A escuridão na cela era absoluta, fria e opressora. Cristal tateou ao redor, seus dedos encontrando paredes ásperas e úmidas, antes de se encolher no canto mais distante da porta de ferro. O baque surdo da tranca ainda ecoava em seus ouvidos, e o cheiro de mofo e desespero parecia impregnar o ar. O medo, antes uma onda distante, agora era um oceano que a engolia. Inocente. Ela era inocente. Mas para Brad, para os homens dele, ela era culpada, a responsável pela tragédia que abalara seu império. A injustiça gelou seus ossos, um novo tipo de raiva misturando-se ao terror.
O tempo perdeu o sentido. Minutos se arrastavam como horas, e cada sombra que se movia em sua mente era a figura imponente de Brad, seus olhos escuros agora cheios de ódio. E foi então, no silêncio sufocante, que a peça se encaixou. Aquele cheiro de charuto, a voz grave, a autoridade inquestionável… era o mesmo homem do café. O homem que a havia olhado com uma curiosidade perturbadora, que havia sussurrado sobre o "acaso ter uma memória muito longa". A ironia era cruel, um nó na garganta. O universo conspirava contra ela, jogando-a nos braços daquele que, em outro contexto, havia despertado nela uma atração tão perigosa. Agora, a atração se misturava ao puro terror. Ele queria vingança, e ela era a vítima perfeita, uma marionete inocente em seu jogo de dor.
Lá fora, Brad andava de um lado para o outro em seu escritório, a raiva fervendo em suas veias. A imagem de seu irmão, tão jovem e cheio de vida, desabando, atormentava-o. E a mulher. A teimosia dela o exasperava. Ela se recusava a falar, a confessar o que quer que soubesse. Ele havia imaginado mil formas de punir o responsável, e agora que tinha um alvo, mesmo que ainda sem nome, não recuaria. "Ela tem que falar", ele rosnou para um de seus homens, cujo rosto refletia um misto de medo e respeito. "Não me importa como. Sem comida, sem água. Deixem-na pensar sobre o valor da verdade. Quando ela estiver desesperada o suficiente, ela vai implorar para confessar." Seus olhos escuros fixaram-se na porta da cela. Ele queria a verdade, não importava o custo. Ele queria a vingança. E a mulher lá dentro pagaria por isso.
Cristal cerrou os lábios. O pânico a sufocava, mas a acusação injusta, a forma como ele a olhava como se ela fosse culpada, reacendeu a chama de sua ousadia. Ela não lhes daria a satisfação. "Eu sou inocente", ela declarou, a voz trêmula, mas firme, como um fio de aço. "Não sei do que está falando, nem quem é seu irmão." Cada palavra era um desafio, um muro que ela erguia entre a verdade e a fúria dele. Brad se inclinou para frente, a paciência se esvaindo de seu rosto. Seus olhos se tornaram fendas escuras, avaliando-a, e o sorriso de escárnio que ele exibiu antes de sua voz cortar o ar era glacial.
"Inocente?", ele sibilou, a palavra carregada de desdém. "Ninguém é inocente neste inferno. E ninguém me esconde a verdade." Ele bateu na mesa, o som ecoando no ambiente. "Vocês, peguem-na. Ela vai falar." Antes que pudesse piscar, dois dos homens que estavam de pé perto da porta a agarraram. Cristal tentou resistir, debatendo-se com toda a força que tinha, mas seus esforços eram inúteis contra a força bruta deles. Seus pulsos foram amarrados com rapidez e eficiência a uma cadeira, e ela foi arrastada para um canto escuro da sala. Lá, a porta de ferro de uma pequena cela, antes imperceptível na parede, rangeu ao se abrir. "Ela vai ficar aí até decidir que a verdade é mais confortável que o silêncio", Brad rosnou, sem desviar o olhar dela. "E acredite, ela vai desejar ter falado quando eu acabar com ela." A porta de ferro se fechou com um baque surdo, jogando Cristal em uma escuridão fria e sem esperança, o som do clique da tranca ecoando em seus ouvidos.
Horas se arrastaram, pesadas e silenciosas. Brad estava absorto em seus próprios demônios, até que um de seus homens mais antigos e leais, Ahmet, bateu à porta do escritório. Ahmet havia sido um dos que estava no café. "Chefe", ele começou, hesitante, a voz baixa. "A mulher... ela não parece ter a frieza de alguém que faria tal coisa. E há algo nela que me lembra... a moça do café. Aquela que o desafiou com o olhar."
A menção do café, da "moça", fez Brad parar abruptamente. Seus músculos tensos relaxaram por um segundo, e então se contraíram em choque. As palavras de Ahmet trouxeram à tona a memória vívida de Cristal, sua ousadia, a pureza que ele notara. O rosto dela, antes apenas um borrão da "acusada", começou a tomar forma em sua mente, sobrepondo-se à imagem da mulher na cela. O ar faltou em seus pulmões. Aquela mulher… era ela? A mesma Cristal que o intrigou era a que ele jurava destruir? Um calafrio, diferente de qualquer raiva que já sentira, percorreu seu corpo. O baque foi avassalador. Não era possível. Era uma ironia cruel do destino. Seus olhos, antes ardentes de vingança cega, agora se misturavam com uma confusão gelada, uma pontada de algo que ele não conseguia identificar. A vingança ainda era o que o movia, mas agora, o alvo tinha um rosto. E esse rosto… era o rosto que havia perturbado seus pensamentos desde o dia no 'Amanhecer Dourado'. As punições, ele percebeu, não seriam as mesmas. O jogo acabara de mudar de uma forma que ele jamais imaginou.
Com a mente em turbilhão, Brad se levantou com um movimento rápido e determinado. Seus passos ecoaram pelo escritório, pesados e furiosos, mas agora carregando uma estranha mistura de raiva e algo mais, algo que ele se recusava a nomear. Ele abriu a porta da cela com um rangido metálico, a luz fraca do corredor invadindo a escuridão e revelando a figura encolhida de Cristal no canto. Seus olhos se cravaram nela, não mais com a cegueira da fúria, mas com uma intensidade que reconhecia cada traço, cada curva do rosto que o havia assombrado. Cristal ergueu o olhar, seus olhos fixos nos dele, uma mistura de medo e desafio. Ela percebeu a mudança no olhar dele, a súbita clareza, e soube que ele a havia reconhecido. Um arrepio correu por sua espinha, mas ela não recuou.
Brad deu um passo à frente, sua voz agora um rosnado baixo, quase um sussurro, mas que carregava um peso que a fez tremer. "Então é você", ele disse, o nome dela não pronunciado, mas implícito em cada sílaba, carregado de uma raiva ainda maior, tingida por uma traição pessoal. "A moça do café. O acaso tem, de fato, uma memória muito longa, não tem, Cristal?" Um sorriso sombrio e cruel, desprovido de qualquer calor, distorceu seus lábios. "Acredite, meu inferno será muito mais... pessoal agora."
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Atualizado até capítulo 56
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