O relógio marcava 3h42 da manhã. O bar estava praticamente vazio. Restavam apenas dois bêbados cochilando em cima da mesa e Seu Juca, que contava as poucas notas do caixa, sempre atento aos barulhos da rua.
Laura estava no vestiário, sentada no banco de madeira, tentando entender o que havia acontecido. Passava a mão pelos cabelos, puxando-os para trás, respirando fundo como se isso pudesse acalmar o coração acelerado.
"O que foi isso?", pensava. "Por que eu senti aquilo? Por que eu tremi daquele jeito?"
Ela não era do tipo que se impressionava fácil. Cresceu nas ruas, sabia bem como homens perigosos agiam, falavam e olhavam. Mas Enzo... Enzo não era como os outros. Havia nele uma aura que misturava poder, perigo e... desejo.
O som de uma batida seca na porta interrompeu seus pensamentos.
— Laura — a voz de Seu Juca soou abafada — tem alguém querendo falar contigo lá fora.
Ela franziu a testa.
— Quem? — perguntou, desconfiada.
— Melhor você ver com seus próprios olhos... — respondeu, meio nervoso.
Sem entender muito bem, ela se levantou, ajeitou a blusa, respirou fundo e seguiu até a porta dos fundos do bar.
Quando empurrou a porta, deu de cara com uma cena que parecia ter saído de um filme. Uma BMW preta, com vidros escuros, estava estacionada no beco. Dois homens altos, armados, usando ternos pretos, estavam de braços cruzados, vigiando.
E ali, encostado na lateral do carro, estava ele. Enzo Moretti.
Camisa branca aberta no primeiro botão, mangas dobradas até os cotovelos, relógio brilhando no pulso e aquele olhar. Um olhar que dizia tudo, sem dizer nada.
Ele acendeu um charuto, tragou lentamente e soltou a fumaça para o lado, sem tirar os olhos dela.
— Achei que você não viesse — disse, sorrindo de canto.
Laura cruzou os braços, tentando parecer mais forte do que realmente estava.
— E se eu não tivesse vindo?
Ele deu dois passos à frente. Cada passo dele parecia pesar toneladas no peito dela.
— Eu teria esperado — respondeu, encarando-a. — Porque quando eu quero uma coisa, Laura... eu espero. Mas eu sempre consigo.
Ela respirou fundo, apertando os braços contra o corpo.
— O que você quer comigo, Enzo? — perguntou, direta, firme.
Ele a olhou de cima a baixo, depois desviou o olhar para o céu escuro, como se buscasse as palavras certas.
— Eu quero te tirar daqui — disse, enfim, olhando de volta nos olhos dela. — Quero te oferecer uma vida que você nunca teve. Dinheiro, conforto, segurança... poder.
Ela riu, sarcástica, balançando a cabeça.
— E qual é o preço? — perguntou, cruzando as pernas, desafiadora.
Ele sorriu. Um sorriso perigoso.
— O preço... — deu mais um trago no charuto — ... é a sua lealdade.
Laura arregalou os olhos, surpresa, desconfiada.
— Lealdade? — repetiu. — Lealdade pra quem? Pra você? Pra máfia? — sua voz agora carregava um tom de indignação.
Enzo se aproximou mais, tão perto que ela pôde sentir novamente o perfume dele. Levou a mão até o queixo dela, segurando com firmeza, mas sem violência.
— Pra mim. Só pra mim. — disse, olhando dentro dos olhos dela. — Eu não tô te oferecendo uma vida no crime, Laura. Não do jeito que você tá pensando. Eu cuido dos meus. Protejo quem é meu. E você... — deslizou o polegar pelo queixo dela — ... poderia ser minha.
Ela segurou o pulso dele, firme, e afastou a mão dele do rosto.
— Eu não sou de ninguém — respondeu, encarando-o.
Ele riu, jogou o charuto no chão e pisou, esmagando-o.
— Ainda não. — piscou, abrindo a porta do carro. — Entra.
— O quê? Tá louco? Entra pra onde?
— Eu vou te mostrar uma coisa. Prometo... você volta viva. — sorriu, como se aquilo fosse uma piada.
Laura olhou para os seguranças, depois para a porta aberta do carro. Uma voz dentro dela gritava “não entra, não faz isso”. Mas outra... mais baixa, mais sussurrante, mais sedutora... dizia “vai, Laura... vai descobrir até onde isso pode te levar”.
Ela respirou fundo... e entrou.
O carro deslizou pela cidade, saindo dos becos escuros e seguindo até um condomínio de luxo na Barra da Tijuca. Portões automáticos, seguranças armados, câmeras em cada canto.
Assim que chegaram, Enzo desceu primeiro, abriu a porta para ela e estendeu a mão.
— Vem — disse apenas.
Laura hesitou, mas segurou. A mão dele era quente, forte. E, de certa forma, segura.
Subiram até a cobertura. Assim que a porta se abriu, ela ficou sem palavras.
Era outro mundo. Móveis de grife, tapetes persas, quadros de artistas famosos, uma parede inteira de vidro com vista para o mar, iluminado pela lua cheia.
No centro da sala, uma mesa com taças, vinho caro e duas caixas.
Ele se virou, pegou uma das caixas e entregou para ela.
— Abre — pediu, sorrindo.
Laura abriu. Dentro, um vestido de seda vermelho, justo, decotado, com uma etiqueta que ela reconheceu de longe. Era de uma marca que ela só via nas revistas.
Ele então abriu a outra caixa e mostrou um par de saltos pretos, altíssimos, brilhosos, que pareciam ter saído de um sonho... ou de um filme.
— Isso é pra você — disse, sério. — Se aceitar o que eu tô te oferecendo.
Ela segurou o vestido contra o corpo, olhando para ele, depois para a vista, depois de volta pra ele.
— E o que exatamente você tá me oferecendo, Enzo? — perguntou, com um misto de medo, desejo e curiosidade.
Ele deu dois passos, segurou o queixo dela mais uma vez, e disse, em tom baixo, firme, com os olhos queimando nos dela:
— Eu tô te oferecendo uma vida onde ninguém nunca mais vai te humilhar. Onde ninguém nunca mais vai te tocar sem tua permissão. Onde você vai ser tratada como merece. E... — deslizou a mão até a nuca dela — ... onde você vai ser minha. Com tudo que isso significa.
O silêncio que se seguiu era tão pesado que dava pra ouvir o som do próprio coração.
Ela poderia dizer não. Poderia sair dali e nunca mais olhar pra trás.
Mas algo, bem lá no fundo... dizia que, a partir daquela noite, sua vida jamais seria a mesma.
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Atualizado até capítulo 28
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