Bem-vindo ao novo mundo

O corredor do prédio da universidade era longo, silencioso e moderno. As paredes eram brancas com luzes frias no teto. Cada porta numerada tinha uma aparência idêntica — fria, sem alma. Biel se sentia pequeno ali, segurando sua mochila nas costas e uma sacola plástica com pão, um suco e um caderno apertado contra o peito.

O número 308 piscava em vermelho, informando que a porta estava destrancada. Ele parou diante dela, respirou fundo e girou a maçaneta devagar.

Assim que entrou, parou no mesmo instante.

O quarto era enorme. Muito maior do que ele imaginava. Havia duas camas de casal, uma do lado direito e outra do lado esquerdo, com lençóis escuros e travesseiros impecáveis. Em frente às camas, uma TV enorme estava presa à parede, ainda desligada. Entre elas, uma mesinha moderna com dois controles e uma planta falsa no centro. Logo ao lado, uma pequena cozinha americana — balcão, micro-ondas, armários brancos, uma geladeira nova.

Mas o que realmente chamou a atenção de Biel foram as caixas e malas jogadas de um lado do quarto. Malas de couro, caixas com etiquetas de grife, algumas abertas, com roupas dobradas perfeitamente.

Ele olhou para um lado... depois para o outro.

— Alguém já tá aqui — murmurou para si mesmo. — Mas... não tem ninguém.

Andou devagar até a cama do lado esquerdo — onde não havia bagunça — e deixou sua mochila ali. O colchão era macio demais para alguém acostumado com um sofá torto e um travesseiro velho. Biel quase se sentiu culpado por sentar ali.

Observou o guarda-roupa ao lado da cama. Estava entreaberto. Curioso, Biel puxou a porta.

Ali, cuidadosamente pendurado, estava o uniforme da universidade.

Um short curto, azul-escuro, com o símbolo da universidade bordado na lateral.

Uma camisa branca formal, de tecido fino, com seu nome bordado no peito:

"Biel D. R."

Ele tocou o tecido com cuidado, como se fosse algo sagrado.

— Isso é real mesmo... — sussurrou. — Eu tô aqui.

Seus olhos encheram-se de lágrimas por um instante. Mas ele piscou rápido, limpando com o dorso da mão. Não queria chorar. Não ali.

Olhou novamente para o lado onde estavam as malas. O colega de quarto ainda não havia chegado, aparentemente. Talvez estivesse no refeitório... ou no prédio de recepção.

Biel andou até a cozinha e abriu a geladeira. Estava vazia, limpa.

Depois foi até o banheiro. O chão de mármore, o espelho gigante, os toalheiros brilhando.

Era como entrar em um hotel.

E tudo aquilo... era para ele.

E alguém mais.

Voltou para a cama, sentou devagar e tirou os sapatos. Seu cachorro não estava ali. Sua avó não estava ali. Nenhum cheiro conhecido.

Ele se jogou de costas no colchão e ficou olhando para o teto branco.

— Seja bem-vindo, Biel... — murmurou para si mesmo. — Aqui ninguém sabe o que você é... e talvez ninguém nunca descubra.

Fechou os olhos por um instante.

***

O som da água quente batendo nas costas de Biel era relaxante. Ele fechou os olhos, deixando a testa encostar no azulejo frio. O banheiro era maior do que toda a cozinha da casa de sua avó. O espelho ainda embaçado refletia apenas a silhueta frágil e molhada de um garoto tentando parecer forte.

Ele estava quase terminando o banho quando, do lado de fora, ouviu vozes abafadas.

— Você esqueceu a carteira de novo, Arthur.

— Logo agora? Estamos atrasados, porra.

Portas se abriram e se fecharam. Risadas rápidas. O som de passos. E então, um estrondo seco: a porta batendo com força.

Biel congelou.

"Arthur..."

A água continuava caindo sobre ele, mas o mundo lá fora tinha mudado.

Assim que desligou o chuveiro e abriu a porta do banheiro, o cheiro o atingiu.

Um aroma forte, doce e inebriante. Como o perfume do ar livre misturado com flores silvestres e tempestades prestes a cair.

Era um cheiro viciante... e perigoso.

Biel sentiu as pernas falharem levemente.

