Flashback 01

...✦ Olívia ✦...

...11 anos atrás...

— Sofi, eu preciso respirar um pouco… — Tento avisar em vão para a aniversariante que me arrastou para o meio da pista de dança da boate lotada, mesmo sob meus protestos.

Eu nem deveria estar aqui, afinal só tenho 17, mas ela mexeu uns pauzinhos e conseguiu lotar o lugar de menores de idade.

A festa estava mais movimentada do que eu esperava, mas eu não podia esperar outra coisa da pessoa que mais gostava de chamar atenção na face da terra.

Eu amo a Sofi, mas as vezes ela ultrapassa os limites, como agora, que está se esfregando em dois caras bem mais velhos.

Tudo bem, ela já tem 18, mas acabou de completar, é quase pedofilia.

Sendo completamente ignorada por ela, eu me afasto de toda a agitação dos corpos suados em movimento com os hormônios à flor da pele, tentando me refugiar em um lugar menos agitado, perto da varanda onde o som da música não era tão dominante.

Mal deu dois segundos e ele apareceu. O garoto que insistiu em me abordar durante toda a noite.

Eu o conhecia de vista, sabia que ele estava na faculdade, mas nunca havíamos conversado muito.

Ele parecia decidido a me conquistar, o que, naquele momento, eu não estava nem um pouco a fim.

— O que uma gatinha faz aqui sozinha numa festa dessa? — ele pergunta, seu tom de voz meio embolado pela bebida que ingeriu.

Ele até estava tentando soar amigável, mas o seu olhar sempre desviando para minhas pernas expostas pela minissaia dizia que ele não queria só amizade.

Eu me afasto alguns passos, tentando manter distância. 

— Estou bem sozinha. Obrigada.

Ele não pareceu entender o sinal claro de que não estava interessada e avançou mais um passo, aproximando-se mais de mim. 

— Vai ficar aqui sozinha? Vem, a festa está ótima. Eu posso te mostrar os melhores lugares.

Eu já estava começando a me sentir desconfortável. Ele estava tão próximo que eu podia sentir o cheiro do seu perfume misturado ao álcool.

A minha vontade de me afastar era clara, mas ele parecia não perceber o quanto sua insistência estava me incomodando.

— Sério, estou bem sozinha. — tentei novamente, com um tom mais firme.

— Vamos gatinha, me deixa te pagar uma bebida — ele fala agarrando minha cintura e me puxando para mais perto.

— Não estou a fim! Me solta! — exclamo aborrecida por ele ter me pego dessa forma, e com um pouco de medo da situação.

— Vamos lá, eu tenho tanta coisa para mostrar a essa boca gostosa.

Agora estou realmente assustada, ele tenta me beijar a força enquanto eu esperneio e tento me afastar de seu aperto.

— Ela já disse que não está interessada. — Ouço uma voz baixa, mas firme.

Uma voz que conheço desde sempre e consegue me acalmar na hora, com a certeza de que agora tudo vai ficar bem.

Apolo, de alguma forma, tirou o aperto do rapaz insistente de mim, seu olhar cortante, quase como uma lâmina afiada.

— Acho que ela já deixou claro que não está interessada. Então, se não se importa, pode dar o fora.

O outro tentou manter a postura, mas a autoridade na voz de Apolo parecia intimidá-lo. 

— Olha, só estava tentando ser amigável. Não precisava ser grosso.

— Amigável é respeitar o espaço das pessoas, — Apolo responde, seu tom de voz não deixando margem para discussões. — Ela te deu sinais claros. E não estou pedindo, estou mandando. Vá embora.

Eu observo a troca, meu coração acelerado pela tensão.

A forma como Apolo estava me defendendo, agitava algo dentro de mim.

Dos três irmãos, Apolo sempre foi o mais reservado, e por mais intima que eu fosse de seus irmãos mais novos, nunca tivemos muito contato, mas o pouco que tivemos sempre foi com ele cuidando de mim, da mesma forma que cuida da família.

