Capítulo 3 — A Marca do Passado

O dia começou com uma névoa espessa cobrindo os campos. Valentina acordou cedo, como de costume, e observou pela janela o mundo ser engolido pela bruma branca, que tornava tudo ao redor quase etéreo. Ela se levantou, vestiu-se e caminhou até a cozinha, onde Marta já preparava o café.

— Acordou cedo, hein? — comentou Marta, com um sorriso cansado. — Hoje vai ser dia de trabalho pesado. O patrão mandou avisar que vamos precisar de ajuda no galpão.

Valentina apenas assentiu e se serviu de uma xícara de café quente. Enquanto mexia a colher, seus pensamentos viajavam para o dia anterior, quando Daniel, com um tom nostálgico, revelara um pouco mais sobre o passado de Antônio. O homem que ela começava a perceber como alguém implacável parecia carregar um peso invisível, algo muito maior do que ele deixava transparecer.

O cheiro de café recém-coado parecia ter o poder de suavizar as lembranças daquele olhar sério e distante. Valentina não sabia o que sentia por Antônio. Talvez fosse uma mistura de curiosidade e empatia, mas havia algo nele que a atraía e, ao mesmo tempo, a fazia recuar.

Enquanto a manhã avançava e o sol tentava despontar por trás das nuvens pesadas, Valentina seguiu Marta até o galpão. A terra estava úmida, e o barro pegava nas botas. O ar fresco e úmido se misturava com o cheiro do pasto e do feno, criando uma sensação quase de pureza no ambiente.

Chegando ao galpão, Valentina viu Antônio já se preparando para o trabalho. Ele estava de costas, usando uma camisa de manga longa e calças de couro desgastadas, como sempre. Seu corpo imponente estava inclinado sobre o curral, aparentemente insensível ao clima frio da manhã.

— Valentina, você vai ajudar o Antônio a organizar os fardos de feno. Não tem muito trabalho, mas tem que ser feito — disse Marta, antes de se afastar para outra tarefa.

Valentina respirou fundo, ajustou a gola da camisa e seguiu até o homem, que parecia não perceber sua presença. Ela sentiu um frio na espinha, mas engoliu a sensação e se aproximou.

— Preciso de ajuda aqui, Valentina — disse Antônio, sem olhar para ela. Sua voz grave cortou o silêncio da manhã, e, pela primeira vez, Valentina notou o tom de exaustão que havia nele. Ele parecia mais cansado do que o normal, como se carregasse uma carga muito além daquelas estacas de madeira e fardos de feno.

Ela se aproximou e, sem dizer uma palavra, começou a ajudá-lo a mover os fardos, sentindo o peso da tarefa. O trabalho era árduo e silencioso, e ela não sabia o que dizer para quebrar o gelo que havia entre eles. Antônio estava imerso nos próprios pensamentos, e Valentina sentia como se estivesse fora de lugar, um intruso naquele mundo de terra, feno e silêncios pesados.

Depois de algum tempo, ele finalmente se virou para ela, parando de empilhar os fardos.

— Por que está aqui? — perguntou ele, os olhos escuros fixos nela de uma maneira que a fazia se sentir ainda menor. Não era uma pergunta comum, como as que ele normalmente faria para um empregado, mas uma questão carregada de algo mais profundo.

Valentina hesitou por um momento, sem saber como responder. Não sabia se deveria contar sobre sua vida na cidade ou se deveria continuar a manter a postura de alguém que só queria trabalhar e seguir sua vida. Mas algo naquele olhar fez com que ela abrisse o coração, e as palavras fluíram mais rápido do que ela imaginava.

— Eu… Eu não tinha escolha. A vida na cidade não estava mais funcionando para mim. Eu precisava de um recomeço, e aqui parecia ser a única chance que eu tinha.

Antônio a observou por mais alguns segundos, e Valentina sentiu que havia algo mais, algo que ele não estava dizendo. Algo que ele queria esconder. Mas antes que ela pudesse continuar, ele se virou bruscamente para continuar o trabalho.

— Não espere que a fazenda seja um refúgio para os seus problemas. Aqui, o trabalho é o que nos mantém vivos, não as conversas sobre o passado.

Aquelas palavras caíram como pedras. Valentina engoliu em seco, sentindo o peso de suas próprias inseguranças.

Antes que ela pudesse responder, ele já havia se afastado, indo em direção ao estábulo. Valentina ficou ali, sozinha, cercada por fardos de feno e a sensação de que ela não sabia nada sobre aquele homem, e muito menos sobre o que o tornava tão fechado e resistente.

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Ao longo do dia, o trabalho foi cansativo e exaustivo. Valentina seguiu o ritmo que Marta impôs, e por mais que tentasse se integrar à rotina da fazenda, o peso da solidão e a distância entre ela e Antônio eram inegáveis. Toda vez que seus olhares se cruzavam, havia algo não dito, algo intransponível.

