Capítulo 3 – A Frieza da Resolução
Na mente de Dante
O mundo é simples, na sua essência mais crua. Ou você caça, ou é caçado. Ou você impõe sua vontade, ou se curva à dos outros. E eu... eu escolhi ser o predador. Ser aquele que garante a ordem, nem que para isso, o fio da vida precise ser cortado. Há uma satisfação fria, quase visceral, em ser o agente dessa resolução final. Em observar o medo nos olhos daqueles que transgrediram, sabendo que sua hora chegou. É a balança do universo, e eu sou aquele que a mantém equilibrada, um espectro nas sombras, o Fantasma que eles temem.
Para operar nesse mundo, as sombras precisam de uma fachada, uma máscara palatável para a luz. Foi assim que nasceu a "Shadow Watch". Uma empresa de segurança privada, bem-sucedida aos olhos do mundo, que oferecia proteção e discrição. Mas por trás da promessa de segurança, a Shadow Watch era a teia do Fantasma, os fios invisíveis que controlavam o submundo. E os clientes da Shadow Watch não eram figuras quaisquer. Políticos influentes, celebridades com segredos obscuros, magnatas com impérios construídos sobre areia movediça... todos buscavam a discrição e a eficácia que só a minha organização podia oferecer. Essa rede de poder me dava influência, mas também me ensinou uma lição crucial: a vulnerabilidade era um luxo que eu não podia permitir. Família, amor... eram correntes que me aprisionariam nas mãos de outros. O amor, aliás, era uma palavra que me causava náuseas, uma fraqueza sentimental que eu desprezava. O prazer, esse sim, era algo tangível. Encontrava-o no calor efêmero de corpos desconhecidos, em noites onde o álcool anestesiava a frieza constante que me habitava. Sexo e uísque. Nada mais. Sem laços, sem expectativas, apenas a breve suspensão do vazio.
Meu escritório no topo da Shadow Watch era a extensão da minha mente: funcional, impessoal, implacável. Paredes de um cinza antracite que engolia a luz, uma mesa de aço inoxidável polido sem adornos, apenas o essencial. As amplas janelas emolduravam a cidade como um tabuleiro de xadrez, onde eu movia as peças nas sombras. O silêncio era quase absoluto, quebrado apenas pelo zumbido eletrônico discreto dos meus equipamentos de vigilância. Um lugar onde a ordem prevalecia, assim como em minha vida.
Sentado à minha frente, um verme. Tentou morder a mão que o alimentava. A ganância sempre os entrega. Observo o suor escorrer, o terror mudo. Patético.
— Você desafiou as sombras, e isso tem um preço — minha voz, a lâmina. — A agência não tolera traição. E você, tolo, sabia da reputação... do Fantasma. Achou que poderia se esconder? Você conhece o Fantasma?
O homem balbuciou algo ininteligível, o medo o paralisando.
Peguei a pistola preta e silenciosa que estava discretamente escondida sob a borda da mesa de aço. O som metálico suave ao destravá-la cortou o silêncio como uma agulha, um prenúncio inegável do fim. O homem arregalou os olhos ainda mais, o terror se solidificando em sua face pálida. Eu podia sentir o cheiro acre do seu medo, quase tão palpável quanto o suor que lhe umedecia a testa.
Inclinei-me ainda mais, a frieza em meu olhar cortando qualquer esperança. — Pois bem. Eu sou o Fantasma. E este... — apontei a arma brevemente — é um dos meus instrumentos. Sabe, no meu mundo, a morte é uma certeza para quem cruza a linha. A única variável é o tempo e a forma. Você tem uma escolha, por irônico que pareça. Prefere definhar lentamente, enquanto eu decido quando me canso da sua existência, ou ter um fim... digamos, mais direto, pelas minhas mãos agora? Pense bem. Seu tempo está correndo.
O homem engoliu em seco, o desespero evidente em cada linha do seu rosto. — Não... por favor... eu pago o que quiser! O dobro do que você perdeu! Eu tenho informações... sobre outros que te prejudicaram... posso te dar nomes, datas...
Um leve sorriso frio, desprovido de qualquer calor ou humor, crispou os lábios de Dante. Era o sorriso de um predador que já decidiu sua refeição. — Suas informações só teriam valor antes de você se tornar um problema. Agora são apenas ruído. E seu dinheiro... — ele fez uma pausa, o olhar intenso – ...não compra sua saída. Seu valor expirou no momento em que você tentou desafiar a Shadow Watch.
Sem hesitar, sem a menor hesitação que fosse, apontei a boca fria do cano diretamente para o centro da sua testa. Seus lábios se moveram, tentando formar palavras que não conseguiam romper a barreira do pavor. Houve um breve instante, uma fração de segundo suspensa no tempo, onde apenas nossos olhares se encontraram – o dele, desesperado e implorando; o meu, frio e resoluto.
Então, pressionei o gatilho.
Um estampido seco e abafado ecoou na sala, um som contido, quase elegante em sua letalidade silenciosa. Não houve gritos, apenas o impacto surdo da bala encontrando seu alvo. A cabeça do homem estremeceu violentamente, e seus olhos se arregalaram em uma última expressão de choque antes de se esvaziarem. Seu corpo relaxou instantaneamente, tombando para o lado, a cabeça agora apoiada de forma grotesca sobre a mesa de aço. Uma fina linha vermelha brotou no ponto de impacto, crescendo rapidamente, manchando a superfície fria e polida com um rastro escuro e quente – a única imperfeição naquela ordem meticulosa. O cheiro metálico do sangue começou a se misturar ao ar.
Dante abaixou a arma, o olhar frio e inexpressivo como se tivesse acabado de concluir uma transação comercial trivial. Nenhum traço de emoção, apenas a confirmação de que a falha havia sido corrigida. Ele fez um sinal imperceptível para seus homens com a cabeça.
— Limpem isso. Rápido. E façam com que ele desapareça completamente. Ninguém o viu entrar. Ninguém saberá que ele esteve aqui. Certifiquem-se de que ele se torne apenas mais uma lenda sombria... mais uma história sussurrada sobre o Fantasma.
Horas depois, sob a discrição crescente da noite que cobria a cidade, deixei meu escritório impecável. A "resolução" daquela manhã estava completa, mais um nó desfeito na teia do submundo. Meu destino agora era outro centro de poder, o escritório de Edmundo.
Enquanto meu carro blindado deslizava pelas ruas iluminadas, a imagem do nosso primeiro encontro surgiu na minha mente. Edmundo... um homem faminto por poder, querendo dançar nas sombras sem conhecer os passos. Ganancioso e imprudente. Vi ali um cliente. Mas ao longo dos anos, observei sua ascensão e seus erros. Aquele contrato com os Gutierres... uma armadilha previsível para amadores como Edmundo. Entregar as rédeas àqueles predadores do alto escalão o transformou em nada mais que uma marionete. As regras deles eram implacáveis, sufocando o seu próprio negócio com exigências absurdas e, para piorar, manchando a sua reputação com aquela lavagem de dinheiro descarada. Patético, burrice pura.
Ao chegar ao imponente edifício de Edmundo, a formalidade apressada da recepção denunciava sua ansiedade. Fui conduzido diretamente ao seu escritório.
Edmundo estava atrás de sua vasta mesa de ébano, um símbolo de sua ambição. Estava tenso, impaciente.
— Dante. — Sua voz carregava uma urgência mal disfarçada. — E então?
Assenti levemente. Mais um problema resolvido. Mais um cliente mantido sob a minha proteção.
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Atualizado até capítulo 60
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