5 _ capítulo

RAFAEL carvalho, filho de ANDRÉ e Verónica.

– tarde nublada. Madeira escura, Móveis clássicos.

: André(pai) e Rafael(filho).

 

(Rafael entra no escritório com blazer semiaberto.

André está em pé, olhando pela janela com uma taça de uísque.)

ANDRÉ:

Chegou atrasado.

RAFAEL (calmo):

O trânsito da cidade é igual ao nosso conselho fiscal: lento, confuso e cheio de desvios.

(André não sorri. Vira-se.)

ANDRÉ:

Essa ironia toda não vai te ajudar quando estiver sentado na minha cadeira.

RAFAEL:

Não sei se quero essa cadeira, pai.

ANDRÉ (encara):

Essa cadeira não se “quer”.

Ela se herda.

RAFAEL:

E se eu quiser ser outra coisa?

ANDRÉ:

Então joga seu sobrenome fora.

Mas enquanto usá-lo, vai entender que o nome no prédio vale mais que o nome no túmulo.

(Pausa. Rafael respira fundo.)

RAFAEL:

E o que exatamente você quer que eu entenda hoje?

ANDRÉ (caminha até a mesa, aponta documentos):

Projeto Ribeirão.

A comunidade em cima da terra é um entrave.

Você vai liderar a transição.

Falar com os advogados. Convencer investidores.

E principalmente…

ignorar sentimentalismos.

RAFAEL (folheia):

Isso aqui envolve despejo, pressão política, manobras cartoriais…

ANDRÉ (interrompe):

Isso aqui envolve legado.

Seu avô sujou as mãos pra nos dar o mundo limpo.

Agora é sua vez de manter as luvas brancas.

RAFAEL (mais firme):

E se eu discordar?

Se eu achar que o mundo mudou? Que a verdade não pode mais ser enterrada com escritura?

ANDRÉ (frio):

Então você não está pronto pra herdar nada.

Só pra perder.

(Pausa longa. Rafael fecha a pasta devagar.)

RAFAEL:

Talvez perder… seja o começo de ganhar algo real.

(E sai. André o observa sair com olhos duros — mas por trás, há um medo que não admite.)

***************

noite 🌃

Quarto do casal – noite. Luz suave.

André (marido ) e Verónica (esposa).

 

(Verônica sentada diante da penteadeira, retirando os brincos. André entra e afrouxa a gravata. Silêncio entre os dois, até que ele fala.)

ANDRÉ:

Ele não tem a fibra.

Não tem o instinto.

É gentil demais.

Verónica (sem virar):

Está falando do seu filho… ou de você mesmo, no espelho?

(André suspira e senta-se na poltrona. Apoia os cotovelos nos joelhos.)

ANDRÉ:

Rafael questiona tudo.

Quer ouvir os dois lados, quer fazer certo.

Mas o mundo… não foi feito pra justos.

Foi feito pra quem sabe onde pisar — e quem pisar.

VERÔNICA (se vira, encarando):

Ou talvez você só esteja com medo…

de que ele queira construir um império diferente do seu.

ANDRÉ:

Ele vai se perder.

Vai acreditar em gente como ELIAS .

E quando perceber, será tarde demais.

VERÔNICA:

Você quer um sucessor… ou uma cópia sua?

ANDRÉ:

Quero alguém que entenda que a verdade não sustenta empresa.

Contrato, sim.

VERÔNICA (se aproxima, senta ao lado dele):

Você quer protegê-lo ou controlá-lo?

(Pausa. André não responde de imediato. Está claramente dividido.)

VERÔNICA (baixo):

Talvez ele esteja pronto sim, André.

Só não… pro tipo de mundo que você construiu.

ANDRÉ:

Então ele não vai durar.

VERÔNICA:

Ou vai ser o único que vai… sobreviver.

 

(André está sentado à beira da cama, camisa social aberta no colarinho. Verônica está no closet, pendurando um vestido para o evento beneficente.)

ANDRÉ:

Ele vai inventar uma desculpa.

Dizer que está cansado. Que não suporta os eventos da fundação.

Mas a verdade… é que ele está fugindo de nós.

VERÔNICA (do closet, sem se virar):

Ele está fugindo do que você representa, André.

Não de nós.

ANDRÉ:

Você sempre soube lidar com ele.

Não com cobrança… mas com aquela calma que me irrita tanto quanto me encanta.

(Verônica surge na porta do closet, cruzando os braços, um sorriso enviesado nos lábios.)

VERÔNICA:

Quer que eu jogue xadrez com o nosso próprio filho?

ANDRÉ (sério):

Quero que ele esteja na festa.

Do lado certo.

como um carvalho

E que lembre… que o que ele herda não é só poder. É responsabilidade.

VERÔNICA:

Ou orgulho?

ANDRÉ:

É tudo junto.

Você acha que Helena vai manter Lucas afastado dos negócios por muito tempo?

Lucas já anda metido em coisas que não entende.

Se Rafael se isola… perdemos o controle da situação.

(Verônica senta-se ao lado dele. Há um instante de silêncio.)

VERÔNICA (baixo):

E se ele for mesmo diferente?

ANDRÉ:

Então faça ele parecer igual… por uma noite.

(Verônica respira fundo, encara André. Depois se levanta com elegância.)

VERÔNICA:

Eu falo com ele.

Mas não vou mentir.

ANDRÉ:

Desde que ele vá nessa festa … pode dizer o que quiser.

--

André sabe que está a perder Rafael e tenta manipulá-lo por Verónica, sem confrontá-lo diretamente.

***********

Sala de estar sofisticada,

noite do evento.

Verônica(mãe )e Rafael(filho).

 

(Verônica está lendo um relatório com um cálice de vinho. Rafael entra, já sem paletó, cansado. Ela fecha a pasta devagar.)

VERÔNICA:

essa noite tem o evento da fundação.

é importante pro seu pai que você vá há essa festa

RAFAEL (senta-se no sofá, afrouxando a gravata):

Vou evitar.

Já tem gente chata demais por metro quadrado.

VERÔNICA:

Justamente por isso você deve ir.

RAFAEL:

Não estou com paciência pra sorrir pra gente que lucra em cima da mentira da nossa história.

VERÔNICA (calma, certeira):

Então vá… e observe.

Quem está ao lado de quem. Quem aperta mão e esconde faca.

Você tem visão, Rafael. Mas às vezes, falta presença.

RAFAEL (desconfiado):

Está me testando ou me usando?

VERÔNICA (sorri levemente):

Talvez um pouco dos dois.

Mas se você quer mesmo mudar esse jogo… precisa sentar à mesa.

(Pausa. Rafael a observa, desconfiado e intrigado.)

VERÔNICA:

E quem sabe…

você encontre por lá algo mais interessante que contratos e discursos.

RAFAEL:

Como o quê?

VERÔNICA (levanta-se, caminha até ele):

Como gente que também se sente deslocada.

Como alguém… que talvez te faça pensar duas vezes sobre sair correndo.

(Passos. Ela toca o ombro do filho com delicadeza.)

VERÔNICA (baixo):

Vai, Rafael.

Mas não como herdeiro.

Vai como homem , curta a festa , se divirta

(Ela se afasta, deixando a taça sobre a mesa. Rafael fica pensativo, encarando o próprio reflexo no vidro da janela.)

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