Por volta do final da tarde, enquanto descansavam no alpendre da casa, Valentina decidiu fazer uma pergunta a Marta.

— O que aconteceu com o Antônio? Por que ele é assim? — Ela sabia que estava indo longe demais, mas não podia se conter.

Marta parou, olhando para o horizonte. O silêncio tomou conta da conversa por um momento.

— O Antônio perdeu muito em sua vida, Valentina. Quando ele era mais jovem, teve uma família inteira que o amava, uma esposa que ele adorava. Mas um acidente... um acidente roubou tudo. Desde então, ele se tornou outra pessoa. A fazenda, para ele, é tudo o que resta, e talvez ele ainda tente encontrar algum sentido em tudo isso.

Valentina sentiu o peso das palavras de Marta, compreendendo que a dor de Antônio não era apenas sobre o trabalho, mas sobre algo muito mais profundo. Ela queria ajudá-lo, mas sabia que ele não permitia isso.

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Naquela noite, enquanto o vento sibilava entre as árvores e as estrelas começavam a brilhar no céu, Valentina deitou-se em sua cama com os pensamentos à flor da pele. Ela sentia que a Fazenda Estrela Velha não era apenas um lugar para trabalhar. Era um lugar onde os passados se entrelaçavam, e onde os corações, embora ocultos, começavam a encontrar um caminho tortuoso em direção à cura.

Mas ela sabia que o caminho seria longo. E que, com o tempo, as feridas de Antônio, assim como as suas próprias, teriam que ser enfrentadas.

Capítulos
1 Capítulo 1 — Sob o Céu Cinzento
2 Capítulo 2 — Sob o Olhar da Noite
3 Capítulo 3 — A Marca do Passado
4 Capítulo 4 — Ecos da Tempestade
5 Capítulo 5 — Entre Silêncios e Confissões
6 Capítulo 6 — Um Novo Amanhecer
7 Capítulo 7 — Sob o Céu Estrelado
8 Capítulo 8 — Confissões Sob a Luz do Luar
9 Capítulo 9 — O Peso das Lembranças
10 Capítulo 10 — Sob as Marcas do Passado
11 Capítulo 11 — O Amanhecer de um Novo Sentimento
12 Capítulo 12 — A Primeira Tempestade
13 Capítulo 13 — Depois da Tempestade
14 Capítulo 14 — Sob o Céu das Confissões
15 Capítulo 15 — Um Novo Amanhecer
16 Capítulo 16 — Sementes e Promessas
17 Capítulo 17 — Vínculos que Fortalecem
18 Capítulo 18 — Ecos do Coração
19 Capítulo 19 — A Colheita da Esperança
20 Capítulo 20 — Sob a Luz das Estrelas
21 Capítulo 21 — Florescendo Juntos
22 Capítulo 22 — Ventos Antigos
23 Capítulo 23 — A Voz da Verdade
24 Capítulo 24 — Fortes Como a Terra
25 Capítulo 25 — Raízes e Asas
26 Capítulo 26 — Sementes do Passado
27 Capítulo 27 — Entre Trincas e Flores
28 Capítulo 28 — A Sombra na Estrada
29 Capítulo 29 — O Som da Tempestade
30 Capítulo 30 — Quando a Terra Grita
31 Capítulo 31 — Cicatrizes Abertas
32 Capítulo 32 — Vozes da Terra
33 Capítulo 33 — O Peso do Silêncio
34 Capítulo 34 — Sementes de Justiça
35 Capítulo 35 — Depois da Tempestade
36 Capítulo 36 — Quando a Terra Ensina a Esperar
37 Capítulo 37 — Asas que Sabem Voltar
38 Capítulo 38 — Raízes que se Entrelaçam
39 Capítulo 39 — O Amor Também É Terra Fértil
40 Capítulo 40 — O Recomeço do Recomeço
41 Capítulo 41 — Sementes do Amanhã, Sombras do Ontem
42 Capítulo 42 — Herdeiros da Terra, Alvos do Passado
43 Capítulo 43 — Terra de Segredos e Tempestades
44 Capítulo 44 — Onde as Raízes Encontram a Verdades
45 Capítulo 45 — Quando Flores Nascem em Terrenos Feridos
46 Capítulo 46 — Aurora: A Criança da Terra
47 Capítulo 47 — A Menina e o Mundo
48 Capítulo 48 — Silêncios Que Também Gritam
49 Capítulo 49 — Cuidar Também é Lutar
50 Capítulo 50 — Sementes do Amanhã
51 Capítulo 51 — As Sombras Também Têm Voz
52 Capítulo 52 — Quando o Vento Muda de Direção
53 Capítulo 53 — O Preço do Progresso
54 Capítulo 54 — Vozes do Passado
55 Capítulo 55 — A Terra Ensina
56 Capítulo 56 — O Peso do Crescimento
57 Capítulo 57 — A Voz Que Ecoa
58 Capítulo 58 — Quando o Passado Não Dorme
59 Capítulo 59 — Terra em Julgamento
60 Capítulo 60 — O Dia em que a Terra Ganhou Voz
61 Capítulo 61 — Quando a Paz Também Cansa
62 Capítulo 62 — Quando o Inimigo Vem de Dentro
63 Capítulo 63 — Quando o Passado Bate à Porta
64 Capítulo 64 — Vozes que Não se Calam Mais
65 Capítulo 65 — Ecos do Tribunal
66 Capítulo 66 — A Colheita da Esperança
67 Capítulo 67 — Vozes Queimadas, Vozes Vivas
68 Capítulo 68 — Vozes no Tribunal
69 Capítulo 69 — O Peso da Verdade
70 Capítulo 70 — Raízes de Liberdade
Capítulos

