Capítulo 5 — Entre Silêncios e Confissões

Na manhã seguinte, o céu limpou depois da chuva. O ar fresco espalhou-se por toda a fazenda, e o som das aves cantando nas árvores criava uma melodia suave que contrastava com os dias cinzentos anteriores. Valentina acordou sentindo-se diferente, como se o momento vivido com Antônio no dia anterior tivesse deixado nela uma marca invisível.

Ao se arrumar e descer até a cozinha, foi recebida pelo cheiro reconfortante do pão que Marta acabava de tirar do forno.

— Você dormiu bem? — perguntou a cozinheira, com um sorriso caloroso que deixava entrever o carinho que começava a nutrir por Valentina.

— Melhor que nos outros dias — respondeu a jovem, retribuindo o sorriso. — A chuva sempre me dá uma sensação boa, como se lavasse as preocupações.

Marta assentiu e serviu uma fatia generosa com geleia caseira.

— Tem razão. E parece que essa tempestade também limpou alguma coisa aqui dentro — disse, apontando para o próprio peito. — Ontem à noite eu vi o patrão voltando da chuva. Ele parecia mais leve… como se alguma coisa tivesse mudado.

Valentina apenas sorriu, sentindo o calor subir às bochechas. Ela sabia que o momento que partilhara com Antônio havia sido simples, quase silencioso, mas de uma intensidade que a marcara.

Depois do café, Valentina decidiu ajudar Daniel a organizar as ferramentas que estavam espalhadas pelo galpão. O dia prometia muito trabalho e ela sabia que manter-se ocupada a ajudaria a organizar os próprios pensamentos.

Enquanto arrumava os caixotes, Daniel apareceu, secando o rosto com um lenço.

— Você viu meu irmão hoje? — perguntou casualmente.

— Não. Desde cedo que ele sumiu pra ver o gado — respondeu Valentina, tentando parecer despreocupada.

— Antônio sempre foi assim — disse Daniel, apoiando-se contra uma das vigas. — Quando precisa pensar, ele mergulha no trabalho até se esgotar.

Valentina parou o que fazia e o encarou, hesitante.

— Você acha que ele vai superar o que aconteceu? — perguntou num tom baixo, quase temerosa da própria pergunta.

Daniel refletiu por um momento antes de responder.

— Acho que ele nunca vai esquecer a Lúcia. Ela foi o amor da vida dele. Mas… talvez ele possa reaprender a viver, com o tempo e com as pessoas certas por perto.

Os olhos de Valentina baixaram para as mãos sujas de poeira. Ela entendia o que Daniel queria dizer. Por mais que a dor fosse antiga e profunda, talvez existisse um caminho para que Antônio voltasse a sorrir novamente.

Ao fim da manhã, enquanto pendurava algumas ferramentas no galpão, Valentina viu a figura dele surgir ao longe. Caminhava devagar, os passos pesados, mas o olhar menos sombrio que nos outros dias. Ela sentiu um frio suave na barriga quando os olhos dos dois se cruzaram por um breve instante antes que ele desviasse o rosto.

Mesmo assim, alguma coisa havia mudado entre eles. Era como se a conversa silenciosa que partilharam no meio da chuva tivesse aberto uma porta que antes permanecera trancada.

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Na hora do almoço, todos se reuniram à mesa. Marta serviu um ensopado perfumado e pães frescos, e a cozinha logo se encheu com o som das vozes abafadas e talheres batendo nos pratos. Antônio comeu em silêncio, como sempre, mas Valentina pôde ver que ele lançava olhares discretos para ela quando pensava que ninguém percebia.

Depois da refeição, Antônio levantou-se e pigarreou.

— Valentina — disse num tom inesperadamente suave —, preciso que me ajude com o armazém depois. Temos que arrumar as prateleiras e separar o que precisa ser vendido.

A simples menção ao nome dela fez o coração da jovem disparar. Ela respondeu apenas com um aceno, tentando disfarçar o calor que sentia subir às suas faces.

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Horas depois, quando o sol começava a declinar, os dois seguiram em direção ao armazém. O ambiente ali dentro era abafado e cheirava a madeira e milho. Sem dizer muita coisa, começaram a organizar os sacos e engradados, cada um ocupado com uma tarefa.

O som da palha estalando e o barulho distante do vento entre as árvores criavam uma atmosfera quase íntima. Foi então que Antônio quebrou o silêncio.

— Valentina… — começou, hesitante. Ela o olhou, esperando que ele continuasse. — Você me lembra alguém que eu já conheci.

A voz dele soava grave, mas havia nela uma emoção que Valentina nunca ouvira antes.

— Lúcia? — arriscou, com o tom mais delicado que conseguiu.

Antônio assentiu devagar.

— Ela também tinha esse olhar atento, como se pudesse enxergar além das palavras.

Valentina sentiu o peito apertar. Por um momento, desejou que ele pudesse ver que a dor que carregava também a tocava.

