Capítulo 5

O espelho refletia uma versão de Isadora que ela mal reconhecia.

O vestido escolhido para aquela noite era vermelho profundo, de tecido acetinado, com um decote discreto, mas com fenda lateral ousada o suficiente para causar burburinhos.

O cabeleireiro prendeu os fios escuros num coque baixo, deixando algumas mechas soltas ao redor do rosto, e a maquiagem destacava os olhos com intensidade.

Ao se olhar de cima a baixo, Isadora respirou fundo.

"Se é para ser vista... então que seja como uma tempestade, não uma sombra."

Quando desceu as escadas, o silêncio tomou conta da sala.

Alberto estava conversando com um dos assessores da empresa, mas ao vê-la, interrompeu-se por um instante, parecendo surpreso com a escolha de vestido.

— Você está… — ele pigarreou, recompondo-se — … adequada.

Isadora apenas ergueu o queixo, ignorando o tom condescendente.

Mas foi quando Lorenzo entrou na casa, logo atrás de um segurança, que o ar pareceu mudar de densidade.

Ele parou ao pé da escada e a observou de cima a baixo. Sem pressa. Sem cerimônias.

O olhar dele percorreu a extensão da fenda do vestido, subiu pelas curvas da cintura e parou no rosto dela… um olhar demorado, indecifrável… e perigosamente atento.

— Não é o que eu esperava. — Ele disse, com um sorriso torto.

Isadora desceu os últimos degraus, mantendo o olhar firme.

— Que bom. Eu me esforço para surpreender.

Lorenzo ofereceu o braço, como um cavalheiro de manual. Ela hesitou por meio segundo… mas então o aceitou.

— Pelo menos aprendeu rápido. — Ele murmurou junto ao ouvido dela enquanto saíam.

— Não se iluda. — Ela rebateu baixinho. — Ainda sou péssima em obedecer.

Ele riu, um som baixo e rouco… como se aquilo, em vez de irritá-lo, apenas o divertisse ainda mais.

O salão do clube da cidade estava lotado.

Figuras conhecidas da alta sociedade, empresários, políticos, e, claro, os colunistas sociais que viviam de fofocas.

Câmeras e flashes disparavam de todos os lados.

Assim que Lorenzo e Isadora atravessaram a porta principal, os olhares se voltaram para eles como um ímã.

— Mantenha o sorriso. — Ele disse de lado, enquanto caminhavam lado a lado. — Finja que está feliz.

Ela respondeu sem olhar para ele:

— Finjo muito bem. Você sabe disso.

Enquanto desfilavam pelo salão, cumprimentando casais influentes, Isadora percebia o quanto Lorenzo era admirado e, ao mesmo tempo, temido. Os homens o cumprimentavam com respeito contido, e as mulheres… bem… muitas delas olhavam para ele com mais desejo do que disfarce.

E algumas… olhavam para ela com uma mistura de inveja e pena.

Em determinado momento, durante um brinde, uma mulher loira, elegantemente vestida, se aproximou.

— Lorenzo… — a voz dela era doce demais para ser sincera. — Finalmente resolveu nos apresentar sua noiva?

Isadora manteve o sorriso no rosto, mesmo ao perceber o tom venenoso.

— Isadora Montenegro. — Ela se adiantou, estendendo a mão com firmeza. — Prazer.

A mulher sorriu de volta, mas o olhar era afiado como navalha.

— Prazer… Juliana. — A loira respondeu. — A mulher que recusou Lorenzo duas vezes. — Ela disse aquilo com a sutileza de uma faca.

Isadora piscou, como se fosse imune.

— Interessante… — Respondeu, com um sorriso frio. — Eu nunca precisei recusar… Mas obrigada por preparar o terreno.

Lorenzo, que acompanhava toda a cena em silêncio, apenas ergueu uma sobrancelha… e, pela primeira vez naquela noite, sorriu com verdadeira diversão.

Juliana se afastou visivelmente contrariada.

— Você sabe ser venenosa quando quer. — Ele comentou, levando a taça de champagne aos lábios.

— Apenas quando me provocam. — Isadora rebateu, tomando um gole da própria taça.

Ao longo da noite, eles cumpriram todos os rituais sociais: fotos, brindes, conversas com investidores.

