Capítulo 2 — Sob o Olhar da Noite

A noite caiu como um manto escuro sobre a Fazenda Estrela Velha, abafando os ruídos do dia e espalhando um frescor suave que trazia alívio ao calor intenso da tarde. Valentina trancou a porta do quarto, sentindo o corpo pesado e a mente cheia de impressões. Ela nunca imaginara que um lugar tão simples pudesse carregar uma energia tão intensa.

Na cozinha, a luz tênue da lamparina desenhava sombras inquietas nos cantos, e o perfume de café recém-coado misturava-se ao cheiro da madeira antiga. Marta mexia um panelão de sopa com a destreza de quem sabia cada detalhe da casa.

— Vem comer alguma coisa antes que esfrie — disse Marta quando viu Valentina espiar da porta. — Trabalhou bastante hoje.

— Obrigada — respondeu Valentina, sentando-se à mesa e sentindo o calor do vapor subir. — A fazenda é muito bonita. Tem algo nela que prende a gente aqui.

Marta soltou um riso abafado.

— Bonita, sim. Mas cheia de histórias que o vento sussurra quando a noite cai. — Ela fez uma pausa, como se pensasse melhor no que dizia, e depois mudou o tom. — Você vai se acostumar. No começo tudo parece estranho, mas logo vira casa.

Valentina assentiu, saboreando a sopa. Por um momento, o calor simples da comida e o som distante das cigarras a tranquilizaram. Mas a presença constante de Antônio ainda a intrigava. Por que ele mal falava? Por que os olhos dele pareciam sempre distantes, como presos a algo que não podia ser dito em voz alta?

Depois que terminou a refeição, decidiu que o melhor era descansar. Caminhou até o quarto sentindo o piso frio sob os pés, e quando passou pelo corredor que levava à ala leste, reparou que uma porta permanecia entreaberta — o que deveria ser o escritório do patrão.

A tentação foi mais forte que a prudência. Com passos leves, Valentina se aproximou e espiou para dentro. A luz da lua que entrava por uma janela alta iluminava o cômodo o suficiente para que ela visse estantes abarrotadas de livros empoeirados, uma escrivaninha cheia de papéis e um velho porta-retratos virado para baixo.

Sentindo um misto de curiosidade e culpa, entrou devagar. Tocou a madeira lisa da mesa e virou o porta-retratos. A imagem a fez prender a respiração: uma jovem sorridente, segurando um ramalhete de flores silvestres, os olhos cheios de esperança. Por um segundo, Valentina teve a nítida impressão de que já vira aquele rosto antes, mas não sabia dizer quando nem onde.

— Não devia estar aqui.

A voz grave soou tão perto que Valentina quase deixou o retrato cair. Ela virou-se num sobressalto e viu Antônio parado à porta, o semblante fechado.

— Eu… Desculpe. Não quis invadir — disse, a voz trêmula.

Antônio apenas entrou e pegou o porta-retratos com calma, devolvendo-o ao lugar.

— Às vezes, o melhor que fazemos é respeitar o que ficou para trás.

As palavras dele foram tão pesadas quanto o ar entre eles. Por um momento, os olhos escuros dele a prenderam num silêncio cheio de significados. Então ele apenas fez um aceno breve, como quem a dispensava, e saiu sem dizer mais nada.

No quarto, Valentina fechou a porta com o coração disparado. Havia algo em Antônio que ia além da simples rispidez. Era como uma dor antiga, que ele tentava disfarçar atrás da postura autoritária. E Valentina, que sempre fora boa em sentir o que os outros tentavam esconder, sabia que ali havia uma história.

Os dias seguintes seguiram num ritmo cadenciado entre os afazeres da casa e as longas conversas com Marta e Daniel. A cada novo detalhe que descobria — um pomar escondido atrás da casa, um riacho que corria entre pedras lisas no fim do campo — Valentina sentia-se mais ligada àquele lugar.

Em uma dessas manhãs, Daniel a chamou para cavalgar.

— Vem — ele disse, entregando-lhe as rédeas de uma égua mansa. — Quero te mostrar um ponto da fazenda que quase ninguém conhece.

Entre galopes e risadas abafadas, atravessaram o pasto até alcançar uma colina suave, de onde se via toda a propriedade estender-se até o horizonte. Valentina ficou em silêncio, sentindo o vento brincar com seus cabelos.

— Quando a gente era pequeno — começou Daniel —, meu irmão me trazia aqui quase todos os dias. Ele dizia que a fazenda era um tipo de promessa, que a gente nunca ia perdê-la, acontecesse o que fosse.

Valentina olhou para ele, percebendo o tom nostálgico em sua voz.