— Ela devia ser especial — respondeu baixinho.

— Era — disse ele num suspiro longo, e então se calou.

O silêncio que se seguiu foi cheio de significados. Valentina hesitou por um momento, depois aproximou-se dele, quase tocando-lhe o braço.

— Antônio, sei que nunca vou ocupar o lugar dela. Ninguém vai. Mas… eu posso estar aqui, se um dia você precisar.

Ao ouvir isso, ele ergueu os olhos e a encarou por longos segundos, como se ponderasse cada palavra. Depois, num gesto inesperado, tocou a mão dela com a própria, num contato breve e cheio de calor.

— Você já está aqui — respondeu, num tom baixo que fez Valentina prender a respiração.

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Ao saírem do armazém, o céu começava a tingir-se com as cores avermelhadas do entardecer. Caminharam em silêncio até a casa, mas desta vez o silêncio entre eles era diferente — mais calmo, quase cúmplice.

Enquanto o dia ia se despedindo, Valentina sabia que algo havia mudado definitivamente entre os dois. E, no fundo do peito, sentiu que aquele momento simples e verdadeiro marcava o início de uma nova fase. Não sabia ainda para onde essa estrada a levaria, mas sabia que não voltaria a ser a mesma.

E Antônio, que por tanto tempo vivera mergulhado em sua própria sombra, sentiu, ainda que timidamente, que a esperança começava a brotar novamente no solo fértil da sua própria dor.

Capítulos
1 Capítulo 1 — Sob o Céu Cinzento
2 Capítulo 2 — Sob o Olhar da Noite
3 Capítulo 3 — A Marca do Passado
4 Capítulo 4 — Ecos da Tempestade
5 Capítulo 5 — Entre Silêncios e Confissões
6 Capítulo 6 — Um Novo Amanhecer
7 Capítulo 7 — Sob o Céu Estrelado
8 Capítulo 8 — Confissões Sob a Luz do Luar
9 Capítulo 9 — O Peso das Lembranças
10 Capítulo 10 — Sob as Marcas do Passado
11 Capítulo 11 — O Amanhecer de um Novo Sentimento
12 Capítulo 12 — A Primeira Tempestade
13 Capítulo 13 — Depois da Tempestade
14 Capítulo 14 — Sob o Céu das Confissões
15 Capítulo 15 — Um Novo Amanhecer
16 Capítulo 16 — Sementes e Promessas
17 Capítulo 17 — Vínculos que Fortalecem
18 Capítulo 18 — Ecos do Coração
19 Capítulo 19 — A Colheita da Esperança
20 Capítulo 20 — Sob a Luz das Estrelas
21 Capítulo 21 — Florescendo Juntos
22 Capítulo 22 — Ventos Antigos
23 Capítulo 23 — A Voz da Verdade
24 Capítulo 24 — Fortes Como a Terra
25 Capítulo 25 — Raízes e Asas
26 Capítulo 26 — Sementes do Passado
27 Capítulo 27 — Entre Trincas e Flores
28 Capítulo 28 — A Sombra na Estrada
29 Capítulo 29 — O Som da Tempestade
30 Capítulo 30 — Quando a Terra Grita
31 Capítulo 31 — Cicatrizes Abertas
32 Capítulo 32 — Vozes da Terra
33 Capítulo 33 — O Peso do Silêncio
34 Capítulo 34 — Sementes de Justiça
35 Capítulo 35 — Depois da Tempestade
36 Capítulo 36 — Quando a Terra Ensina a Esperar
37 Capítulo 37 — Asas que Sabem Voltar
38 Capítulo 38 — Raízes que se Entrelaçam
39 Capítulo 39 — O Amor Também É Terra Fértil
40 Capítulo 40 — O Recomeço do Recomeço
41 Capítulo 41 — Sementes do Amanhã, Sombras do Ontem
42 Capítulo 42 — Herdeiros da Terra, Alvos do Passado
43 Capítulo 43 — Terra de Segredos e Tempestades
44 Capítulo 44 — Onde as Raízes Encontram a Verdades
45 Capítulo 45 — Quando Flores Nascem em Terrenos Feridos
46 Capítulo 46 — Aurora: A Criança da Terra
47 Capítulo 47 — A Menina e o Mundo
48 Capítulo 48 — Silêncios Que Também Gritam
49 Capítulo 49 — Cuidar Também é Lutar
50 Capítulo 50 — Sementes do Amanhã
51 Capítulo 51 — As Sombras Também Têm Voz
52 Capítulo 52 — Quando o Vento Muda de Direção
53 Capítulo 53 — O Preço do Progresso
54 Capítulo 54 — Vozes do Passado
55 Capítulo 55 — A Terra Ensina
56 Capítulo 56 — O Peso do Crescimento
57 Capítulo 57 — A Voz Que Ecoa
58 Capítulo 58 — Quando o Passado Não Dorme
59 Capítulo 59 — Terra em Julgamento
60 Capítulo 60 — O Dia em que a Terra Ganhou Voz
61 Capítulo 61 — Quando a Paz Também Cansa
62 Capítulo 62 — Quando o Inimigo Vem de Dentro
63 Capítulo 63 — Quando o Passado Bate à Porta
64 Capítulo 64 — Vozes que Não se Calam Mais
65 Capítulo 65 — Ecos do Tribunal
66 Capítulo 66 — A Colheita da Esperança
67 Capítulo 67 — Vozes Queimadas, Vozes Vivas
68 Capítulo 68 — Vozes no Tribunal
69 Capítulo 69 — O Peso da Verdade
70 Capítulo 70 — Raízes de Liberdade
Capítulos

