha sentido aquilo. Era como se meu corpo tivesse reagido antes da mente. Como se aquela cena indecente tivesse acordado algo que eu nem sabia que existia.

E mesmo assim… continuei olhando.

Liam a tocava com firmeza, uma intensidade quase coreografada. Havia selvageria. Mas também arte.

Um tipo de prazer bruto, mas envolvente. Como se eu estivesse assistindo um próprio pornô ao vivo.

Meus lábios se entreabriram sem querer, a respiração ficou mais curta. Senti o rosto arder. E foi nesse exato momento que ele me viu.

Liam virou o rosto… e me encarou.

Seus olhos azuis cravaram nos meus pela fresta da porta.

A garota em seu colo, ao notar minha presença, sorriu. Com malícia. Como se gostasse de me ver ali.

E então Liam deu um passo à frente… e empurrou a porta com frieza.

Na minha cara.

Sem dizer uma palavra.

Fiquei ali. Parada. Estúpida. Humilhada.

Apertei os livros contra o peito e corri. Meus passos ecoaram pelo corredor como uma fuga desesperada.

Coração em disparada.

Pernas trêmulas.

E aquele desejo maldito… ainda pulsando dentro de mim.

Voltei para o quarto, me joguei na cama e fiquei encarando o teto.

Aquele colégio tinha regras. Tinha punições. Tinha lendas.

Mas nada me preparou para aquilo.

Nada me preparou para ver Liam.

A porta se abriu como um baque.

— Oi, gata. Voltei! — Vickie surgiu toda animada, jogando os sapatos longe e se jogando na cama como se tivesse voltado de uma guerra.

Ela sorriu pra mim, mas eu mal consegui retribuir. Meu sorriso saiu torto, sem força. A cena ainda rodava na minha cabeça como um filme erótico proibido.

Vickie franziu a testa.

— E essa cara? Vai, conta. Agora que somos amigas, segredos são proibidos. — disse, animada, como se a fofoca fosse um pacto de sangue.

Hesitei.

— Liam Carter… você conhece?

O rosto dela mudou. Da leveza para o alerta.

— O Liam? Você já falou com ele? — Ela se sentou, intrigada. — Ugh. Aquele idiota acha que é o dono da escola. Você sabia que a diretora é mãe dele?

— O quê? — Arregalei os olhos.

— A Helen?

— Sim. A própria. Por isso ele faz o que quer e nunca é punido. Mas por que tá perguntando? Você... gostou dele?

— Não. — Abaixei o olhar. — Eu vi ele com aquela garota. A que me provocou no primeiro dia.

Vickie revirou os olhos, como se o assunto já a cansasse.

— Violet. Claro. Aquela vaca. Eles são tipo… o casal mais insuportável daqui. Todo mundo odeia. Mas continuam juntos, vai entender.

— Eles namoram?

— Infelizmente. Mas não passa de aparência. Zero química. Só ego e pose. — Ela bufou. — Mas o que você viu, exatamente?

Engoli em seco.

— Eles estavam… juntos. No banheiro. Tipo... juntos mesmo.

Vickie piscou, surpresa. Depois se endireitou na cama.

— Espera. Você tá dizendo que viu os dois transando? No banheiro?

Assenti. Vergonha me queimando por dentro.

— Eu meio que os segui… não sei por quê. Curiosidade. Vi tudo. E… ele me viu.

Ela arregalou os olhos, quase sem fôlego.

— Caramba, Bella! Isso é muito sério. Se a diretora soubesse, dava pra ferrar com ele. Você quer fazer isso?

— Não — respondi, de imediato. — Não quero envolver ninguém. Só… esquece.

Vickie bufou, cruzando os braços.

— Você é boazinha demais. Mas tudo bem. Só saiba de uma coisa: esse lugar não é justo. Se você não se proteger, ninguém vai.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Então ela estalou os dedos, mudando de assunto.

— Tá. Assunto encerrado. Vou tomar banho. Se eu não voltar em cinco minutos, me afoguei de tédio. — Piscou e sumiu no banheiro.

Suspirei e me joguei na cama. Peguei o celular e vi o nome da Lily aceso na tela.

Uma nova notificação.

Lily: “E aí, como tá a vida nesse colégio assustador cheio de filhinhos de papai?”

Eu: “Um pesadelo.”

Lily: “Sério tudo isso?”

Eu: “Sério. Segredos estranhos, regras absurdas e uma galera que parece competir pra ver quem quebra mais normas. Ah… e ainda tem umas lendas bizarras rolando pelos corredores.”

Lily: “LENDAS??? Como assim, garota? 😳”

Eu: “Depois te conto com detalhes. Mas e você aí, como tá?”

Lily: “Tô bem… só com saudade. Tipo, muita. A escola ficou sem cor sem você. Ninguém reclama das aulas comigo, ninguém inventa apelido pro diretor, e ninguém rouba minha batata frita na hora do lanche.”

Foi impossível não sorrir. Um sorriso sincero. Quente. Do tipo que a gente sente até os olhos piscarem diferente.

Logo depois, ela mandou uma foto.

Lily e Luke, na escadaria da escola antiga, fazendo careta. Língua de fora, olhos brilhando com glitter e o uniforme bagunçado como sempre. O velho moletom do Luke, os grafites nas paredes do fundo, tudo tão… familiar.

Meu coração apertou.

Senti falta da bagunça da nossa escola.

Dos corredores que eu conhecia de olhos fechados, do cheiro do refeitório, dos bilhetes escondidos no estojo. Do barulho. Da liberdade.

De mim.

De quem eu era antes de tudo isso.

Fiquei olhando pra foto por um tempo. Depois, digitei devagar:

Eu: "Eu sinto falta da escola. Até do portão enferrujado e da goteira da sala 3B.”

Lily: “Awn, amiga... agora eu vou chorar. Quando você voltar, a gente pinta aquele portão inteiro de rosa neon só pra comemorar, ok?”

Sorri. E dessa vez, doeu.

Por que eu sabia que nunca mais poderia voltar ao meu colégio antigo.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!