Dois dias após o anúncio oficial do noivado, Isadora foi convocada ao escritório do pai.
Ela desceu as escadas com passos firmes, tentando manter a dignidade intacta mesmo com o coração acelerado. Já esperava mais ordens, mais imposições, mais um capítulo da história onde ela seria apenas uma figurante no grande espetáculo da família Montenegro.
Mas ao abrir a porta, o cenário que encontrou a fez parar por um instante.
Lorenzo estava lá.
Sentado na poltrona de couro, pernas cruzadas, os dedos brincando distraidamente com o anel de prata que usava no dedo. O olhar dele se ergueu lentamente na direção dela, analisando-a com a mesma expressão calculista de sempre.
Ao lado dele, um advogado de expressão sisuda folheava um contrato grosso como um manual de guerra.
Alberto, por sua vez, sorria… aquele sorriso satisfeito que Isadora odiava.
— Sente-se, Isadora. — O pai indicou a cadeira à frente da mesa, como se ela fosse uma funcionária prestes a receber novas tarefas.
Ela caminhou com passos contidos, sentando-se sem desviar os olhos de Lorenzo.
— Estamos finalizando os termos do contrato pré-nupcial. — Alberto começou, a voz carregada de falsa cordialidade. — Apenas detalhes formais.
— Detalhes que garantem a segurança de ambas as famílias. — Acrescentou Lorenzo, com um tom de voz frio, mas cortês.
O advogado pigarreou e começou a ler as cláusulas:
Durante os primeiros doze meses de casamento, Isadora deveria manter a postura de uma esposa exemplar: acompanharia Lorenzo em todos os eventos sociais, viagens, reuniões familiares e seria, nas palavras deles, uma "representação pública irretocável".
Além disso, qualquer escândalo, exposição negativa ou tentativa de anulação precoce do casamento acarretaria uma multa rescisória altíssima.
Isadora ouviu tudo com um nó na garganta. O contrato deixava claro: ela era uma peça de negociação, e o único objetivo ali era proteger os interesses dos Montenegro e dos Bianchi.
Quando o advogado terminou a leitura e deslizou a caneta na direção dela, Isadora manteve a mão longe.
— Eu tenho uma condição. — Sua voz cortou o ar da sala com firmeza.
Alberto girou a cabeça para ela como se não tivesse entendido.
— Como é? — O tom dele saiu entre a incredulidade e a ameaça.
Ela olhou diretamente para Lorenzo, ignorando o olhar furioso do pai.
— Já que vou cumprir um papel de fachada, representar uma esposa perfeita, seguir todas as exigências de vocês… eu exijo algo em troca.
Lorenzo, que até então apenas a observava com certo distanciamento, arqueou uma sobrancelha, nitidamente interessado.
— E o que exatamente você quer? — A voz dele veio baixa, mas com um tom quase curioso.
Isadora respirou fundo, reunindo toda a coragem que ainda tinha.
— Quero uma cláusula de independência financeira. — Ela declarou, com os olhos fixos nos dele. — Durante o período de validade desse contrato… e principalmente no caso de um divórcio… quero uma garantia. Quero uma quantia justa, suficiente para que eu possa viver sem depender do meu pai… ou de você.
Alberto explodiu de imediato:
— Isso é um absurdo! Você não está em posição de fazer exigências, Isadora!
Ela o ignorou. Manteve o olhar firme em Lorenzo.
— Considere… — ela disse, com um meio sorriso — … como um seguro por serviços prestados.
O silêncio que seguiu foi denso.
O advogado olhou para Lorenzo, esperando uma resposta.
O herdeiro Bianchi continuou a encará-la por alguns segundos… até que um sorriso torto surgiu no canto dos lábios dele. Um sorriso carregado de ironia… e aprovação.
— Concordo. — Ele disse, pegando a caneta. — Na verdade… gosto de mulheres que sabem negociar.
Alberto ficou lívido.
— Lorenzo, isso é desnecessário…
— Não para mim. — Ele respondeu, sem sequer olhar para o futuro sogro.
Em poucos minutos, a cláusula foi acrescentada ao contrato. Uma quantia considerável seria destinada a Isadora, caso o casamento terminasse antes do prazo estipulado… ou se, ao final do primeiro ano, qualquer uma das partes optasse pela separação.
Ela pegou a caneta, agora com as mãos firmes, e assinou.
Se era para entrar nesse jogo… que fosse com as próprias regras.
Quando terminou, levantou-se.
— Com licença. — Disse, sem esperar liberação de ninguém.
Ao sair do escritório, sentiu a respiração finalmente voltar ao normal.