Mas a cada toque de braço… a cada olhar… a cada provocação sutil… a tensão entre eles crescia como uma linha invisível puxando os dois.

No final do evento, ao entrarem juntos no carro que os levaria de volta, o silêncio se instalou.

Mas não era um silêncio confortável.

Era denso. Elétrico.

Quando o motorista acelerou, Isadora percebeu que Lorenzo a observava de canto de olho.

— O que foi? — Ela perguntou, cansada, mas ainda com orgulho intacto.

Ele sorriu… aquele sorriso de canto, perigoso.

— Só estou começando a achar que essa encenação… pode acabar sendo bem mais interessante do que eu imaginava.

A viagem de volta para a mansão foi silenciosa… mas não um silêncio confortável.

Era um silêncio carregado de pensamentos, olhares furtivos e uma tensão que parecia crescer a cada quilômetro percorrido.

Isadora mantinha o olhar fixo na paisagem escura do lado de fora da janela, tentando ignorar o fato de que Lorenzo, sentado a menos de um metro de distância, não tirava os olhos dela.

Por diversas vezes, ela sentiu o peso daquele olhar… queimando, provocando… como se ele tentasse ler os pensamentos mais íntimos que ela guardava a sete chaves.

Quando finalmente o carro parou em frente à casa, Lorenzo foi o primeiro a sair.

Sem esperar por ela, subiu os degraus da varanda com passos tranquilos.

Isadora hesitou por um segundo antes de descer do carro. O vestido vermelho ainda colava na pele por causa do calor da noite e dos próprios nervos.

Ela subiu as escadas, os saltos ecoando no mármore, e o alcançou na porta.

Quando estava prestes a passar por ele, Lorenzo se moveu.

Rápido.

De um jeito inesperado.

O braço dele bloqueou a passagem, a mão apoiada na porta, impedindo que ela seguisse.

Isadora parou de súbito, virando-se para encará-lo.

— Algum problema? — Ela perguntou, com a voz baixa… mas firme.

Os olhos dele desceram por um breve segundo até o decote do vestido… depois subiram de novo, fixando-se nos dela.

— Você está me provocando. — Ele disse, como se estivesse constatando um fato.

Ela arqueou uma sobrancelha.

— Eu? — Repetiu, com um sorriso desafiador. — Não seja arrogante, Lorenzo. O mundo não gira ao seu redor.

Ele sorriu… aquele sorriso lento, quase preguiçoso… mas com um fundo perigoso.

— Ah, mas no seu… parece girar.

Antes que ela pudesse reagir, Lorenzo inclinou-se.

Não foi um beijo. Não foi um toque… mas foi o suficiente.

Ele aproximou os lábios até a distância entre os dois ser de apenas um fio de ar.

Isadora sentiu a respiração dele contra a pele. O perfume amadeirado. O calor.

O coração disparou de forma traiçoeira.

— Continue assim… — Ele sussurrou, a voz arrastada, rouca… — E vai descobrir que eu também sei jogar sujo.

E então… simplesmente se afastou.

Como se nada tivesse acontecido.

Como se aquele quase beijo… aquele quase toque… não tivesse deixado a pele dela em combustão.

Isadora permaneceu ali, imóvel por alguns segundos, o rosto ainda quente, os pensamentos um caos.

"Maldito."

Ela respirou fundo, tentando controlar o próprio corpo que insistia em traí-la.

Então, com a dignidade de quem acabara de sobreviver ao campo de batalha, seguiu para o quarto.

Fechou a porta com força atrás de si e encostou-se nela, levando a mão ao peito.

— Isso não vai acontecer. — Murmurou para si mesma, como um mantra.

Mas no fundo… ela já não tinha tanta certeza assim.

E naquele mesmo instante, do lado de fora, Lorenzo parou no corredor, olhando para a porta fechada… com um sorriso contido nos lábios.

"Definitivamente… isso vai ser divertido."

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Comments

Sonia

Sonia

Corredor da casa dela! Ué, já casaram???

2025-07-01

1

Anonymous

Anonymous

Péssima em obedecer e está fazendo o que o diabólico pai quer

2025-07-15

0

Mariza Gomes

Mariza Gomes

esses dois tá parecendo cão e Gato 🤣🤣

2025-06-24

0

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