O café era forte, como prometido. Mas o gosto que ficou depois foi outro.
Naquela noite, os dois sentaram num banco de pedra sob o toldo da biblioteca, ainda ouvindo a chuva caindo em baixelas nos canteiros. Conversaram por horas — sobre livros, música, coisas que não conseguiam dizer em voz alta para ninguém. Dante falava de sua antiga cidade como se ela fosse um campo de guerra silencioso. Luca falava pouco, mas quando falava, era como abrir uma cicatriz antiga.
Era pra ser só isso. Um instante roubado. Uma noite que ninguém saberia.
Mas alguém soube.
Na manhã seguinte, Luca entrou na aula com um arrepio na espinha. Os olhares estavam diferentes. Demorados demais. Silenciosos demais. Sussurros curtos pipocavam nas fileiras, como gotas de óleo em água fervendo.
E então, no intervalo, veio o baque.
Ele estava indo para o banheiro no bloco mais antigo do campus, quando três caras do time de rugby o cercaram. Um deles, Mateo, era da mesma sala de Dante.
— “Achei bonito o momento íntimo de vocês ontem. Tão… artístico.”
O sarcasmo era afiado, mas o ódio nos olhos era ainda mais.
— “Você acha que aqui é Paris pra fazer piquenique com homem, viadinho?”
Luca tentou responder, mas o punho veio antes das palavras. Um golpe seco na boca do estômago o fez cair de joelhos. Outro na mandíbula. O chão ficou frio e longe ao mesmo tempo.
Eles não diziam muito — só riam. Como se bater fosse um esporte.
Quando finalmente foram embora, Luca ficou ali por minutos. O sangue escorria pelo canto da boca, quente e salgado. A náusea veio junto com a vergonha. Não pela dor. Mas pelo medo de Dante ver. De pensar que ele era um problema.
⸻
Dante soube naquela mesma tarde.
Ele apareceu na enfermaria, onde Luca estava com gelo na bochecha e um corte mal costurado no supercílio.
— “Foi por minha causa?” — ele perguntou, parado na porta como uma sombra.
Luca desviou o olhar. O orgulho tentava resistir, mas os olhos o traíram.
— “Foi por mim.” — respondeu. — “Eu devia ter sabido. Sempre soube. Mas ontem… você me fez esquecer por umas horas.”
Dante se aproximou, os olhos queimando não de raiva, mas de culpa.
— “Se eu tivesse chegado antes…”
— “Você chegou tarde, lembra?” — Luca sorriu com o canto da boca machucada. — “Mas no tempo certo.”
Dante segurou a mão dele, ali, na frente de duas enfermeiras e um segurança que fingiram não ver. Era um gesto pequeno. Mas foi como gritar no meio do mundo.
Eles sabiam que algo tinha mudado.
Agora não estavam mais escondidos nas sombras da biblioteca.
Agora o amor deles tinha nome, rosto e marcas roxas pelo corpo.
E o mundo — cruel como é — ia responder a isso.
Mas eles também.
Juntos.
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Atualizado até capítulo 50
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