Manhã no Quintal da Casa Tamendê
O sol da manhã iluminava o quintal da casa Tamendê, trazendo um calor suave após dias de chuva. Karuara, sentado num tronco velho, observava o horizonte com um olhar pensativo, ainda tentando se acostumar à nova vida. Perto dele, Sazenac, de cinco anos, balançava os bracinhos com entusiasmo, enquanto Linkhin, de dez anos, dava pulos imitando um animal selvagem.
“Vai, Karuara! Brinca comigo! A gente pode lutar como guerreiros das sombras!” exclamou Sazenac, os olhos brilhando de empolgação. “É! Eu faço o rugido e você tenta fugir de mim! GRRRR!” completou Linkhin, mostrando os dentes em um sorriso travesso. Karuara deu um sorriso sem graça, tentando manter o bom humor. “Vocês nunca cansam, né?” respondeu, meio desajeitado.
Antes que pudesse se envolver, Malaéd surgiu, firme, com os braços cruzados e o rosto parcialmente coberto por sua máscara característica. “Ei, deixem ele em paz. Ele não é brinquedo de vocês,” disse, com tom seco. Sazenac e Linkhin fizeram bico, mas obedeceram, afastando-se com resmungos. Malaéd ficou por perto, observando Karuara em silêncio, como se o avaliasse. Ele a olhou de volta, intrigado com sua presença quieta.
De repente, Vadashe apareceu do nada, saindo de uma distorção óptica com um sorriso travesso. “Se querem brincar, por que não comigo? Aposto que posso ficar invisível por mais tempo que vocês conseguem me encontrar!” provocou. Sazenac arregalou os olhos. “Sériooo?! Isso parece legal!” Linkhin pulou de animação. “Uaaau, eu quero jogar! Vamos caçar o Vadashe!” Os dois saíram correndo atrás dele, que desapareceu novamente entre risos. Karuara observou a cena com um leve sorriso, mas ainda se sentia deslocado. Malaéd deu de ombros. “Melhor brincar do que ficar aí com cara de que engoliu espinho de peixe,” disse, antes de se afastar.
Yague e o Desenho Vivo
Enquanto as crianças corriam atrás de Vadashe, Karuara notou Yague sentado sob a sombra de uma árvore, com um caderno no colo. O silêncio ao redor dele contrastava com a agitação ao fundo. Curioso, Karuara se aproximou devagar. “Ei, Yague... O que você tá desenhando?” perguntou, com um sorriso tímido. Yague não respondeu, concentrado nos traços rápidos e precisos, como se Karuara nem estivesse ali.
Karuara deu mais um passo, tentando ver o desenho. “Tá legal esse aí... parece um... inseto?” disse, hesitante. De repente, um zunido cortou o ar. Um enxame de mosquitos, grandes e estranhamente organizados, surgiu ao redor de Karuara, forçando-o a recuar enquanto cobria o rosto com os braços. “Ei! Tá maluco?! Que isso?!” gritou, tropeçando e caindo sentado. Os mosquitos não tocaram Yague, que parou de desenhar e ergueu os olhos, falando com uma voz calma e seca. “Você entrou no espaço do meu desenho. Eles não gostam disso.”
Karuara, ainda se afastando, encarou Yague com surpresa. “Tá bom, entendi… fica com os seus bichinhos,” resmungou, sacudindo a poeira das roupas. Os mosquitos desapareceram tão rápido quanto surgiram. Yague voltou a desenhar, como se nada tivesse acontecido, deixando Karuara intrigado e um pouco frustrado.
Quarto da Mãe Tamendê
No interior da casa, o quarto da mãe era silencioso, com janelas entreabertas deixando entrar a brisa suave da tarde. A luz morna iluminava o ambiente, onde a mãe repousava na cama, pálida, mas serena. Nahgar estava sentado ao seu lado, segurando sua mão com cuidado. “Nahgar… Se eu não passar deste ano… será você quem tomará meu lugar,” disse ela, com voz baixa, mas firme.
Nahgar abaixou o olhar, respirando fundo. “Não fala como se já tivesse decidido partir,” respondeu, a voz carregada de emoção contida. A mãe sorriu com ternura. “Meu corpo já decidiu antes de mim. Você sabe disso, Nahgar... e mesmo assim tem sido forte, por todos.” Ele ficou em silêncio, a expressão endurecendo, mas sem perder a gentileza. “Farei o possível. Enquanto eu estiver aqui, ninguém vai se perder,” afirmou. Após uma pausa, completou: “E eu também… não vou me relacionar com ninguém. Não enquanto todos aqui não forem fortes o suficiente para construir suas próprias famílias. Até lá, minha prioridade é protegê-los. Todos eles.”
