O sol não tinha nem nascido completamente quando Luca atravessou o pátio de pedras molhadas da Universidade Saint Jules. A noite anterior ainda pesava em seus músculos, mas era no coração que a dor pulsava mais forte.
Assim que entrou na sala de Literatura Moderna, sentiu os olhos. Eles não o encaravam diretamente, mas o analisavam por cima de telas de celular, sorrisos forçados, cochichos mal disfarçados.
Na segunda fileira, uma garota que ele mal conhecia virou-se para a colega e murmurou alto o suficiente:
— “Ele ficou mesmo com Dante? Tipo… ele mesmo?”
— “Claro. E parece que ficaram juntos no dormitório a noite toda. Meu colega do bloco viu.”
A professora entrou, mas não adiantou. O burburinho continuou como uma maré que não se controlava mais.
Luca se sentou no fundo, encolhido, o casaco tampando o hematoma ainda roxo no maxilar. Queria desaparecer. Sentia como se estivesse assistindo a sua própria execução social.
Dante chegou dez minutos depois, cabelo úmido, expressão fechada. Quando passou pela porta, o silêncio que se formou foi mais gritante do que todos os cochichos anteriores.
Ele olhou para Luca por um instante breve, depois se sentou ao lado dele — sem pedir licença, sem hesitar.
E então, em voz alta, encarando a sala inteira:
— “Podem continuar. Fofocar é fácil. Difícil é ter coragem de viver alguma coisa de verdade.”
O silêncio agora era por desconcerto. E Luca, apesar do pânico, sentiu algo parecido com orgulho ferido vibrando dentro do peito.
Durante a aula, ninguém disse mais nada. Mas o ar estava pesado. Como se a qualquer momento algo fosse explodir. E explodiu.
Quando a aula terminou, Dante levantou, respirou fundo e se virou para Luca.
— “Me espera no pátio. Cinco minutos.”
Luca acenou com a cabeça, tentando interpretar o que havia nos olhos dele. Não era raiva. Era urgência.
Cinco minutos depois, os dois estavam atrás do Conservatório de Música, onde quase ninguém ia àquela hora. A chuva tinha parado, mas o céu ainda estava fechado.
Dante não enrolou.
— “Eles sabem.”
Luca franziu a testa.
— “Quem?”
— “Meus pais. Eles sabem. Alguém… alguém contou.”
O mundo pareceu girar devagar demais. Luca arregalou os olhos, o estômago se contraindo num nó.
— “Mas… como? O que aconteceu?”
— “Recebi uma ligação hoje cedo. Meu pai disse que ‘não admitiria ver o nome da família virar piada’. E que já providenciou minha transferência.”
Luca sentiu o peito afundar.
— “Transferência pra onde?”
Dante engoliu em seco, com os olhos brilhando em fúria e medo.
— “Pra Londres. Uma faculdade de Direito. Tradicional. Masculina. E distante o suficiente pra eles acharem que vão apagar o que sou.”
Por um instante, o mundo ficou silencioso. Até os pássaros pareciam ter calado.
Luca não conseguia falar. Queria dizer “luta por nós”, ou “não vá”, ou até “foge comigo”. Mas tudo o que saiu foi um suspiro trêmulo.
— “Quando?”
Dante olhou para o chão, como se aquelas palavras doíssem mais do que os socos do dia anterior.
— “Semana que vem.”
E naquele instante, Luca percebeu: a universidade estava contra eles, os colegas estavam contra eles… e agora, até o tempo estava contra eles também.
Mas o que ainda não sabiam, era se o amor que nascia entre os dois seria forte o bastante para resistir a tudo isso — ou se acabaria como tudo que nasce bonito demais no lugar errado.
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Atualizado até capítulo 50
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