A porta de ferro rangeu novamente, mas desta vez, a escuridão não foi seu único companheiro. A luz fraca do corredor revelou a figura imponente de Brad parado na entrada da cela, seus olhos escuros fixos em Cristal com uma intensidade perturbadora. Não era mais a raiva cega, mas um misto complexo de ódio, reconhecimento e algo mais que a fez prender a respiração. Ele a vira no café, a desafiara com o olhar, e agora, ela era a suposta assassina de seu irmão. O abismo da ironia a engolia.
"Saia", a voz dele era um comando frio, desprovido de qualquer calor. Ela hesitou, o corpo rígido, mas um olhar gélido de um dos homens atrás de Brad a fez se mover. As mãos que a amarraram antes estavam novamente em seus braços, puxando-a para fora da cela e para o corredor mal iluminado. Cristal esperava ser levada para mais interrogatórios, talvez para algo pior, mas o caminho que seguiram a surpreendeu. Eles subiram escadas, passaram por corredores luxuosos, até chegarem a uma ala mais isolada, ainda dentro da imensa e ostensiva mansão de Brad.
A porta para onde a empurraram abriu-se para um quarto que, à primeira vista, parecia confortável. Uma cama grande e macia, um guarda-roupa, uma pequena escrivaninha. Mas a janela era gradeada, e a porta, ao fechar-se com um clique abafado, revelou a pesada tranca por fora. Era uma prisão dourada. Um cativeiro mais sofisticado, mas ainda assim, um cativeiro. Brad entrou logo atrás dela, seus olhos percorrendo o quarto, e depois voltando para ela, um sorriso sombrio brincando em seus lábios.
"Confortável?", ele questionou, a voz como seda, mas com um veneno por trás de cada palavra. "Este será o seu novo lar, Cristal. Você terá tudo o que precisa. Comida, banho, roupas. Mas não pense que esta é uma gentileza. É apenas o prelúdio. Um palco para o seu inferno pessoal." Ele deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles, e Cristal sentiu seu corpo estremecer, uma mistura inebriante de medo e a repulsiva atração que a enfurecia. "Eu não vou quebrar seus ossos. Eu vou quebrar sua alma. Você vai desejar ter morrido na noite em que meu irmão morreu, quando eu terminar com você." O olhar dele era uma promessa gelada, uma sentença de um destino que ela mal podia conceber. Ele sabia quem ela era, e isso tornava tudo infinitamente pior.
Os primeiros dias na "prisão dourada" foram uma tortura silenciosa para Cristal. A comida chegava regularmente, a água era fresca, e as roupas, simples, mas limpas. No entanto, a liberdade era uma ilusão cruel. A porta estava sempre trancada, e guardas eram uma presença constante do lado de fora. A cada som de passos, Cristal sentia o coração acelerar, esperando por Brad, por alguma nova forma de tormento. Ela tentava manter a sanidade, fazendo exercícios no espaço limitado, revendo mentalmente cada detalhe da noite da tragédia, buscando qualquer prova de sua inocência que pudesse ter escapado. Mas a angústia era constante, um nó apertado em seu peito.
Brad não a confrontava fisicamente, não a agredia com palavras. Seu método era mais insidioso. Ele a visitava, sim, mas não para interrogá-la. Ele simplesmente aparecia, às vezes no meio da noite, parando na porta do quarto, ou no batente da porta do banheiro, com um olhar vazio e frio. Observava-a em silêncio por longos minutos, seus olhos escuros pairando sobre ela, estudando-a. O simples ato de ser observada, de ter sua privacidade e sua existência violadas por aquele olhar penetrante, era uma forma de castigo que a deixava exposta e vulnerável. Ele nunca dizia uma palavra, apenas a fazia sentir-se uma presa em sua jaula, esperando o momento do abate. A cada observação, Cristal sentia sua alma ser corroída, seu espírito sendo testado. Era um jogo cruel, e ela era a peça principal.
Para Brad, cada uma dessas visitas silenciosas era um novo tormento. Ele via a resistência em seus olhos, a dignidade, mesmo na humilhação. A mulher à sua frente não era a assassina fria que ele esperava. Não havia maldade nela, apenas uma resiliência teimosa que, a contragosto, ele começou a admirar. Seus olhos vasculhavam seus movimentos, as nuances de sua expressão. Ele a queria quebrar, fazê-la confessar, mas a cada vez, a imagem dela se chocava com a ideia que ele tinha da culpada. Uma pequena dúvida, fria e persistente, começou a roer as bordas de sua convicção. Ela parecia… genuína em sua negação. E a atração que ele sentia, aquela força magnética que o puxava para ela desde o café, agora era uma tortura silenciosa, misturando-se à sua dor e ao seu desejo de vingança.
