Capítulo 4

O sol não tinha nem nascido completamente quando Luca atravessou o pátio de pedras molhadas da Universidade Saint Jules. A noite anterior ainda pesava em seus músculos, mas era no coração que a dor pulsava mais forte.

Assim que entrou na sala de Literatura Moderna, sentiu os olhos. Eles não o encaravam diretamente, mas o analisavam por cima de telas de celular, sorrisos forçados, cochichos mal disfarçados.

Na segunda fileira, uma garota que ele mal conhecia virou-se para a colega e murmurou alto o suficiente:

— “Ele ficou mesmo com Dante? Tipo… ele mesmo?”

— “Claro. E parece que ficaram juntos no dormitório a noite toda. Meu colega do bloco viu.”

A professora entrou, mas não adiantou. O burburinho continuou como uma maré que não se controlava mais.

Luca se sentou no fundo, encolhido, o casaco tampando o hematoma ainda roxo no maxilar. Queria desaparecer. Sentia como se estivesse assistindo a sua própria execução social.

Dante chegou dez minutos depois, cabelo úmido, expressão fechada. Quando passou pela porta, o silêncio que se formou foi mais gritante do que todos os cochichos anteriores.

Ele olhou para Luca por um instante breve, depois se sentou ao lado dele — sem pedir licença, sem hesitar.

E então, em voz alta, encarando a sala inteira:

— “Podem continuar. Fofocar é fácil. Difícil é ter coragem de viver alguma coisa de verdade.”

O silêncio agora era por desconcerto. E Luca, apesar do pânico, sentiu algo parecido com orgulho ferido vibrando dentro do peito.

Durante a aula, ninguém disse mais nada. Mas o ar estava pesado. Como se a qualquer momento algo fosse explodir. E explodiu.

Quando a aula terminou, Dante levantou, respirou fundo e se virou para Luca.

— “Me espera no pátio. Cinco minutos.”

Luca acenou com a cabeça, tentando interpretar o que havia nos olhos dele. Não era raiva. Era urgência.

Cinco minutos depois, os dois estavam atrás do Conservatório de Música, onde quase ninguém ia àquela hora. A chuva tinha parado, mas o céu ainda estava fechado.

Dante não enrolou.

— “Eles sabem.”

Luca franziu a testa.

— “Quem?”

— “Meus pais. Eles sabem. Alguém… alguém contou.”

O mundo pareceu girar devagar demais. Luca arregalou os olhos, o estômago se contraindo num nó.

— “Mas… como? O que aconteceu?”

— “Recebi uma ligação hoje cedo. Meu pai disse que ‘não admitiria ver o nome da família virar piada’. E que já providenciou minha transferência.”

Luca sentiu o peito afundar.

— “Transferência pra onde?”

Dante engoliu em seco, com os olhos brilhando em fúria e medo.

— “Pra Londres. Uma faculdade de Direito. Tradicional. Masculina. E distante o suficiente pra eles acharem que vão apagar o que sou.”

Por um instante, o mundo ficou silencioso. Até os pássaros pareciam ter calado.

Luca não conseguia falar. Queria dizer “luta por nós”, ou “não vá”, ou até “foge comigo”. Mas tudo o que saiu foi um suspiro trêmulo.

— “Quando?”

Dante olhou para o chão, como se aquelas palavras doíssem mais do que os socos do dia anterior.

— “Semana que vem.”

E naquele instante, Luca percebeu: a universidade estava contra eles, os colegas estavam contra eles… e agora, até o tempo estava contra eles também.

Mas o que ainda não sabiam, era se o amor que nascia entre os dois seria forte o bastante para resistir a tudo isso — ou se acabaria como tudo que nasce bonito demais no lugar errado.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!