Não era uma vitória completa… mas era uma vitória.
E naquele exato momento, sem que ela soubesse, Lorenzo a observava de longe, com os olhos estreitados e um sorriso discreto nos lábios.
"Definitivamente… ela é mais interessante do que eu imaginei."
Ao atravessar a porta do escritório, Isadora caminhou pelo corredor com passos firmes, mas o coração ainda batendo como um tambor dentro do peito.
Fechar aquela porta atrás de si parecia simbólico. Como se, pela primeira vez em anos, ela tivesse conseguido, ainda que de forma pequena, desafiar as correntes invisíveis que o pai colocara nela desde a infância.
Ela não sabia se deveria se sentir vitoriosa… ou apavorada.
Quando virou o corredor, parou por um segundo ao ouvir, atrás da porta fechada, a voz de Alberto subir em tom:
— Que diabos foi aquilo, Lorenzo?! Você deveria ter se oposto! Não pode dar esse tipo de poder a ela!
A resposta veio mais baixa, mas com clareza suficiente para alcançar os ouvidos atentos de Isadora:
— Se ela for tão inteligente quanto está demonstrando… não vai precisar da cláusula. — A voz de Lorenzo carregava um tom de provocação controlada. — Agora… se ela me decepcionar… ao menos terei tido o gosto de vê-la lutar antes de cair.
Isadora mordeu o lábio inferior, lutando contra a vontade de abrir a porta e gritar. Mas preferiu respirar fundo e seguir adiante.
Não valia a pena perder o equilíbrio… ainda.
Mais tarde, deitada na cama, ela revivia cada segundo daquela reunião. Cada olhar. Cada frase.
Ela sabia que a decisão de impor aquela cláusula teria consequências. Alberto a trataria com o dobro da frieza e do desprezo que já tinha antes. Sofia provavelmente inventaria piadas maldosas sobre a irmã "mercenária".
E Lorenzo… bem… Lorenzo agora a via como um tipo de adversária com potencial.
Isso era bom ou ruim? Ela ainda não sabia.
Mas, no fundo, havia uma certeza incômoda:
A partir daquele dia, ela não podia mais vacilar.
Na manhã seguinte, enquanto tomava café sozinha na varanda, Isadora viu a movimentação na entrada da mansão. Um carro preto, de vidros escuros, estacionou discretamente.
Lorenzo desceu.
Desta vez, sem o terno formal da reunião anterior. Usava uma camisa branca, as mangas dobradas até os cotovelos, e calça de alfaiataria escura.
O visual mais casual não o deixava menos imponente. Pelo contrário.
Ele caminhou até a varanda com a mesma postura controlada de sempre, como se o mundo inteiro fosse um tabuleiro de xadrez e ele, o único com as peças certas nas mãos.
— Bom dia, senhorita Montenegro. — A voz grave, carregada de ironia.
Ela pousou a xícara de café com calma.
— Não sabia que visitas matinais faziam parte do contrato.
Ele sorriu de leve.
— Considere… um bônus.
Ela cruzou as pernas, mantendo o olhar fixo nele.
— O que o traz aqui?
Lorenzo encostou-se na coluna de mármore da varanda, observando-a com atenção.
— Vamos sair hoje. — Anunciou com a mesma naturalidade de quem informa a previsão do tempo. — Primeiro evento público oficial como noivos. Um jantar beneficente no clube da cidade. Os fotógrafos estarão lá. Os investidores também.
Isadora apertou os lábios.
— Então… começa agora?
— Já começou, Isadora. — Ele respondeu, com um sorriso torto. — Você só ainda não percebeu o quanto.
Ela manteve o olhar firme, mas por dentro, o frio na barriga aumentava.
Lorenzo então se afastou, mas antes de descer os degraus da varanda, virou-se por um instante:
— Ah… — Ele disse, com um brilho divertido nos olhos. — Escolha um vestido que chame atenção… mas que não ultrapasse os limites.
Ela arqueou uma sobrancelha.
— E quem define quais são esses limites?
Ele sorriu, de forma lenta e deliberada.
— Por enquanto… eu.
E com isso, desapareceu da vista dela.
Isadora ficou ali, respirando fundo, enquanto encarava a xícara de café. O líquido agora estava frio… mas nada tão frio quanto a sensação que Lorenzo deixava nela.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 61
Comments
Santina Costa
Isso é um pai, ou inimigo! E não entendi nada, os dois se uniram para destrui-la!!!
2025-07-01
3
Leitora compulsiva
certa ela de por essa cláusula, o "pai" quer só ganhar em cima dela
2025-07-01
0