A obsessão de Brad com a verdade se intensificava a cada dia. Enquanto Cristal definhava em seu cativeiro dourado, ele mobilizava seus próprios recursos para investigar a noite da tragédia de seu irmão. Os relatórios da polícia eram insuficientes, incompletos para sua sede de vingança e, agora, para a dúvida que corroía sua mente. Ele interrogava seus próprios homens, revia gravações de segurança de pontos próximos, buscando qualquer detalhe, qualquer sombra que pudesse confirmar a culpa de Cristal ou, aterrorizantemente, provar sua inocência. Quanto mais ele investigava, mais as peças do quebra-cabeça pareciam se encaixar de forma estranha, algumas apontando para a evidente inocência de Cristal, outras, para a armadilha em que ela havia caído. A complexidade do mundo da máfia, com suas traições e lealdades disfarçadas, estava se revelando. Em cada nova pista que ele seguia, a figura de Cristal, com sua vulnerabilidade e sua força, se tornava mais clara, mais real, mais impossível de encaixar no papel de assassina. A vingança, antes tão clara e direcionada, começava a se turvar com os tons cinzentos da incerteza, e a sombra de uma atração que ele se recusava a nomear.
Cristal, por sua vez, encontrava uma estranha forma de resistência na solidão forçada. Em vez de se entregar ao desespero, ela usava o tempo para fortalecer sua mente. Relembrava as ruas vibrantes de Istambul, as cores do Grande Bazar, o som dos muezins chamando para a oração, pequenas memórias de uma vida livre que ela se recusava a deixar ser apagada. Ela observava Brad durante suas visitas silenciosas, percebendo a tormenta em seus olhos, a fúria que brigava com uma confusão crescente. Havia momentos em que seus olhares se cruzavam, e uma corrente elétrica, inegável e perigosa, atravessava o quarto, desafiando a razão. Ela sentia a intensidade dele, a dor, e uma parte dela, contra sua vontade, se compadecia, mesmo sabendo que ele era seu carrasco.
Certa noite, Brad entrou no quarto de Cristal. Não para a observar do batente, mas para se aproximar, seus passos ecoando no silêncio. Ele segurava uma foto antiga em suas mãos, o papel amarrotado pela forma como a apertava. Era uma imagem de seu irmão, jovem e sorridente, ao lado de um homem mais velho, desconhecido para Cristal. Brad ergueu o olhar para ela, e a intensidade em seus olhos era avassaladora, uma mistura de dor excruciante e uma dúvida que parecia rasgá-lo por dentro. "Esta foto estava com ele naquela noite", ele disse, a voz áspera, quase um sussurro quebrado. "O que ela significa?" Ele não esperava uma confissão, mas uma explicação, uma resposta que pudesse preencher as lacunas que sua própria investigação havia revelado. Sua promessa de inferno pessoal permanecia, mas agora, ele ansiava por algo mais, uma verdade que Cristal parecia guardar.
Naquela mesma noite, a rotina da mansão sofreu uma pequena, mas crucial, alteração. Duas empregadas conversavam animadamente no corredor, negligenciando por alguns instantes a porta do quarto de Cristal, que não havia sido trancada corretamente após a visita de Brad. Cristal, atenta a qualquer mudança, ouviu o murmúrio abafado e sentiu uma ponta de esperança acender em seu peito. Silenciosamente, ela girou a maçaneta. Para sua surpresa, a porta cedeu com um clique quase inaudível.
O coração de Cristal disparou. Era sua chance. Uma chance arriscada, mas a única que ela tinha. Sem hesitar, ela entreabriu a porta, espiando o corredor vazio. As empregadas haviam se afastado. Respirando fundo, Cristal saiu do quarto, movendo-se furtivamente pelo corredor escuro. Cada passo era uma oração silenciosa por não ser descoberta. Ela precisava sair da mansão, encontrar uma maneira de provar sua inocência, de escapar do inferno pessoal que Brad havia prometido. A liberdade, mesmo que incerta e perigosa, era agora seu único objetivo. Enquanto se afastava silenciosamente, a foto amassada nas mãos de Brad parecia um símbolo do laço quebrado, da dúvida que a havia libertado momentaneamente da sua prisão dourada.
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Atualizado até capítulo 56
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