Atualizado até capítulo 70

1
Capítulo 1 — Sob o Céu Cinzento
2
Capítulo 2 — Sob o Olhar da Noite
3
Capítulo 3 — A Marca do Passado
4
Capítulo 4 — Ecos da Tempestade
5
Capítulo 5 — Entre Silêncios e Confissões
6
Capítulo 6 — Um Novo Amanhecer
7
Capítulo 7 — Sob o Céu Estrelado
8
Capítulo 8 — Confissões Sob a Luz do Luar
9
Capítulo 9 — O Peso das Lembranças
10
Capítulo 10 — Sob as Marcas do Passado
11
Capítulo 11 — O Amanhecer de um Novo Sentimento
12
Capítulo 12 — A Primeira Tempestade
13
Capítulo 13 — Depois da Tempestade
14
Capítulo 14 — Sob o Céu das Confissões
15
Capítulo 15 — Um Novo Amanhecer
16
Capítulo 16 — Sementes e Promessas
17
Capítulo 17 — Vínculos que Fortalecem
18
Capítulo 18 — Ecos do Coração
19
Capítulo 19 — A Colheita da Esperança
20
Capítulo 20 — Sob a Luz das Estrelas
21
Capítulo 21 — Florescendo Juntos
22
Capítulo 22 — Ventos Antigos
23
Capítulo 23 — A Voz da Verdade
24
Capítulo 24 — Fortes Como a Terra
25
Capítulo 25 — Raízes e Asas
26
Capítulo 26 — Sementes do Passado
27
Capítulo 27 — Entre Trincas e Flores
28
Capítulo 28 — A Sombra na Estrada
29
Capítulo 29 — O Som da Tempestade
30
Capítulo 30 — Quando a Terra Grita
31
Capítulo 31 — Cicatrizes Abertas
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Capítulo 32 — Vozes da Terra
33
Capítulo 33 — O Peso do Silêncio
34
Capítulo 34 — Sementes de Justiça
35
Capítulo 35 — Depois da Tempestade
36
Capítulo 36 — Quando a Terra Ensina a Esperar
37
Capítulo 37 — Asas que Sabem Voltar
38
Capítulo 38 — Raízes que se Entrelaçam
39
Capítulo 39 — O Amor Também É Terra Fértil
40
Capítulo 40 — O Recomeço do Recomeço
41
Capítulo 41 — Sementes do Amanhã, Sombras do Ontem
42
Capítulo 42 — Herdeiros da Terra, Alvos do Passado
43
Capítulo 43 — Terra de Segredos e Tempestades
44
Capítulo 44 — Onde as Raízes Encontram a Verdades
45
Capítulo 45 — Quando Flores Nascem em Terrenos Feridos
46
Capítulo 46 — Aurora: A Criança da Terra
47
Capítulo 47 — A Menina e o Mundo
48
Capítulo 48 — Silêncios Que Também Gritam
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Capítulo 49 — Cuidar Também é Lutar
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Capítulo 50 — Sementes do Amanhã
51
Capítulo 51 — As Sombras Também Têm Voz
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Capítulo 52 — Quando o Vento Muda de Direção
53
Capítulo 53 — O Preço do Progresso
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Capítulo 54 — Vozes do Passado
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Capítulo 55 — A Terra Ensina
56
Capítulo 56 — O Peso do Crescimento
57
Capítulo 57 — A Voz Que Ecoa
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Capítulo 58 — Quando o Passado Não Dorme
59
Capítulo 59 — Terra em Julgamento
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Capítulo 60 — O Dia em que a Terra Ganhou Voz
61
Capítulo 61 — Quando a Paz Também Cansa
62
Capítulo 62 — Quando o Inimigo Vem de Dentro
63
Capítulo 63 — Quando o Passado Bate à Porta
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Capítulo 64 — Vozes que Não se Calam Mais
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Capítulo 65 — Ecos do Tribunal
66
Capítulo 66 — A Colheita da Esperança
67
Capítulo 67 — Vozes Queimadas, Vozes Vivas
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Capítulo 68 — Vozes no Tribunal
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Capítulo 69 — O Peso da Verdade
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Capítulo 70 — Raízes de Liberdade

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