O salão principal da mansão Montenegro nunca esteve tão cheio.
Lustres de cristal reluziam com uma intensidade quase ofuscante, refletindo nas taças alinhadas sobre as mesas. Arranjos de flores frescas decoravam cada canto, e garçons circulavam com bandejas de champagne.
A elite da cidade inteira parecia ter sido convidada para o evento que, até poucas semanas atrás, Isadora jamais imaginaria fazer parte: o anúncio oficial de seu noivado com Lorenzo Bianchi.
Isadora observava tudo de um canto da sala, o coração disparado e o estômago embrulhado. Vestia um vestido de seda cor de vinho, que Alberto mandara fazer especialmente para a ocasião. Os ombros estavam expostos, e o tecido abraçava seu corpo de forma provocante… demais para o gosto dela.
Ela sabia que era intencional. Sabia que seu pai queria exibi-la como um troféu. Um objeto bem polido para impressionar a família Bianchi… e a sociedade.
Sofia, como sempre, estava radiante. Conversava com um grupo de amigas perto da lareira, sorrindo e jogando olhares curiosos para Isadora.
Do outro lado da sala, Lorenzo estava encostado próximo ao bar, conversando com alguns empresários locais. O terno escuro impecável, a postura imponente… e aquele maldito ar de superioridade que parecia natural nele.
Mas o que mais chamava a atenção de Isadora era o quanto ele parecia completamente no controle.
Ele não parecia nem um pouco incomodado com tudo aquilo. Não demonstrava hesitação, nem constrangimento. Era como se aquele noivado fosse apenas mais uma jogada de negócios.
E talvez fosse.
O olhar dele cruzou com o dela por alguns segundos.
Isadora sustentou o contato. Orgulhosa. Firme.
Ele arqueou levemente uma sobrancelha, como se se divertisse com o desafio.
Ela apertou os punhos, lutando contra o desejo de virar o rosto.
O som de um copo sendo levemente batido chamou a atenção de todos.
Alberto subiu dois degraus da escadaria, de onde tinha uma boa visão do salão.
— Senhores e senhoras… — a voz dele ecoou, autoritária. — Obrigado pela presença de todos nesta noite tão especial para nossa família… e para os Bianchi.
O burburinho cessou. Todos os olhares voltaram-se para Alberto.
— Como alguns já devem ter ouvido… hoje celebramos a união de dois grandes nomes desta cidade. — Ele sorriu, satisfeito. — Tenho a honra de anunciar o noivado de minha filha… Isadora Montenegro… com o senhor Lorenzo Bianchi.
O salão explodiu em aplausos educados.
Isadora sentiu o chão faltar por um segundo. O som dos aplausos parecia abafado, distante, como se ela estivesse ouvindo tudo debaixo d’água.
Ela forçou um sorriso discreto, mantendo a compostura. Por fora, a imagem de uma jovem agradecida. Por dentro, um turbilhão de emoções que ela não conseguia nomear.
Lorenzo se aproximou com passos calmos, cortando o salão com sua presença imponente.
Quando parou ao lado dela, Isadora mal teve tempo de reagir antes que ele, com a mesma frieza ensaiada de sempre, estendesse a mão.
Ela hesitou apenas por um segundo… e então aceitou o gesto.
A mão dele era quente… firme… segura.
Ao invés de um abraço protocolar, Lorenzo a surpreendeu: levou a mão dela aos lábios, com um toque tão leve quanto calculado.
O gesto arrancou suspiros e cochichos das mulheres presentes.
Mas só Isadora percebeu o verdadeiro significado daquilo.
Era uma provocação. Um aviso silencioso.
— Parabéns ao casal! — Gritou alguém no meio da multidão.
Mais aplausos. Mais brindes.
Isadora manteve o sorriso de fachada enquanto os convidados vinham um a um parabenizá-los, desejar felicidades, elogiar o “belo casal”.
Mas a cada nova saudação, ela sentia a respiração ficando mais curta. A garganta mais apertada.
Ela queria fugir. Correr. Se esconder.
Mas não podia.
Não naquela noite.
Quando finalmente tiveram um momento a sós, já perto do final da festa, Isadora aproveitou para enfrentá-lo.
Encontrou Lorenzo próximo ao jardim, onde poucos convidados circulavam naquela hora.
— Isso é um teatro. — Ela disse, parando diante dele, com o coração acelerado.