O pensamento me entristece na mesma medida que conforta. Não esperava encontrá-lo aqui, afinal ele já está na faculdade faz 3 anos, mas é claro que a aniversariante sendo quem é, não deixaria de convidar O Apolo Rezende.

O outro cara, claramente incomodado e sem querer causar problemas para o lado de alguém com o dobro do seu tamanho, acabou dando meia-volta e saindo da varanda. 

Eu respirei aliviada, sentindo o peso da situação desaparecer.

Apolo permaneceu ao meu lado, a expressão no rosto ainda séria, mas com um toque de preocupação.

— Obrigada, Apolo. — minha voz sai quase em um sussurro, ainda tentando processar o que acabara de acontecer. — Não sei o que teria feito se você não tivesse chegado.

Ele me olha com um sorriso leve, mas com um brilho protetor em seus olhos. — Não precisa agradecer. Eu só quero que você fique bem. Se alguém estiver te incomodando, pode contar comigo, sempre.

Eu me senti envolvida por uma onda de gratidão e admiração.

A forma como Apolo me defendia, sem hesitação, sem precisar de explicações, era algo que eu não sabia como descrever.

A sensação de estar protegida por alguém que se importava tanto comigo era reconfortante.

A festa parecia um distante e abafado murmúrio enquanto eu tentava me recompor após o episódio de momentos atrás. 

— Você quer sair daqui? — Apolo pergunta 

— Por favor.

Ele sorri de canto e segura minha mão, me encaminhando para fora da festa.

É impossível não sentir borboletas no estômago com o contato.

O ar fresco da noite era um alívio bem-vindo, e a tranquilidade das ruas tarde da noite oferecia um contraste reconfortante ao tumulto da festa.

Ele caminhou comigo até um banco de madeira à sombra de um grande ipê amarelo, e nos sentamos ali, lado a lado, sem precisar de palavras.

Não consegui não olhar para ele, e fui pega admirando os contornos de seu rosto iluminado pela luz suave da lua.

Ele parecia mais relaxado agora, mas eu ainda podia ver certa raiva e preocupação em seus olhos. 

— Se continuar me olhando assim, não vai acabar bem estrelinha. — ele diz com a voz levemente rouca, me encarando também.

Acho que o álcool das bebidas que consumi estão fazendo seu trabalho, pois em vez de desviar o olhar e ficar vermelha como normalmente acontece, dessa vez rebato seu comentário sem medo.

— Não vai acabar bem para quem? Para mim ou você? — pergunto elevando o rosto.

Percebendo a sombra no seu olhar, e meus olhos fixam na língua que ele usa para umedecer os lábios e não conseguem sair dali.

— Estrelinha, o que aquele cara ia fazer com você, não é brincadeira, e agora eu…

— Quer me beijar também? — parece que eu tomei umas doses de coragem mesmo.

Ele se surpreende, mas logo se recupera.

— Você está bêbada. — fala como se colocasse um ponto final da conversa.

— Estou, mas não o suficiente para não saber o que quero, se não, não teria lutado contra aquele idiota.

Cada vez mais, acho que deveria tomar umas doses de tequilas diárias.

Apolo não fala nada, só consegue me fitar, como se não me enxergasse.

Estou cansada disso, é óbvio que eu sempre tive uma queda por ele.

Moreno, alto, musculoso, carinhoso e me protege de imbecis, quem não teria uma paixonite por Apolo? Mas daí a ser rejeitada na cara dura já era demais para sofrer na seca.

— Tudo bem, se não quer, então eu acho quem queira. — falo já me levantando do banco, a humilhação me impelindo a sair o mais rápido dali.

Ele segura meu punho com firmeza ao mesmo tempo que me puxa para ficar de frente para ele.

— Você não vai a lugar nenhum.

Então ele me beija.

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