Um silêncio pesado se instalou. A mãe olhou para o teto, os olhos marejados, mas sem deixar as lágrimas caírem. “Você é um bom filho, Nahgar... Muito melhor do que eu poderia pedir,” sussurrou. Nahgar se levantou devagar, caminhou até a porta e, antes de sair, olhou para ela com uma expressão de decisão firme, mas carregada de dor.
Salão da Família de Elite
Num salão de mármore branco, luxuoso e imponente, os líderes da família Galyth e representantes de uma influente família de elite estavam reunidos ao redor de uma longa mesa. Colunas altas sustentavam o teto, e servos imóveis observavam ao fundo. A tensão era palpável. O líder da elite, com tom frio e calculado, quebrou o silêncio: “Três membros da família Galyth mortos… e ninguém viu nada? Isso é mais que um ataque. É um desafio direto à ordem.”
O irmão mais velho dos Galyth, de 18 anos, falou com raiva contida: “Foram mortos como se fossem nada… Se não fizermos algo agora, qualquer outra família vai achar que pode fazer o mesmo.” Um membro da elite, com um sorriso cínico, sugeriu: “Temos uma boa oportunidade de transformar essa tragédia em... uma seleção. Um torneio.” Murmúrios ecoaram. O líder de uma das famílias da elite assentiu. “Um Torneio Mundial. Duzentas famílias da elite, duzentas da classe alta, duzentas da classe média e duzentas da base da pirâmide social.”
Uma mulher de uma outra família da elite completou: “Obrigatoriedade. Ninguém poderá recusar. Será visto como traição.” Outro representante sorriu sombriamente. “Matar para sobreviver. Vencer para viver.” O pai, líder da família Galyth se levantou, as mãos sobre a mesa. “Esse torneio vai expor a escória. Vamos obrigar as famílias da elite e da classe alta a esmagar as da classe média e baixa. Assim, os culpados serão encontrados... e ninguém ousará levantar a mão contra o topo novamente.” Um membro de outra família da elite, com olhar clínico, acrescentou: “O país todo será o palco. O torneio se espalhará como uma febre. Quebrará alianças. Quebrará esperanças.” Todos assentiram, a decisão selada.
O Anúncio Silencioso
Na manhã seguinte, mensageiros encapuzados, com brasões vermelhos escuros, cruzaram estradas, vilarejos e cidades, entregando cartas com lacres oficiais. Cada família, de todas as classes, recebeu o mesmo aviso. “O anúncio foi feito sem cerimônia. Sem transmissão oficial. Apenas um papel. Um aviso... de morte,” ecoava uma voz invisível.
Numa casa humilde de classe baixa, o pai leu a carta em silêncio, as mãos tremendo. “Sua família foi selecionada. Comparecer ao torneio mundial. Local de início: Região de origem. Recusar é sentença de morte,” dizia o texto em letras vermelhas. A mãe segurava a filha, os olhos cheios de desespero. Em mansões da elite, risadas ecoavam. Para eles, o torneio era uma chance de eliminar rivais sem sujar as mãos.
Na casa Tamendê, ao entardecer, o clima era leve, com crianças correndo no quintal. Um mensageiro encapuzado apareceu no portão, entregando uma carta e desaparecendo sem dizer nada. Karuara pegou o papel. “É só... uma carta?” perguntou, confuso. Todos se aproximaram enquanto ele lia. Zefalla engoliu seco. “Família Tamendê... selecionada...” Chermy, chocada, exclamou: “Isso é uma convocação de guerra!” Prize, com raiva, disse: “Eles nos colocaram no jogo deles...” Nahgar, entrando na cena, falou com firmeza: “Eles escolheram errado. Vão descobrir cedo demais o erro que cometeram.” A mãe, frágil, observava com tristeza e determinação. O peso do destino caiu sobre todos.
