Aquele que me fez segurar firme

...✦ Olívia ✦...

Não precisei esperar muito e meu príncipe no cavalo branco chegou. Na verdade, de príncipe só se fosse do inferno, e em vez de um cavalo branco, era uma besta enjaulada sobre duas rodas. Mal consegui acreditar quando o irmão mais velho de Bernardo parou a moto, tirou o capacete e olhou bem nos meus olhos.

— Oi, estrelinha.

Ele não deveria estar aqui, eu não esperava e nem queria que ele estivesse aqui.

Eu não estava preparada para isso, mas sempre tive a habilidade de me recompor rápido, e dessa vez eu precisaria de todo meu potencial.

— Apolo — cumprimento apertando os lábios — O que faz aqui?

Ele me olha com um sorriso que mistura desdém e diversão, como se minha surpresa fosse a coisa mais engraçada do mundo.

— Aparentemente eu sou sua carona, estrelinha. Meu irmão não te contou?

Torço as mãos em volta da alça da minha bolsa, tensa.

O passado que compartilho com Apolo é um território delicado, que prefiro manter em uma distância segura. O afastamento entre nós não é apenas uma questão de escolha; é uma necessidade que eu não consigo explicar nem a mim mesma, quanto mais a ele.

— Não teve a oportunidade — respondo seca, o peso de reecontrar ele passa como uma sombra em meu rosto.

Eu ia matar o Bernardo.

— Bom, agora que sabe, vamos indo. Adoraria ficar jogando conversa fora, mas eu tenho muito o que fazer ainda hoje.

Ele me estende um capacete. Não há como evitar a realidade de que, apesar de todos os esforços para manter a distância, estar perto dele ainda provoca um tumulto dentro de mim.

— De jeito nenhum! Eu não subo nessa coisa.

Ele arqueia as sobrancelhas, um gesto que parece tão familiar quanto o som da sua voz.

— Tudo bem então, estrelinha, a gente se vê por aí.

Ele coloca o próprio capacete e, ao apoiar o pé no pedal, eu gemo frustrada.

Não é possível que ele vai me deixar aqui sozinha mesmo. Cada movimento dele parece carregar um peso, uma história não contada que me faz sentir um misto de raiva e nostalgia.

— Espere… — peço frustrada mordendo o lábio, tenho certeza que minha cabeça está soltando fumaça nesse exato momento — Primeiro, não me chame de estrelinha.

— Ainda esquentadinha? — Ele me interrompe, um sorriso que não consegue esconder a curiosidade de ver como eu reajo.

— Segundo — o ignoro e continuo — você vai bem devagar nessa coisa se não eu te empurro daí de cima.

— Não mudou nada mesmo — Ele ri, e posso sentir a tensão em seus músculos, uma lembrança viva dos momentos que compartilhamos. Ele apoia os dois pés no chão novamente, enquanto me aproximo ficando bem ao seu lado.

— E terceiro — inspiro fundo — não me deixe cair.

Minha voz sai entrecortada, numa exalação só.

Nunca subi em uma moto antes, e a ideia de estar tão perto dele, tão vulnerável, só aumenta o desconforto. As imagens constantes de acidentes na internet e as memórias de nosso passado me assombram, mas eu não tenho escolha.

O diabo na minha frente é minha melhor opção hoje, e eu estou, como sempre, escolhendo a melhor opção.

Apolo me entrega o capacete sobressalente que trouxe consigo.

Quando me enrolo ao atacar o fecho embaixo do queixo, ele me ajuda, seus dedos roçando levemente meu pescoço. Sinto um estremecimento e me afasto rapidamente, lembrando-me de manter a distância entre nós inabalável.

Tento calcular a melhor forma de montar na garupa com o vestido que uso. Faço algumas tentativas, me apoiando nos ombros largos dele, e consigo sentir os músculos por baixo de sua camisa.

Ele enrijece ao meu toque. Pelo visto ele não parou de se exercitar desde que fui embora. Afasto o pensamento, não estou interessada em saber nada da vida desse homem.

— Sabe, você deveria só… subir — Ele diz, claramente se divertindo com meu constrangimento

— Estou tentando, mas tente fazer isso de saia… — reclamo

— Claro, as roupas chiques desconfortáveis são bem apropriadas para um dia de viagem — ele fala com sarcasmo na voz.

Reviro os olhos, um gesto que expressa bem o quanto me incomoda sua arrogância.

— Continue acreditando apenas no que vê — bufo em resposta me sentando na garupa de uma vez, cada perna apoiada em um lado de seu corpo.

Sinto o ar frio invadir minha região quase exposta pela abertura da fenda ao sentar com as pernas abertas e imediatamente me aproximo mais de seu corpo a fim de evitar que outras pessoas vejam o que não devem.

— Melhor segurar firme — Apolo diz com uma voz estranhamente rouca.

E quando ele arranca com a moto, é exatamente isso que faço, abraçando sua cintura com força, tensa.

O passado entre nós pesa como um fantasma, e, enquanto a moto avança, sei que essa distância é a única coisa que me protege das emoções tumultuadas que ele ainda pode provocar.

Cada curva e aceleração parece trazer de volta uma onda de lembranças que tento manter enterrada. O aroma do couro do assento misturado ao cheiro característico de Apolo me faz lembrar de noites antigas e conversas não ditas.

A moto se move suavemente, e eu tenho que me agarrar com mais força, tentando ignorar o quanto suas reações e a proximidade ainda mexem comigo.

À medida que o vento gélido passa por nós, sinto um misto de gratidão e frustração. Gratidão porque, apesar de tudo, ele está aqui para me ajudar; frustração porque sua presença só aumenta o peso das memórias que tento esquecer.

Uma parte de mim se pergunta o que teria acontecido com a gente se tudo tivesse sido diferente.

A verdade é que a Olívia do passado ainda carrega uma pequena esperança de que, algum dia, possamos enfrentar o passado e encontrar uma forma de seguir em frente.

Por enquanto, essa pergunta permanece sem resposta, e, com cada quilômetro que percorremos, as dúvidas sobre o passado se misturam com a necessidade de enfrentar o presente.

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Comments

Cicera Santos

Cicera Santos

ela viajou para o Brasil e deixou o filho em Boston??

2025-06-12

0

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