Capítulo 3

A luz fria do final da tarde atravessava os vitrais do corredor principal quando Luca saiu da enfermaria, com Dante ao seu lado. Nenhum dos dois falava, mas o silêncio não era desconfortável — era denso. Cheio de tudo o que ainda não haviam tido coragem de dizer.

O campus parecia mais vazio que o normal, ou talvez fosse só a sensação de que tudo ao redor estava mais distante do que realmente estava. Cada passo de Luca doía, mas não como os golpes da manhã. Era outra dor — interna, viva, latente.

Dante o levou até o dormitório dele sem perguntar se podia. Apenas o acompanhou como quem sabia que o outro precisava de mais do que companhia.

Assim que entraram no quarto apertado, Luca se jogou na cama, deixando escapar um suspiro cansado. Dante tirou a jaqueta encharcada de suor e preocupação, e se aproximou devagar.

— “Deita direito. Eu cuido de você.”

Luca riu, engolindo a dor na costela.

— “Você não tem que fazer isso.”

— “Não é sobre ter que fazer. É sobre querer.”

Dante pegou uma toalha limpa no armário e molhou com água morna no banheiro. Voltou e, com gestos suaves, começou a limpar os resquícios de sangue seco da sobrancelha de Luca. O toque dele era tão delicado que parecia pedir desculpas a cada movimento.

Por um momento, Luca fechou os olhos e se permitiu sentir. Não dor, mas algo que fazia muito tempo que não sentia: segurança.

— “Você devia estar com raiva.” — murmurou. — “De mim, do mundo, de tudo.”

Dante parou o movimento por um segundo, depois continuou.

— “Eu tô. Mas também tô com medo.”

— “Medo do quê?”

Dante hesitou.

— “De me importar tanto com alguém que o mundo já decidiu odiar.”

Os olhos de Luca se abriram devagar, e ali, a centímetros de distância, estava Dante. Aquele olhar que até então era apenas observador agora carregava desejo. E dor. E dúvida. Mas também vontade. Muita.

O beijo não foi planejado. Foi inevitável.

Luca levantou levemente o tronco e encostou os lábios nos dele. De início, foi tímido, quase uma pergunta. Dante respondeu com firmeza, com cuidado e com pressa, como se soubesse que o mundo podia invadir aquele quarto a qualquer momento.

As mãos se encontraram, os corpos se ajustaram como peças de um quebra-cabeça quebrado demais. Nenhum deles queria avançar rápido demais, mas também não conseguiam parar. O calor da pele contrastava com a febre emocional que os envolvia.

As cicatrizes, visíveis e invisíveis, se tocavam também.

Luca suspirou contra os lábios de Dante, e pela primeira vez em anos, não se sentiu errado por querer alguém.

Mas quando o beijo cessou e Dante deitou ao seu lado, com a cabeça apoiada em seu peito machucado, Luca encarou o teto e sentiu o mundo pesar novamente.

— “E se eles descobrirem?” — perguntou, num fio de voz.

Dante não respondeu de imediato. Apenas entrelaçou os dedos nos dele, apertando com firmeza.

— “Eles já sabem.”

Luca engoliu seco.

— “Eu tenho medo.”

— “Eu também. Mas prefiro ter medo com você do que me esconder de mim mesmo.”

O silêncio veio de novo, agora cheio de tensão, mas também de algo novo: compromisso.

Luca fechou os olhos. O corpo doía, a cabeça latejava, e o peito ardia de incerteza. Mas no meio do caos, algo crescia entre eles. Uma paixão crua, de carne e alma, que não podia mais ser ignorada.

Mesmo que o mundo lá fora ainda quisesse fingir que ela não existia.

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