A Maior Cidade do País
No dia seguinte, a maior cidade do país estava sob um céu nublado e pesado. Caravanas chegavam pelos quatro portões: a elite pelo norte, com carruagens luxuosas; a classe baixa pelo sul, com roupas simples e armas improvisadas; a classe média pelo leste, com olhares preocupados; e a classe alta pelo oeste, confiantes, mas cautelosos. No centro, um colossal Coliseu Moderno, misturando tecnologia e arquitetura ancestral, abrigava uma arena com um palco de aço negro.
A plateia, dividida em quadrantes por classe social, era vigiada por guardas armados. Karuara, ao lado de Prize, Nahgar, Billeyn, Zefalla e os outros, sentia a tensão no ar. Zefalla segurava a mão de Sazenac, protegendo-o dos olhares hostis. Um grito ecoou: “Silêncio!” Uma figura misteriosa, com um manto branco e uma máscara de vidro com runas vermelhas, surgiu no palco. Sua voz amplificada era sem emoção: “Cidadãos. Famílias. Inimigos. O tempo de esconderijos acabou. A perda de três membros da elite não será esquecida. Aqueles que se escondem entre vocês... serão encontrados. Aqueles que forem fracos... serão eliminados. E aqueles que sobreviverem... terão o direito de reescrever a ordem.”
Telões mostraram o mapa do país, dividido em zonas. “O torneio começa ao pôr do sol de hoje. Vocês poderão se mover por cidades, florestas, desertos, montanhas ou favelas. As zonas estão todas liberadas. O objetivo: sobreviver. Última família em pé... será honrada como nova fundadora.” As famílias reagiram de formas distintas: a elite sorria friamente, a classe baixa se preparava para lutar ou fugir, e os Tamendê se entreolharam em silêncio. Karuara fechou os punhos. Nahgar murmurou: “Vamos sobreviver. Mas não pelas regras deles.”
Fogo azul explodiu no céu, marcando o início. Tambores soaram, alarmes ecoaram, e os portões se abriram. As famílias se espalharam pelo país, como peças num jogo mortal. “De todas as famílias que receberam o papel, nenhuma sabe o que realmente as espera. Mas para os Tamendê... essa guerra será pessoal,” ecoou uma voz final, enquanto o caos começava.
Fim do Capítulo 2
Opa! E aí? Aqui é o autor dessa novel passando para explicar o sistema de poder desse mundo que esqueci de explicar no primeiro capítulo.
Resumo do Conceito Central e Sistema de Poder Familiar
Conceito Central: O poder de um indivíduo deriva exclusivamente de sua família. Famílias mais fortes, unidas e hierarquicamente estruturadas geram membros mais poderosos.
Estrutura Familiar e Níveis de Poder:
- O poder é determinado por:
- Hierarquia: Posição na estrutura familiar.
- Unidade: Laços sanguíneos fortalecem o poder.
- Reconhecimento: Legitimidade dentro da linhagem.
- Níveis Hierárquicos (do mais forte ao mais fraco):
Patriarca/Matriarca: Poder absoluto da linhagem.
Mãe/Matriarca: Quase no topo, pode liderar na ausência do Patriarca.
Filho(a) mais velho(a): Poder cresce com a idade.
Irmãos do meio: Potencial variável, podendo superar os mais velhos em famílias instáveis.
Filho(a) mais novo(a): Poder inicial fraco, mas com grande potencial oculto.
Primos, tios, sobrinhos: Força depende da proximidade com o núcleo familiar.
- Exemplo: Um filho mais novo de uma família lendária pode superar um tio de uma família fraca. (apenas em casos raros)
Sistema de Poder:
- Cada membro da família possui um "domínio/afinidade" (ex.: fogo, tempo, sombra).
- Membros manifestam poderes únicos, mas ligados à afinidade familiar.
- Famílias unidas têm "resonância interna", amplificando poderes quando membros atuam juntos.
Importância da Família:
- Poderes não evoluem isoladamente; dependem da conexão familiar.
- Adoção pode criar novos laços de poder, mas é complexa e arriscada.
- Casamentos, traições, rebeliões e rituais de sangue alteram hierarquias e amplificam ou enfraquecem poderes.
Em resumo, o sistema valoriza a força coletiva da família, com hierarquia, unidade e afinidade definindo o poder individual e coletivo, enquanto dinâmicas familiares moldam a evolução dos poderes.
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Atualizado até capítulo 21
Comments
Mamimi Samejima
Tá muito bom, quero ler mais, atualiza rapidinho!🤞
2025-06-21
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