O espelho refletia uma versão de Isadora que ela mal reconhecia.
O vestido escolhido para aquela noite era vermelho profundo, de tecido acetinado, com um decote discreto, mas com fenda lateral ousada o suficiente para causar burburinhos.
O cabeleireiro prendeu os fios escuros num coque baixo, deixando algumas mechas soltas ao redor do rosto, e a maquiagem destacava os olhos com intensidade.
Ao se olhar de cima a baixo, Isadora respirou fundo.
"Se é para ser vista... então que seja como uma tempestade, não uma sombra."
Quando desceu as escadas, o silêncio tomou conta da sala.
Alberto estava conversando com um dos assessores da empresa, mas ao vê-la, interrompeu-se por um instante, parecendo surpreso com a escolha de vestido.
— Você está… — ele pigarreou, recompondo-se — … adequada.
Isadora apenas ergueu o queixo, ignorando o tom condescendente.
Mas foi quando Lorenzo entrou na casa, logo atrás de um segurança, que o ar pareceu mudar de densidade.
Ele parou ao pé da escada e a observou de cima a baixo. Sem pressa. Sem cerimônias.
O olhar dele percorreu a extensão da fenda do vestido, subiu pelas curvas da cintura e parou no rosto dela… um olhar demorado, indecifrável… e perigosamente atento.
— Não é o que eu esperava. — Ele disse, com um sorriso torto.
Isadora desceu os últimos degraus, mantendo o olhar firme.
— Que bom. Eu me esforço para surpreender.
Lorenzo ofereceu o braço, como um cavalheiro de manual. Ela hesitou por meio segundo… mas então o aceitou.
— Pelo menos aprendeu rápido. — Ele murmurou junto ao ouvido dela enquanto saíam.
— Não se iluda. — Ela rebateu baixinho. — Ainda sou péssima em obedecer.
Ele riu, um som baixo e rouco… como se aquilo, em vez de irritá-lo, apenas o divertisse ainda mais.
O salão do clube da cidade estava lotado.
Figuras conhecidas da alta sociedade, empresários, políticos, e, claro, os colunistas sociais que viviam de fofocas.
Câmeras e flashes disparavam de todos os lados.
Assim que Lorenzo e Isadora atravessaram a porta principal, os olhares se voltaram para eles como um ímã.
— Mantenha o sorriso. — Ele disse de lado, enquanto caminhavam lado a lado. — Finja que está feliz.
Ela respondeu sem olhar para ele:
— Finjo muito bem. Você sabe disso.
Enquanto desfilavam pelo salão, cumprimentando casais influentes, Isadora percebia o quanto Lorenzo era admirado e, ao mesmo tempo, temido. Os homens o cumprimentavam com respeito contido, e as mulheres… bem… muitas delas olhavam para ele com mais desejo do que disfarce.
E algumas… olhavam para ela com uma mistura de inveja e pena.
Em determinado momento, durante um brinde, uma mulher loira, elegantemente vestida, se aproximou.
— Lorenzo… — a voz dela era doce demais para ser sincera. — Finalmente resolveu nos apresentar sua noiva?
Isadora manteve o sorriso no rosto, mesmo ao perceber o tom venenoso.
— Isadora Montenegro. — Ela se adiantou, estendendo a mão com firmeza. — Prazer.
A mulher sorriu de volta, mas o olhar era afiado como navalha.
— Prazer… Juliana. — A loira respondeu. — A mulher que recusou Lorenzo duas vezes. — Ela disse aquilo com a sutileza de uma faca.
Isadora piscou, como se fosse imune.
— Interessante… — Respondeu, com um sorriso frio. — Eu nunca precisei recusar… Mas obrigada por preparar o terreno.
Lorenzo, que acompanhava toda a cena em silêncio, apenas ergueu uma sobrancelha… e, pela primeira vez naquela noite, sorriu com verdadeira diversão.
Juliana se afastou visivelmente contrariada.
— Você sabe ser venenosa quando quer. — Ele comentou, levando a taça de champagne aos lábios.
— Apenas quando me provocam. — Isadora rebateu, tomando um gole da própria taça.
Ao longo da noite, eles cumpriram todos os rituais sociais: fotos, brindes, conversas com investidores.
