Três dias. Esse foi o tempo que Dante precisou para virar um estranho.
Luca passou cada um deles esperando uma mensagem, um olhar, qualquer sinal de que o que viveram ainda existia em algum lugar. Mas Dante desapareceu. Não fisicamente — ele continuava ali, pelos corredores, nas aulas, na biblioteca. Mas não era mais o mesmo. Não para Luca.
Na manhã da sexta-feira, ele o viu. Sentado no jardim central, de mãos dadas com Élise Fournier — a garota mais insuportavelmente perfeita da universidade. Filha de um diplomata francês, falava quatro idiomas e agia como se o mundo girasse ao redor da sua arrogância. Dante estava ao lado dela. Sorria. Como se Luca nunca tivesse existido.
O chão pareceu sumir.
Luca correu até o banheiro do bloco de humanas, trancou-se na última cabine e chorou até não conseguir mais respirar. Tentou se convencer de que era um mal-entendido. Que Dante tinha um plano. Que aquilo era só fachada. Mas o modo como ele a tocava… não era fingimento. Era desistência.
Nos dias seguintes, Luca se afundou. Faltou às aulas, desligou o celular, deixou as refeições intocadas. Começou a evitar o espelho — não suportava encarar o rosto de alguém que foi rejeitado sem explicação. Seu mundo, antes feito de livros, sonhos e promessas sussurradas ao pé da cama, agora era feito de silêncio, cansaço e vazio.
Ninguém sabia, mas dentro dele, um grito pedia socorro.
Na manhã do quarto dia, Luca acordou depois de mais uma noite mal dormida, com os olhos inchados e o peito ainda apertado. Mas havia algo diferente dessa vez: raiva. Uma raiva quieta, não violenta — uma raiva de quem foi jogado fora sem sequer um adeus.
Vestiu a primeira roupa que encontrou, amarrou o cabelo com pressa e atravessou o campus como se fosse contra o vento. Encontrou Dante na saída da aula de Filosofia, ainda de mãos dadas com Élise.
— “Preciso falar com você. Agora.” — disse, firme, os olhos marejados mas sem desviar.
Dante hesitou. Soltou a mão de Élise devagar. Ela o olhou com desdém e se afastou, como quem sabia que aquela cena ia acontecer mais cedo ou mais tarde.
— “Luca… não faz isso.”
— “Não faz o quê? Te cobrar uma explicação depois de tudo?”
Eles estavam de frente a um do outro, perto do pátio de estátuas, onde ninguém costumava passar àquela hora. O lugar era silencioso. Como o coração de Dante.
— “Você sumiu, fingiu que eu não existia. Agora anda de mãos dadas com alguém que você nem suporta e espera que eu aceite?”
Dante apertou os lábios, desviando o olhar.
— “Meus pais me deram uma escolha. Ou eu me endireito, ou vou embora de vez. Eles ameaçaram cortar tudo. Londres virou um plano, Luca. Real.”
— “E isso justifica me jogar fora como se eu fosse um erro?”
— “Eu não podia continuar… não com tudo contra nós.”
Luca sentiu algo se romper dentro dele. Um barulho mudo, como um copo rachando por dentro. O Dante que ele conhecia estava na frente dele, mas o brilho nos olhos havia sumido.
— “Você não entendeu nada. A gente não tava lutando contra o mundo. Tava lutando pelo que era real.”
Dante não respondeu. Não pediu desculpas. Não chorou. Apenas ficou ali, mudo.
E Luca soube: não havia mais nada para salvar ali.
Virou-se devagar e caminhou de volta para o prédio principal. Cada passo doía como se o corpo pesasse o triplo. Quando chegou ao quarto, trancou a porta, tirou a mochila e pegou o caderno velho de capa preta.
Escreveu durante uma hora inteira.
Não para Dante.
Mas para si mesmo.
Uma carta que dizia tudo o que ficou preso na garganta: o amor, o abandono, a dor de ser deixado sem explicação. No fim, escreveu: “Eu não sou o problema. Você que não teve coragem.”
Dobrou o papel, deixou na mesa. Não sabia se entregaria.
Mas sabia: aquele era o primeiro passo para voltar a respirar.
Mesmo que ainda doesse. Mesmo que Dante nunca voltasse.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 50
Comments
barbiquiu2011
Emocionante do começo ao fim! 😭
2025-06-22
1