A luz fria do final da tarde atravessava os vitrais do corredor principal quando Luca saiu da enfermaria, com Dante ao seu lado. Nenhum dos dois falava, mas o silêncio não era desconfortável — era denso. Cheio de tudo o que ainda não haviam tido coragem de dizer.
O campus parecia mais vazio que o normal, ou talvez fosse só a sensação de que tudo ao redor estava mais distante do que realmente estava. Cada passo de Luca doía, mas não como os golpes da manhã. Era outra dor — interna, viva, latente.
Dante o levou até o dormitório dele sem perguntar se podia. Apenas o acompanhou como quem sabia que o outro precisava de mais do que companhia.
Assim que entraram no quarto apertado, Luca se jogou na cama, deixando escapar um suspiro cansado. Dante tirou a jaqueta encharcada de suor e preocupação, e se aproximou devagar.
— “Deita direito. Eu cuido de você.”
Luca riu, engolindo a dor na costela.
— “Você não tem que fazer isso.”
— “Não é sobre ter que fazer. É sobre querer.”
Dante pegou uma toalha limpa no armário e molhou com água morna no banheiro. Voltou e, com gestos suaves, começou a limpar os resquícios de sangue seco da sobrancelha de Luca. O toque dele era tão delicado que parecia pedir desculpas a cada movimento.
Por um momento, Luca fechou os olhos e se permitiu sentir. Não dor, mas algo que fazia muito tempo que não sentia: segurança.
— “Você devia estar com raiva.” — murmurou. — “De mim, do mundo, de tudo.”
Dante parou o movimento por um segundo, depois continuou.
— “Eu tô. Mas também tô com medo.”
— “Medo do quê?”
Dante hesitou.
— “De me importar tanto com alguém que o mundo já decidiu odiar.”
Os olhos de Luca se abriram devagar, e ali, a centímetros de distância, estava Dante. Aquele olhar que até então era apenas observador agora carregava desejo. E dor. E dúvida. Mas também vontade. Muita.
O beijo não foi planejado. Foi inevitável.
Luca levantou levemente o tronco e encostou os lábios nos dele. De início, foi tímido, quase uma pergunta. Dante respondeu com firmeza, com cuidado e com pressa, como se soubesse que o mundo podia invadir aquele quarto a qualquer momento.
As mãos se encontraram, os corpos se ajustaram como peças de um quebra-cabeça quebrado demais. Nenhum deles queria avançar rápido demais, mas também não conseguiam parar. O calor da pele contrastava com a febre emocional que os envolvia.
As cicatrizes, visíveis e invisíveis, se tocavam também.
Luca suspirou contra os lábios de Dante, e pela primeira vez em anos, não se sentiu errado por querer alguém.
Mas quando o beijo cessou e Dante deitou ao seu lado, com a cabeça apoiada em seu peito machucado, Luca encarou o teto e sentiu o mundo pesar novamente.
— “E se eles descobrirem?” — perguntou, num fio de voz.
Dante não respondeu de imediato. Apenas entrelaçou os dedos nos dele, apertando com firmeza.
— “Eles já sabem.”
Luca engoliu seco.
— “Eu tenho medo.”
— “Eu também. Mas prefiro ter medo com você do que me esconder de mim mesmo.”
O silêncio veio de novo, agora cheio de tensão, mas também de algo novo: compromisso.
Luca fechou os olhos. O corpo doía, a cabeça latejava, e o peito ardia de incerteza. Mas no meio do caos, algo crescia entre eles. Uma paixão crua, de carne e alma, que não podia mais ser ignorada.
Mesmo que o mundo lá fora ainda quisesse fingir que ela não existia.
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Atualizado até capítulo 50
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