— E isso mudou?

Daniel respondeu num suspiro.

— Mudou quando perdemos a nossa mãe. Antônio nunca mais foi o mesmo. Ele carrega essa terra nos ombros como um fardo, não como um presente.

A conversa deixou Valentina pensativa. Ela começava a compreender que por trás da fachada dura e fria de Antônio havia um homem que já amara profundamente e que fora ferido por perdas que nunca superara.

Na volta para casa, com o pôr do sol tingindo o céu em tons avermelhados, Valentina sentiu que a fazenda começava a entrelaçar-se a sua própria história. Ela sabia que a convivência com todos ali, especialmente com Antônio, ainda guardava muitos desafios — mas também a promessa de um recomeço inesperado.

Ao adormecer naquela noite, o som distante do vento entre as árvores soava quase como uma canção, lembrando-a de que, às vezes, o destino nos conduz a lugares que jamais imaginamos — e que são exatamente onde devemos estar.

Capítulos
1 Capítulo 1 — Sob o Céu Cinzento
2 Capítulo 2 — Sob o Olhar da Noite
3 Capítulo 3 — A Marca do Passado
4 Capítulo 4 — Ecos da Tempestade
5 Capítulo 5 — Entre Silêncios e Confissões
6 Capítulo 6 — Um Novo Amanhecer
7 Capítulo 7 — Sob o Céu Estrelado
8 Capítulo 8 — Confissões Sob a Luz do Luar
9 Capítulo 9 — O Peso das Lembranças
10 Capítulo 10 — Sob as Marcas do Passado
11 Capítulo 11 — O Amanhecer de um Novo Sentimento
12 Capítulo 12 — A Primeira Tempestade
13 Capítulo 13 — Depois da Tempestade
14 Capítulo 14 — Sob o Céu das Confissões
15 Capítulo 15 — Um Novo Amanhecer
16 Capítulo 16 — Sementes e Promessas
17 Capítulo 17 — Vínculos que Fortalecem
18 Capítulo 18 — Ecos do Coração
19 Capítulo 19 — A Colheita da Esperança
20 Capítulo 20 — Sob a Luz das Estrelas
21 Capítulo 21 — Florescendo Juntos
22 Capítulo 22 — Ventos Antigos
23 Capítulo 23 — A Voz da Verdade
24 Capítulo 24 — Fortes Como a Terra
25 Capítulo 25 — Raízes e Asas
26 Capítulo 26 — Sementes do Passado
27 Capítulo 27 — Entre Trincas e Flores
28 Capítulo 28 — A Sombra na Estrada
29 Capítulo 29 — O Som da Tempestade
30 Capítulo 30 — Quando a Terra Grita
31 Capítulo 31 — Cicatrizes Abertas
32 Capítulo 32 — Vozes da Terra
33 Capítulo 33 — O Peso do Silêncio
34 Capítulo 34 — Sementes de Justiça
35 Capítulo 35 — Depois da Tempestade
36 Capítulo 36 — Quando a Terra Ensina a Esperar
37 Capítulo 37 — Asas que Sabem Voltar
38 Capítulo 38 — Raízes que se Entrelaçam
39 Capítulo 39 — O Amor Também É Terra Fértil
40 Capítulo 40 — O Recomeço do Recomeço
41 Capítulo 41 — Sementes do Amanhã, Sombras do Ontem
42 Capítulo 42 — Herdeiros da Terra, Alvos do Passado
43 Capítulo 43 — Terra de Segredos e Tempestades
44 Capítulo 44 — Onde as Raízes Encontram a Verdades
45 Capítulo 45 — Quando Flores Nascem em Terrenos Feridos
46 Capítulo 46 — Aurora: A Criança da Terra
47 Capítulo 47 — A Menina e o Mundo
48 Capítulo 48 — Silêncios Que Também Gritam
49 Capítulo 49 — Cuidar Também é Lutar
50 Capítulo 50 — Sementes do Amanhã
51 Capítulo 51 — As Sombras Também Têm Voz
52 Capítulo 52 — Quando o Vento Muda de Direção
53 Capítulo 53 — O Preço do Progresso
54 Capítulo 54 — Vozes do Passado
55 Capítulo 55 — A Terra Ensina
56 Capítulo 56 — O Peso do Crescimento
57 Capítulo 57 — A Voz Que Ecoa
58 Capítulo 58 — Quando o Passado Não Dorme
59 Capítulo 59 — Terra em Julgamento
60 Capítulo 60 — O Dia em que a Terra Ganhou Voz
61 Capítulo 61 — Quando a Paz Também Cansa
62 Capítulo 62 — Quando o Inimigo Vem de Dentro
63 Capítulo 63 — Quando o Passado Bate à Porta
64 Capítulo 64 — Vozes que Não se Calam Mais
65 Capítulo 65 — Ecos do Tribunal
66 Capítulo 66 — A Colheita da Esperança
67 Capítulo 67 — Vozes Queimadas, Vozes Vivas
68 Capítulo 68 — Vozes no Tribunal
69 Capítulo 69 — O Peso da Verdade
70 Capítulo 70 — Raízes de Liberdade
Capítulos

