O ponteiro do relógio marcava 19h em ponto. As luzes da cidade começavam a se acender, dando vida às sombras que se espalhavam pelas ruas da Zona Norte.
Gabriel estacionou o carro a duas quadras do bar "Noite Sem Lei". Desligou o motor, ajeitou a jaqueta, conferiu a arma sob a camisa e respirou fundo. Seu olhar estava frio, calculista, mas por trás dele pulsava a tensão de quem sabia que, a partir daquele momento, cada passo poderia ser fatal.
Puxou o telefone, conferiu a foto novamente. Era ela. Laura.
"Se essa garota realmente for só uma vítima... preciso tirá-la desse buraco. Mas... e se não for?"
Saiu do carro e caminhou com passos firmes, misturando-se aos transeuntes da região. O bar estava cheio. Música alta, cheiro de cerveja misturado com cigarro, e gente de todo tipo: pequenos bandidos, informantes, agiotas, mulheres sedutoras e homens prontos para negócios sujos.
Gabriel entrou como quem já pertencia àquele mundo. Ombros retos, olhar firme, expressão de quem não aceita ser desafiado.
Caminhou até o balcão.
— Uma dose de whisky — pediu, olhando ao redor, analisando cada rosto, cada movimento.
O garçom o serviu, meio desconfiado. Ali, todos se olhavam com desconfiança. E ele sabia que, naquele tipo de ambiente, qualquer erro podia ser o último.
Foi quando viu. Ela.
Laura.
Ela entrou pela porta dos fundos do bar. Usava uma calça jeans apertada, uma blusa preta decotada e botas. Os cabelos soltos, caindo pelos ombros, balançavam a cada passo. O jeito que ela caminhava misturava segurança e dor. Uma mulher que já tinha visto demais. Sofrido demais.
Gabriel sentiu um aperto no peito que não esperava. "Foco, cara. Isso aqui é trabalho."
Mas havia algo nela que o desarmava, sem que ele entendesse por quê.
Laura caminhou direto até o balcão e, ao perceber aquele homem desconhecido, com um porte diferente dos frequentadores dali, lançou um olhar desconfiado.
— Você é novo por aqui. — disse, encostando-se no balcão, cruzando os braços.
Gabriel sorriu de canto, levantando a taça de whisky.
— Observadora, hein? — respondeu, tranquilo.
— Nesse lugar, quem não observa, morre. — rebateu, encarando-o nos olhos, sem medo.
Por alguns segundos, ficaram se medindo. O silêncio entre eles parecia falar mais do que qualquer palavra.
— E o que você tá procurando aqui? — ela insistiu, erguendo uma sobrancelha.
Ele girou o copo, observando o líquido âmbar.
— Negócios. — respondeu, sem piscar. — Disseram que aqui é um bom lugar pra... conhecer gente interessante.
Laura apertou os olhos, avaliando. Ela sabia quando um cara era só mais um perdido no submundo... e quando era alguém diferente. E Gabriel definitivamente não era como os outros.
— E que tipo de "negócio" você faz? — perguntou, jogando os cabelos pro lado.
Ele se aproximou, reduzindo a distância entre eles, e respondeu com a voz baixa, rouca, carregada de intenção dupla:
— O tipo que rende muito dinheiro... pra quem sabe jogar.
Por um instante, Laura quase sorriu. O jeito que ele falava, seguro, misterioso, lhe causava um arrepio que não sentia há tempos.
— Se é dinheiro que você quer... tá no lugar certo. — disse, girando uma garrafa nas mãos. — Mas aqui... o jogo é sujo. E quem não sabe sujar as mãos... não dura.
Ele segurou o olhar dela por alguns segundos. Depois, levou o copo à boca, deu um gole e respondeu:
— Sujar as mãos... nunca foi um problema pra mim.
O clima entre eles ficou denso. Tenso. Quente.
Até que, de repente, a porta do bar se abriu com força. Dois homens armados entraram, abrindo caminho. E atrás deles... Enzo.
O ambiente inteiro pareceu congelar. Todos sabiam quem ele era. E sabiam que quando Enzo aparecia pessoalmente... ou era pra fechar um grande negócio, ou pra fazer alguém desaparecer.
Os olhos de Enzo percorreram o salão... até pararem em Laura. Mas, quando percebeu que ela estava perto de um homem desconhecido, sua expressão mudou instantaneamente. O olhar ficou frio, possessivo... ameaçador.
Ele caminhou até eles. Gabriel percebeu na hora: "Esse é o homem."
Enzo parou a poucos centímetros deles. Seu olhar foi direto para Laura, depois para Gabriel.
— Quem é esse? — perguntou, seco, encarando-a.
Laura engoliu em seco. Sabia que precisava escolher as palavras com muito cuidado.
— Um... novo na área. — respondeu, tentando parecer natural. — Disse que tá interessado em... negócios.
Enzo estreitou os olhos. Avaliou Gabriel dos pés à cabeça, como quem mede um inimigo, não um parceiro.
— E quem te mandou pra cá? — perguntou, direto, com aquela voz que parecia uma lâmina.
Gabriel sabia que qualquer vacilo poderia ser seu fim. Sorriu, jogando o whisky de lado.
— Eu me mando. — respondeu, calmo. — Vim buscar oportunidades. E ouvi falar que quem manda nessa cidade... é você.
Por alguns segundos, o silêncio parecia um terremoto prestes a explodir.
Enzo não respondeu de imediato. Só continuou encarando Gabriel, tenso, estudando cada detalhe. Depois, olhou para Laura. Seus olhos diziam tudo: "Esse cara tá muito perto de você. Perto demais."
Ele então respirou fundo, ajeitou a manga da camisa, e deu um sorriso frio.
— Então seja bem-vindo... — disse, estendendo a mão. — Mas cuidado. Aqui... quem joga errado... morre rápido.
Gabriel apertou a mão dele, firme. Um aperto que não era de boas-vindas. Era uma declaração silenciosa: "Tô dentro. Mas não abaixo a cabeça."
E assim, naquele aperto de mãos, começava um jogo perigoso. Cheio de mentiras, sedução, traições... e desejos proibidos.
O tipo de jogo onde só existem dois finais: vitória absoluta... ou morte.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 28
Comments