O coração acelerou sem aviso. A pele arrepiou, e o ar pareceu mais quente.

— O que... que cheiro é esse? — murmurou, levando a mão ao peito, onde o coração batia descompassado.

Sentiu o corpo esquentando. A boca secando. A respiração ficando curta.

Sabia exatamente o que estava acontecendo.

Feromônios. Alfas. Um deles esteve ali.

— Merda... — sussurrou, olhando em volta.

As malas, as roupas... era dele.

Arthur.

O cheiro dele... tinha impregnado o quarto inteiro.

Biel correu até o relógio de pulso jogado na cama. Os ponteiros giravam mais rápido do que pareciam.

— Droga, droga, droga! Tô atrasado!

Vestiu o uniforme às pressas: o short justo e a camisa branca ainda com o nome bordado. Penteou o cabelo diante do espelho com as mãos, o suor escorrendo pela nuca.

Abriu a gaveta onde tinha deixado o remédio para bloquear o cio...

Mas hesitou.

Estava com pressa.

Muito atrasado.

— Só hoje... — disse para si mesmo, batendo a gaveta com força. — Não vai dar tempo.

Saiu correndo pela porta, descendo as escadas com os pés ainda úmidos nos tênis. A mochila pendurada num ombro, o peito ardendo, o cheiro ainda preso nas narinas.

"Que tipo de alfa tem esse cheiro? Isso não é normal..."

Mas naquele momento, Biel só queria chegar à reunião de boas-vindas antes que fosse visto como o aluno invisível que chega atrasado.

***

As portas do salão principal da universidade se abriram com um rangido leve.

Biel entrou.

Todos os olhares se voltaram imediatamente para ele. Alunos já sentados, grupos cochichando, ômegas bem vestidos, betas com cadernos no colo, alfas espalhados como reis e rainhas em seus tronos invisíveis.

Biel sentiu o chão sumir por um instante.

A respiração ficou curta, o corpo ainda suado do banho apressado. Cada passo parecia pesado demais para quem só queria ser invisível.

Ele subiu as escadas do auditório sem olhar para os lados, passando entre fileiras ocupadas. Suas pernas tremiam.

Achou um lugar vazio — o mais afastado possível, no canto da última fileira — e sentou-se, escondendo o rosto por trás dos fios úmidos do cabelo.

O palco ainda estava vazio.

Os professores não tinham começado.

Mas o julgamento... já havia começado.

A alguns metros dali, as portas se abriram novamente.

Um grupo de garotos entrou com passos lentos e confiantes.

Perfumes caros. Roupas impecáveis. Expressões arrogantes. Eles não precisavam dizer nada — o silêncio se curvava para eles.

Biel ouviu um grupo de garotas cochichar na fileira à frente.

— É ele.

— Arthur...

— Meu Deus, ele é tão bonito pessoalmente.

— Dizem que ele é o alfa dos alfas. Que ninguém resiste ao cheiro dele.

Biel olhou discretamente para baixo, tentando ver os rostos... mas eram muitos. Quase todos lindos, altos, com presença.

"Qual deles é Arthur?"

Ele não sabia.

Mas Arthur sabia.

Porque, do outro lado do salão, ao parar diante da fileira central, Arthur avistou alguém: a garota do elevador.

Sentada entre os demais, como se nada tivesse acontecido.

Ele a encarou com intensidade. Os olhos estreitos. A expressão indecifrável.

Foi então que Logan, um de seus amigos, sussurrou com deboche:

— Já pescou um peixe, Arthur? Nem começou o semestre...

Arthur nem respondeu. Mas algo o incomodava...

Não era ela. Não mais.

Era o cheiro.

Do nada, o ar foi preenchido por uma fragrância tão suave, tão fraca...

Mas doce. Doce demais.

Indefeso.

Provocante.

Quente.

Todos os alfas do grupo pararam por um segundo. Como se o instinto tivesse puxado o freio do tempo.

— Que cheiro é esse? — murmurou um deles, com os olhos semicerrados.

— Eu quero esse ômega. Agora. — disse outro, rindo com o canto da boca.

Olharam em volta. Procuraram entre a multidão.

Mas não viram nada. Ninguém diferente. Ninguém que os olhos identificassem como alvo.

