2 _ capítulo

O encontro entre Lucas e Clara mostra a diferença entre mundos — mas também o brilho de algo que começa a despertar entre os dois.

**********

Varanda da casa de Clara – início da noite.

Lucas está sentado num banco rústico de madeira. Clara traz um copo d’água de pote de barro.

CLARA (entregando o copo):

Água do poço.

Melhor do que qualquer garrafinha de vidro com nome francês.

LUCAS (sorri, sincero):

Com certeza tem mais história.

(Bebe com respeito. Clara se senta de frente pra ele, apoiando os cotovelos nos joelhos.)

LUCAS:

Você nasceu aqui?

CLARA:

Nessa terra.

Com barro no pé e vento na testa.

E tudo o que sei, aprendi com a natureza… ou com minha mãe de coração , Celeste não é minha biológica , como se fosse .

Lucas olha em direção à varanda. Dona Celeste está em pé, imóvel, braços cruzados, expressão fechada.

LUCAS:

Ela não parece feliz com minha visita.

CLARA:

Não é nada pessoal.

Ela só sente. E quando sente… acerta.

LUCAS (curioso):

Sente o quê?

CLARA (séria):

Que seu mundo e o nosso não se misturam sem deixar cicatriz.

(Pausa. Lucas observa Clara — seu olhar firme, seus cabelos soltos tocados pelo vento.)

LUCAS:

Você não acha que pode haver um jeito… de encontrar equilíbrio?

CLARA:

Entre quem planta pra viver e quem planta pra lucrar?

LUCAS:

Entre quem tem terra… e quem tem verdade.

(Clara o encara por um instante, depois desvia o olhar para as árvores.)

CLARA:

( Elias , pai de celeste) , sempre disse: a terra guarda o que o homem tenta esconder.

Ela devolve.

Um dia ou outro, tudo o que foi enterrado… volta.

(Dona Celeste dá dois passos lentos em direção à porta. Clara percebe, mas continua tranquila.)

CLARA (baixo):

Se você veio até aqui só pra entender

… já viu o suficiente.

LUCAS:

E se eu tiver vindo pra entender… você?

(Pausa longa. O vento balança as folhas. Dona Celeste então fala, seca, da porta.)

DONA CELESTE:

Clara… já anoiteceu . visita que chega com o sol, deve partir com ele.

(Clara se levanta com calma. Lucas também. O silêncio entre os três é espesso.)

CLARA:

A gente continua outra hora.

Se for de verdade… você volta.

LUCAS:

Eu volto.

Clara acompanha Lucas até o portão. Dona Celeste continua olhando. Quando Clara volta para dentro, fecha a porta com firmeza.

(Do lado de fora, Lucas respira fundo antes de entrar no carro.

************

Dentro da casa, Dona Celeste encara a Clara..)

(A luz da lamparina projeta sombras nas paredes. Clara lava um copo na pia. Dona Celeste está sentada à mesa, calada, mexendo uma infusão numa caneca de barro. O silêncio entre as duas é pesado. Até que Celeste rompe.)

DONA CELESTE:

Sabe por que o rio nunca corre em linha reta?

CLARA (sem virar):

Porque a terra ensina ele a respeitar os contornos?

DONA CELESTE:

Porque se corresse direto… ia destruir tudo que tivesse no caminho.

(Clara seca o copo devagar. Sabe que o assunto é outro.)

CLARA:

Foi só uma conversa, mãe

( criada desde que nasceu , clara chama celeste de mãe,).

DONA CELESTE:

ele é um Amaral… nenhuma conversa é só uma conversa.

CLARA:

Ele foi respeitoso. Diferente.

DONA CELESTE:

Diferente… é como a chuva começa. Mansa.

Mas quando a gente vê , o chão já virou lama.

(Clara se vira, encara celeste. Com ternura, mas firmeza.)

CLARA:

O mundo muda, mãe.

As pessoas também.

DONA CELESTE (olhos cravados nela):

Não quando o sangue grita mais alto que o coração.

(Pausa. Clara se senta. Respira fundo.)

CLARA:

Você sabe algo que não tá me dizendo?

(Dona Celeste não responde de imediato. Seus olhos se perdem por um instante no vapor do chá.)

DONA CELESTE:

Só sei que a dor que veio dessa família… ainda ecoa nas raízes dessa terra.

E você, minha filha, é raiz. Não foi feita pra ser cortada por encanto de galho bonito.

(Clara baixa os olhos, tocada.)

CLARA:

E se ele for… diferente mesmo?

DONA CELESTE (sussurra):

Então ele que prove…

…que pode pisar aqui sem arrancar o chão.

*************

Bar discreto no centro da cidade – fim da noite.

_ Lucas e Caio (melhor amigo).

(Caio e Lucas estão numa mesa de canto. O ambiente é aconchegante, luz baixa. Dois copos de cerveja pela metade.)

CAIO:

Então me diz de novo…

Você saiu da sua casa, dirigiu até o fim do mundo, tomou água de pote de barro…

e agora tá aí, com essa cara de quem ouviu uma música que não sai da cabeça?

LUCAS (dá uma risada seca):

Parece ridículo, né?

CAIO:

Não.

Parece grave.

LUCAS:

Ela é diferente, Caio.

Não tem filtro, não tem pose.

Fala como quem sabe a raiz de cada palavra que usa.

E quando me olha…

é como se enxergasse o que nem eu sei que sou.

CAIO (encosta no banco, pensativo):

Isso é coisa rara.

Ou perigosa.

LUCAS:

Talvez os dois.

CAIO:

E o que a Dona Helena vai achar disso?

LUCAS:

Ela não pode achar nada… porque ainda não sabe.

E quando souber… vai virar tempestade.

CAIO:

Você vai aguentar?

LUCAS:

Não sei.

Mas eu sei que…

em todos esses anos, com todo o luxo, os jantares, as heranças, os nomes…

ninguém nunca me fez querer merecer o chão que pisa.

CAIO (encara o amigo, mais sério):

Cara…

Você nunca falou assim de ninguém.

Nem daquelas três modelos, nem da arquiteta, nem da… como era o nome da loira que foi pra Milão?

LUCAS (sorri):

Exatamente.

Com Clara… eu quero ouvir silêncio.

E aprender a ficar.

(Pausa. Caio gira o copo devagar.)

CAIO:

Então, irmão… prepara teu mundo.

Porque se ela é tudo isso mesmo…

a queda vai ser sua ou da estrutura que te fez.

LUCAS:

Talvez das duas.

Caio

está mesmo encantado por essa moça, sabe que a sua mãe jamais vai aceitar essa moça .

LUCAS:

Por que ela não conhece CLARA, assim que conhecer, ela entender, por que me encantei por ela.

CAIO:

Sabe que isso implica diretamente nos negócios da sua mãe.

LUCAS:

as terras do Ribeirão, lugar onde CLARA mora com a família dela.

CAIO :

você sabe, aquela gente vai ser expulsa dessas terras, essa moça não vai aceita.

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