Atualizado até capítulo 70

1
Capítulo 1 — Sob o Céu Cinzento
2
Capítulo 2 — Sob o Olhar da Noite
3
Capítulo 3 — A Marca do Passado
4
Capítulo 4 — Ecos da Tempestade
5
Capítulo 5 — Entre Silêncios e Confissões
6
Capítulo 6 — Um Novo Amanhecer
7
Capítulo 7 — Sob o Céu Estrelado
8
Capítulo 8 — Confissões Sob a Luz do Luar
9
Capítulo 9 — O Peso das Lembranças
10
Capítulo 10 — Sob as Marcas do Passado
11
Capítulo 11 — O Amanhecer de um Novo Sentimento
12
Capítulo 12 — A Primeira Tempestade
13
Capítulo 13 — Depois da Tempestade
14
Capítulo 14 — Sob o Céu das Confissões
15
Capítulo 15 — Um Novo Amanhecer
16
Capítulo 16 — Sementes e Promessas
17
Capítulo 17 — Vínculos que Fortalecem
18
Capítulo 18 — Ecos do Coração
19
Capítulo 19 — A Colheita da Esperança
20
Capítulo 20 — Sob a Luz das Estrelas
21
Capítulo 21 — Florescendo Juntos
22
Capítulo 22 — Ventos Antigos
23
Capítulo 23 — A Voz da Verdade
24
Capítulo 24 — Fortes Como a Terra
25
Capítulo 25 — Raízes e Asas
26
Capítulo 26 — Sementes do Passado
27
Capítulo 27 — Entre Trincas e Flores
28
Capítulo 28 — A Sombra na Estrada
29
Capítulo 29 — O Som da Tempestade
30
Capítulo 30 — Quando a Terra Grita
31
Capítulo 31 — Cicatrizes Abertas
32
Capítulo 32 — Vozes da Terra
33
Capítulo 33 — O Peso do Silêncio
34
Capítulo 34 — Sementes de Justiça
35
Capítulo 35 — Depois da Tempestade
36
Capítulo 36 — Quando a Terra Ensina a Esperar
37
Capítulo 37 — Asas que Sabem Voltar
38
Capítulo 38 — Raízes que se Entrelaçam
39
Capítulo 39 — O Amor Também É Terra Fértil
40
Capítulo 40 — O Recomeço do Recomeço
41
Capítulo 41 — Sementes do Amanhã, Sombras do Ontem
42
Capítulo 42 — Herdeiros da Terra, Alvos do Passado
43
Capítulo 43 — Terra de Segredos e Tempestades
44
Capítulo 44 — Onde as Raízes Encontram a Verdades
45
Capítulo 45 — Quando Flores Nascem em Terrenos Feridos
46
Capítulo 46 — Aurora: A Criança da Terra
47
Capítulo 47 — A Menina e o Mundo
48
Capítulo 48 — Silêncios Que Também Gritam
49
Capítulo 49 — Cuidar Também é Lutar
50
Capítulo 50 — Sementes do Amanhã
51
Capítulo 51 — As Sombras Também Têm Voz
52
Capítulo 52 — Quando o Vento Muda de Direção
53
Capítulo 53 — O Preço do Progresso
54
Capítulo 54 — Vozes do Passado
55
Capítulo 55 — A Terra Ensina
56
Capítulo 56 — O Peso do Crescimento
57
Capítulo 57 — A Voz Que Ecoa
58
Capítulo 58 — Quando o Passado Não Dorme
59
Capítulo 59 — Terra em Julgamento
60
Capítulo 60 — O Dia em que a Terra Ganhou Voz
61
Capítulo 61 — Quando a Paz Também Cansa
62
Capítulo 62 — Quando o Inimigo Vem de Dentro
63
Capítulo 63 — Quando o Passado Bate à Porta
64
Capítulo 64 — Vozes que Não se Calam Mais
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Capítulo 65 — Ecos do Tribunal
66
Capítulo 66 — A Colheita da Esperança
67
Capítulo 67 — Vozes Queimadas, Vozes Vivas
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Capítulo 68 — Vozes no Tribunal
69
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Capítulo 70 — Raízes de Liberdade

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