Atualizado até capítulo 70

1
Capítulo 1 — Sob o Céu Cinzento
2
Capítulo 2 — Sob o Olhar da Noite
3
Capítulo 3 — A Marca do Passado
4
Capítulo 4 — Ecos da Tempestade
5
Capítulo 5 — Entre Silêncios e Confissões
6
Capítulo 6 — Um Novo Amanhecer
7
Capítulo 7 — Sob o Céu Estrelado
8
Capítulo 8 — Confissões Sob a Luz do Luar
9
Capítulo 9 — O Peso das Lembranças
10
Capítulo 10 — Sob as Marcas do Passado
11
Capítulo 11 — O Amanhecer de um Novo Sentimento
12
Capítulo 12 — A Primeira Tempestade
13
Capítulo 13 — Depois da Tempestade
14
Capítulo 14 — Sob o Céu das Confissões
15
Capítulo 15 — Um Novo Amanhecer
16
Capítulo 16 — Sementes e Promessas
17
Capítulo 17 — Vínculos que Fortalecem
18
Capítulo 18 — Ecos do Coração
19
Capítulo 19 — A Colheita da Esperança
20
Capítulo 20 — Sob a Luz das Estrelas
21
Capítulo 21 — Florescendo Juntos
22
Capítulo 22 — Ventos Antigos
23
Capítulo 23 — A Voz da Verdade
24
Capítulo 24 — Fortes Como a Terra
25
Capítulo 25 — Raízes e Asas
26
Capítulo 26 — Sementes do Passado
27
Capítulo 27 — Entre Trincas e Flores
28
Capítulo 28 — A Sombra na Estrada
29
Capítulo 29 — O Som da Tempestade
30
Capítulo 30 — Quando a Terra Grita
31
Capítulo 31 — Cicatrizes Abertas
32
Capítulo 32 — Vozes da Terra
33
Capítulo 33 — O Peso do Silêncio
34
Capítulo 34 — Sementes de Justiça
35
Capítulo 35 — Depois da Tempestade
36
Capítulo 36 — Quando a Terra Ensina a Esperar
37
Capítulo 37 — Asas que Sabem Voltar
38
Capítulo 38 — Raízes que se Entrelaçam
39
Capítulo 39 — O Amor Também É Terra Fértil
40
Capítulo 40 — O Recomeço do Recomeço
41
Capítulo 41 — Sementes do Amanhã, Sombras do Ontem
42
Capítulo 42 — Herdeiros da Terra, Alvos do Passado
43
Capítulo 43 — Terra de Segredos e Tempestades
44
Capítulo 44 — Onde as Raízes Encontram a Verdades
45
Capítulo 45 — Quando Flores Nascem em Terrenos Feridos
46
Capítulo 46 — Aurora: A Criança da Terra
47
Capítulo 47 — A Menina e o Mundo
48
Capítulo 48 — Silêncios Que Também Gritam
49
Capítulo 49 — Cuidar Também é Lutar
50
Capítulo 50 — Sementes do Amanhã
51
Capítulo 51 — As Sombras Também Têm Voz
52
Capítulo 52 — Quando o Vento Muda de Direção
53
Capítulo 53 — O Preço do Progresso
54
Capítulo 54 — Vozes do Passado
55
Capítulo 55 — A Terra Ensina
56
Capítulo 56 — O Peso do Crescimento
57
Capítulo 57 — A Voz Que Ecoa
58
Capítulo 58 — Quando o Passado Não Dorme
59
Capítulo 59 — Terra em Julgamento
60
Capítulo 60 — O Dia em que a Terra Ganhou Voz
61
Capítulo 61 — Quando a Paz Também Cansa
62
Capítulo 62 — Quando o Inimigo Vem de Dentro
63
Capítulo 63 — Quando o Passado Bate à Porta
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Capítulo 65 — Ecos do Tribunal
66
Capítulo 66 — A Colheita da Esperança
67
Capítulo 67 — Vozes Queimadas, Vozes Vivas
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Capítulo 68 — Vozes no Tribunal
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Capítulo 69 — O Peso da Verdade
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