Lorenzo a observou, com aquele meio sorriso torto que ela já começava a odiar… ou a temer.
— Todo casamento é. Pelo menos no começo.
— Você está se divertindo com isso, não está? — Ela o acusou, os olhos faiscando.
Ele deu um passo à frente, diminuindo perigosamente a distância entre os dois.
— Estou me divertindo… com você. — A voz dele saiu baixa, rouca… mas com uma intensidade que a fez perder o ar por um segundo.
Ela ficou imóvel, o olhar preso ao dele.
Mas antes que pudesse encontrar uma resposta à altura, Lorenzo apenas sorriu de canto… e saiu andando, deixando-a ali… sozinha com seus próprios pensamentos e um coração em chamas.
A madrugada avançava, e a casa finalmente começava a silenciar.
Os convidados já tinham ido embora, e o som de risos, brindes e música agora dava lugar ao eco abafado dos passos dos empregados recolhendo copos vazios e arrumando o salão.
Isadora permaneceu por alguns minutos na varanda, respirando o ar frio da noite, tentando acalmar a mente que parecia em chamas.
Ela ainda sentia o toque dos lábios de Lorenzo em sua mão, como se ele tivesse deixado ali uma marca invisível, um lembrete incômodo de quem realmente estava no comando daquela situação.
Seu vestido já começava a incomodar, o tecido justo demais contra a pele, como se refletisse o sufoco que ela sentia por dentro.
— Está tarde para ficar sozinha aqui fora. — A voz grave e inconfundível quebrou o silêncio, fazendo-a se virar de imediato.
Lorenzo estava ali, encostado no batente da porta que dava para o jardim. As mãos nos bolsos do paletó, o olhar fixo nela.
— Não sabia que agora tinha um horário estabelecido para respirar. — Isadora respondeu, com o tom levemente ácido.
Ele sorriu, um sorriso preguiçoso… quase divertido.
— Não gosto de mulheres que desafiam. Mas admito… você tem talento.
Isadora cruzou os braços, sustentando o olhar dele.
— Não sou uma das suas secretárias, nem uma das mulheres que você está acostumado a dispensar, Sr. Bianchi. Se está procurando alguém submissa, talvez devêssemos encerrar isso antes mesmo do casamento acontecer.
Por um breve momento, ela achou que ele fosse rir da ousadia dela.
Mas o que veio foi um passo à frente. Depois outro.
E então, Lorenzo estava perto… muito perto… o suficiente para que ela sentisse o calor dele invadir o espaço ao redor.
Ele inclinou-se ligeiramente, os olhos negros fixos nos dela.
— Não me subestime, Isadora. — A voz dele saiu baixa, mas carregada de aviso. — Eu sempre termino o que começo.
Ela sentiu o corpo inteiro reagir, o coração disparando, a pele se arrepiando de forma involuntária.
Antes que pudesse responder, ele recuou um passo, como se o momento nunca tivesse existido.
— Boa noite, futura Sra. Bianchi. — Ele disse, com um sorriso quase cínico, antes de virar-se e desaparecer para dentro da casa.
Isadora ficou ali, imóvel, lutando contra a vontade de gritar… ou de chorar… ou talvez de fazer os dois ao mesmo tempo.
Horas depois, deitada na cama, ela encarava o teto do quarto com os olhos abertos, o sono longe de chegar.
O vestido já estava largado numa cadeira, os cabelos soltos, mas o corpo inteiro ainda parecia em estado de alerta.
Ela revivia cada detalhe daquele olhar… daquele sorriso torto… daquela ameaça velada.
Isadora sabia que Lorenzo estava jogando… provocando… testando os limites dela.
E, por mais que uma parte dela desejasse fugir de tudo aquilo, havia outra parte… mais sombria e orgulhosa… que se recusava a ceder.
Ela não ia quebrar.
Não por ele.
Não por ninguém.
Virou-se na cama, fechando os olhos com força.
"Você começou esse jogo, Lorenzo Bianchi…
Mas quem vai dar as cartas… sou eu."
E com esse pensamento, finalmente, adormeceu.
Mal sabia ela que o que viria a seguir… seria apenas o começo.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 61
Comments
Mariza Gomes
Autora espero que faça ela uma mulher forte e não uma fraca
2025-06-22
1
Yamagutte Maria
Parabéns autora estou amando o começo desta história
2025-07-10
0