Mas a cada toque de braço… a cada olhar… a cada provocação sutil… a tensão entre eles crescia como uma linha invisível puxando os dois.
No final do evento, ao entrarem juntos no carro que os levaria de volta, o silêncio se instalou.
Mas não era um silêncio confortável.
Era denso. Elétrico.
Quando o motorista acelerou, Isadora percebeu que Lorenzo a observava de canto de olho.
— O que foi? — Ela perguntou, cansada, mas ainda com orgulho intacto.
Ele sorriu… aquele sorriso de canto, perigoso.
— Só estou começando a achar que essa encenação… pode acabar sendo bem mais interessante do que eu imaginava.
A viagem de volta para a mansão foi silenciosa… mas não um silêncio confortável.
Era um silêncio carregado de pensamentos, olhares furtivos e uma tensão que parecia crescer a cada quilômetro percorrido.
Isadora mantinha o olhar fixo na paisagem escura do lado de fora da janela, tentando ignorar o fato de que Lorenzo, sentado a menos de um metro de distância, não tirava os olhos dela.
Por diversas vezes, ela sentiu o peso daquele olhar… queimando, provocando… como se ele tentasse ler os pensamentos mais íntimos que ela guardava a sete chaves.
Quando finalmente o carro parou em frente à casa, Lorenzo foi o primeiro a sair.
Sem esperar por ela, subiu os degraus da varanda com passos tranquilos.
Isadora hesitou por um segundo antes de descer do carro. O vestido vermelho ainda colava na pele por causa do calor da noite e dos próprios nervos.
Ela subiu as escadas, os saltos ecoando no mármore, e o alcançou na porta.
Quando estava prestes a passar por ele, Lorenzo se moveu.
Rápido.
De um jeito inesperado.
O braço dele bloqueou a passagem, a mão apoiada na porta, impedindo que ela seguisse.
Isadora parou de súbito, virando-se para encará-lo.
— Algum problema? — Ela perguntou, com a voz baixa… mas firme.
Os olhos dele desceram por um breve segundo até o decote do vestido… depois subiram de novo, fixando-se nos dela.
— Você está me provocando. — Ele disse, como se estivesse constatando um fato.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— Eu? — Repetiu, com um sorriso desafiador. — Não seja arrogante, Lorenzo. O mundo não gira ao seu redor.
Ele sorriu… aquele sorriso lento, quase preguiçoso… mas com um fundo perigoso.
— Ah, mas no seu… parece girar.
Antes que ela pudesse reagir, Lorenzo inclinou-se.
Não foi um beijo. Não foi um toque… mas foi o suficiente.
Ele aproximou os lábios até a distância entre os dois ser de apenas um fio de ar.
Isadora sentiu a respiração dele contra a pele. O perfume amadeirado. O calor.
O coração disparou de forma traiçoeira.
— Continue assim… — Ele sussurrou, a voz arrastada, rouca… — E vai descobrir que eu também sei jogar sujo.
E então… simplesmente se afastou.
Como se nada tivesse acontecido.
Como se aquele quase beijo… aquele quase toque… não tivesse deixado a pele dela em combustão.
Isadora permaneceu ali, imóvel por alguns segundos, o rosto ainda quente, os pensamentos um caos.
"Maldito."
Ela respirou fundo, tentando controlar o próprio corpo que insistia em traí-la.
Então, com a dignidade de quem acabara de sobreviver ao campo de batalha, seguiu para o quarto.
Fechou a porta com força atrás de si e encostou-se nela, levando a mão ao peito.
— Isso não vai acontecer. — Murmurou para si mesma, como um mantra.
Mas no fundo… ela já não tinha tanta certeza assim.
E naquele mesmo instante, do lado de fora, Lorenzo parou no corredor, olhando para a porta fechada… com um sorriso contido nos lábios.
"Definitivamente… isso vai ser divertido."
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Sonia
Corredor da casa dela! Ué, já casaram???
2025-07-01
1
Anonymous
Péssima em obedecer e está fazendo o que o diabólico pai quer
2025-07-15
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Mariza Gomes
esses dois tá parecendo cão e Gato 🤣🤣
2025-06-24
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