Só Arthur viu.

Lá no canto do auditório, meio encolhido na cadeira, com os ombros curvados e o olhar abaixado.

Biel.

Frágil.

Calado.

Sozinho.

Arthur o encarou por alguns segundos.

Algo em Biel... quebrou o tédio.

O cheiro vinha dele. Não havia dúvidas.

E quando os olhos de Arthur o tocaram, mesmo de longe, Biel sentiu. Como se algo tivesse rasgado o ar entre eles.

Ele olhou para cima, por reflexo — e viu.

Os olhos de Arthur.

Fixos nele.

Duros.

Magnéticos.

O mundo parou por um segundo.

E então Biel baixou o rosto rapidamente, envergonhado, como se tivesse feito algo errado.

Arthur sorriu, quase imperceptivelmente. Mas não disse nada.

Logan estalou a língua e falou:

— Vamos sentar em algum lugar. Quero ver de perto quem são os novatos desse ano.

Eles subiram as escadas, ocupando os melhores lugares no centro, enquanto Biel ficava em seu canto, tentando respirar normalmente, sem saber que o cio se aproximava.

***

As palavras do diretor ainda ecoavam na cabeça de Biel enquanto ele subia lentamente as escadas do alojamento.

"Os alunos que forem bolsistas ficarão nos quartos dos alunos cujas famílias financiaram a bolsa..."

Isso significava que ele estaria morando com alguém muito... muito rico.

Alguém influente.

Alguém que, muito provavelmente, o desprezaria.

"Mas qual era o nome mesmo?" — pensou Biel, mordendo o lábio. — "O diretor falou rápido... Eu devia ter anotado..."

O corredor estava silencioso, o mesmo onde ele tinha caminhado horas antes. Agora, mais escuro. Mais denso.

O número 308 brilhava como antes.

Ele parou diante da porta, com a mão prestes a alcançar a maçaneta, quando...

A porta se abriu.

E então, o cheiro.

O mesmo cheiro.

Do elevador. Do salão. Do quarto.

E ali, parado diante dele...

Arthur.

O garoto da plateia.

O menino dos olhos de tempestade.

Por um segundo, Biel congelou. Seus pulmões travaram. O sangue parecia quente demais para o corpo.

Arthur estava com o cabelo levemente bagunçado, uma camisa escura colada ao peito e um celular na mão. Ao ver Biel, sorriu de canto.

— Então... você é o garoto das notas espetaculares que meu pai comentou. — a voz dele era grave, suave, perigosa. — Prazer. Arthur.

Biel não disse nada.

Apenas olhou. O coração batendo tão alto que era possível escutar por dentro da cabeça. Ele tentou abrir a boca.

Nada saiu.

Arthur levantou uma sobrancelha, um pouco confuso com o silêncio.

— Tá tímido? — ele cruzou os braços. — Eu encarei você no auditório e achei que você fosse mais... direto.

Biel desviou o olhar imediatamente, como se tivesse sido pego em um crime.

Arthur riu. Um riso leve, como quem se diverte com algo frágil.

— Acho que você queria entrar. — disse, abrindo mais a porta, com o braço estendido para o lado.

Biel apenas acenou com a cabeça, lentamente.

Sem dizer uma palavra, passou por ele com cuidado. O cheiro ainda era intenso. Como se o ar entre eles estivesse mais denso, mais quente, mais lento.

Arthur virou-se, observando Biel por trás, analisando cada passo, cada gesto nervoso.

— Seremos colegas de quarto agora. — comentou casualmente, já se afastando no corredor. — Foi bom te conhecer, Biel.

Biel parou por um segundo ao ouvir seu nome. Não se lembrava de tê-lo dito em voz alta.

Arthur apontou para o peito dele.

— Tá na sua camisa. — disse, com um sorriso provocador.

E então virou as costas e foi embora. Seus passos ecoaram pelo corredor como um aviso.

Biel fechou a porta devagar.

Encostou as costas nela, com os olhos fechados.

Inspirou o ar do quarto e sentiu que tudo ao seu redor estava diferente.

Como se o quarto já não fosse seu.

Como se ele estivesse, finalmente, dentro da jaula.

E o leão... agora sabia seu nome.

CONTINUA...

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!