O encontro entre Lucas e Clara mostra a diferença entre mundos — mas também o brilho de algo que começa a despertar entre os dois.
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Varanda da casa de Clara – início da noite.
Lucas está sentado num banco rústico de madeira. Clara traz um copo d’água de pote de barro.
CLARA (entregando o copo):
Água do poço.
Melhor do que qualquer garrafinha de vidro com nome francês.
LUCAS (sorri, sincero):
Com certeza tem mais história.
(Bebe com respeito. Clara se senta de frente pra ele, apoiando os cotovelos nos joelhos.)
LUCAS:
Você nasceu aqui?
CLARA:
Nessa terra.
Com barro no pé e vento na testa.
E tudo o que sei, aprendi com a natureza… ou com minha mãe de coração , Celeste não é minha biológica , como se fosse .
Lucas olha em direção à varanda. Dona Celeste está em pé, imóvel, braços cruzados, expressão fechada.
LUCAS:
Ela não parece feliz com minha visita.
CLARA:
Não é nada pessoal.
Ela só sente. E quando sente… acerta.
LUCAS (curioso):
Sente o quê?
CLARA (séria):
Que seu mundo e o nosso não se misturam sem deixar cicatriz.
(Pausa. Lucas observa Clara — seu olhar firme, seus cabelos soltos tocados pelo vento.)
LUCAS:
Você não acha que pode haver um jeito… de encontrar equilíbrio?
CLARA:
Entre quem planta pra viver e quem planta pra lucrar?
LUCAS:
Entre quem tem terra… e quem tem verdade.
(Clara o encara por um instante, depois desvia o olhar para as árvores.)
CLARA:
( Elias , pai de celeste) , sempre disse: a terra guarda o que o homem tenta esconder.
Ela devolve.
Um dia ou outro, tudo o que foi enterrado… volta.
(Dona Celeste dá dois passos lentos em direção à porta. Clara percebe, mas continua tranquila.)
CLARA (baixo):
Se você veio até aqui só pra entender
… já viu o suficiente.
LUCAS:
E se eu tiver vindo pra entender… você?
(Pausa longa. O vento balança as folhas. Dona Celeste então fala, seca, da porta.)
DONA CELESTE:
Clara… já anoiteceu . visita que chega com o sol, deve partir com ele.
(Clara se levanta com calma. Lucas também. O silêncio entre os três é espesso.)
CLARA:
A gente continua outra hora.
Se for de verdade… você volta.
LUCAS:
Eu volto.
Clara acompanha Lucas até o portão. Dona Celeste continua olhando. Quando Clara volta para dentro, fecha a porta com firmeza.
(Do lado de fora, Lucas respira fundo antes de entrar no carro.
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Dentro da casa, Dona Celeste encara a Clara..)
(A luz da lamparina projeta sombras nas paredes. Clara lava um copo na pia. Dona Celeste está sentada à mesa, calada, mexendo uma infusão numa caneca de barro. O silêncio entre as duas é pesado. Até que Celeste rompe.)
DONA CELESTE:
Sabe por que o rio nunca corre em linha reta?
CLARA (sem virar):
Porque a terra ensina ele a respeitar os contornos?
DONA CELESTE:
Porque se corresse direto… ia destruir tudo que tivesse no caminho.
(Clara seca o copo devagar. Sabe que o assunto é outro.)
CLARA:
Foi só uma conversa, mãe
( criada desde que nasceu , clara chama celeste de mãe,).
DONA CELESTE:
ele é um Amaral… nenhuma conversa é só uma conversa.
CLARA:
Ele foi respeitoso. Diferente.
DONA CELESTE:
Diferente… é como a chuva começa. Mansa.
Mas quando a gente vê , o chão já virou lama.
(Clara se vira, encara celeste. Com ternura, mas firmeza.)
CLARA:
O mundo muda, mãe.
As pessoas também.
DONA CELESTE (olhos cravados nela):
Não quando o sangue grita mais alto que o coração.
(Pausa. Clara se senta. Respira fundo.)
CLARA:
Você sabe algo que não tá me dizendo?
(Dona Celeste não responde de imediato. Seus olhos se perdem por um instante no vapor do chá.)
DONA CELESTE:
Só sei que a dor que veio dessa família… ainda ecoa nas raízes dessa terra.
E você, minha filha, é raiz. Não foi feita pra ser cortada por encanto de galho bonito.
(Clara baixa os olhos, tocada.)
CLARA:
E se ele for… diferente mesmo?
DONA CELESTE (sussurra):
Então ele que prove…
…que pode pisar aqui sem arrancar o chão.
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Bar discreto no centro da cidade – fim da noite.
_ Lucas e Caio (melhor amigo).
(Caio e Lucas estão numa mesa de canto. O ambiente é aconchegante, luz baixa. Dois copos de cerveja pela metade.)
CAIO:
Então me diz de novo…
Você saiu da sua casa, dirigiu até o fim do mundo, tomou água de pote de barro…
e agora tá aí, com essa cara de quem ouviu uma música que não sai da cabeça?
LUCAS (dá uma risada seca):
Parece ridículo, né?
CAIO:
Não.
Parece grave.
LUCAS:
Ela é diferente, Caio.
Não tem filtro, não tem pose.
Fala como quem sabe a raiz de cada palavra que usa.
E quando me olha…
é como se enxergasse o que nem eu sei que sou.
CAIO (encosta no banco, pensativo):
Isso é coisa rara.
Ou perigosa.
LUCAS:
Talvez os dois.
CAIO:
E o que a Dona Helena vai achar disso?
LUCAS:
Ela não pode achar nada… porque ainda não sabe.
E quando souber… vai virar tempestade.
CAIO:
Você vai aguentar?
LUCAS:
Não sei.
Mas eu sei que…
em todos esses anos, com todo o luxo, os jantares, as heranças, os nomes…
ninguém nunca me fez querer merecer o chão que pisa.
CAIO (encara o amigo, mais sério):
Cara…
Você nunca falou assim de ninguém.
Nem daquelas três modelos, nem da arquiteta, nem da… como era o nome da loira que foi pra Milão?
LUCAS (sorri):
Exatamente.
Com Clara… eu quero ouvir silêncio.
E aprender a ficar.
(Pausa. Caio gira o copo devagar.)
CAIO:
Então, irmão… prepara teu mundo.
Porque se ela é tudo isso mesmo…
a queda vai ser sua ou da estrutura que te fez.
LUCAS:
Talvez das duas.
Caio
está mesmo encantado por essa moça, sabe que a sua mãe jamais vai aceitar essa moça .
LUCAS:
Por que ela não conhece CLARA, assim que conhecer, ela entender, por que me encantei por ela.
CAIO:
Sabe que isso implica diretamente nos negócios da sua mãe.
LUCAS:
as terras do Ribeirão, lugar onde CLARA mora com a família dela.
CAIO :
você sabe, aquela gente vai ser expulsa dessas terras, essa moça não vai aceita.
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Atualizado até capítulo 26
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