Aquele que tirei férias forçadas

...✦ Olívia ✦...

Já fazem três horas que estou no avião. Acho que já está na hora de ouvir o conselho de Emília e contar com a ajuda de mais um amigo. Pego meu celular e procuro seu número na agenda, mandando uma mensagem imediatamente.

^^^Liv💬^^^

^^^Oi sumido^^^

💬Bernardo

Oi Liv, como você tá?

^^^Liv💬^^^

^^^Faz um tempinho né^^^

💬Bernardo

Tempinho? Só se o tempo passar mais devagar em Boston 😣😣💔

Sinto muito por tudo o que você está passando.

^^^Liv💬^^^

^^^Obrigada, Bê. Tem sido difícil, mas... estou voltando.^^^

💬Bernardo

Para casa?

^^^Liv💬^^^

^^^Para o Brasil^^^

💬Bernardo

Tá precisando de carona?

Vou te buscar no aeroporto.

^^^Liv💬^^^

^^^Não queria te atrapalhar^^^

^^^mas vou precisar de ajuda mesmo 🙃^^^

💬Bernardo

Você nunca atrapalha.

Me avisa assim que chegar! 😁🤩

^^^Liv💬^^^

^^^Obrigada, Bê. De verdade 🤍^^^

💬Bernardo

Sempre que precisar 🤍

Bloqueio o celular enquanto apoio a cabeça no encosto do assento apertado, estou espremida entre um cara tentando imitar um trator de tanto que ronca e uma adolescente que masca chiclete como se sua saúde bucal dependesse disso. Sinto falta da primeira classe.

Apesar da viagem incômoda de vinte e cinco horas de Boston até o interior de minas gerais no Brasil, suspiro aliviada por ainda poder contar com um amigo aqui. Apesar de termos nos falado pouco durante os dez anos que passei longe, sempre que possível, mantivemos contato. Não sei como vai ser esse reencontro e, se eu parar para analisar, meu estômago está revirando só por saber que vou vê-lo em menos de duas horas.

Antes de sair de Boston, tentei ligar para meu pai. Precisava de alguém que me recebesse, que me ajudasse a atravessar essa volta tão difícil e cansativa. Mas a ligação não foi como eu esperava. Quando ele atendeu, senti uma frieza na voz que me deixou desconfortável.

— Ah, Olívia, você está a caminho? — ele perguntou, como se não fosse nada de mais.

— Sim, pai. Achei que... poderíamos conversar, eu... — minha voz vacilou, esperando algum sinal de acolhimento.

— Olha, estou meio enrolado por aqui, sabe como é, muitas coisas para resolver. Mas tenho certeza de que você vai se virar bem. Afinal, você sempre foi tão independente, não é? — ele respondeu, com uma superficialidade que me fez estremecer, mas eu apenas assenti.

— Claro, pai, eu entendo. Nos vemos por aí então. — Terminei a ligação, tentando ignorar o nó na garganta. 

Talvez fosse melhor assim. Ele estava certo, eu sempre fui capaz de lidar com as coisas sozinha.

Tento afastar a ansiedade colocando meus fones de ouvido e iniciando mais um episódio de Gilmore Girls no celular, minha série conforto preferida, para tentar enxergar todo o charme e vida de uma cidade pequena enquanto eu cruzo o oceano.

...✦...

Então é isso, quando você acha mesmo que não tem como piorar, sua mala despachada decide tirar umas férias de você. Aqui estou eu, com 2% de bateria, uma bolsa de mão, meus sapatos chanel que custaram meu último aluguel e a perplexidade no rosto pelo descaso do sistema de aeroportos do Brasil.

— Mas você tem certeza que ela chegará no próximo voo? — pergunto pela milésima vez para o funcionário detrás do balcão no pequeno aeroporto local que fica a uma do meu destino final.

— Claro moça, tivemos um acréscimo imprevisto na área de carga, e sua mala, assim como outras, foram adiadas para o próximo voo. — responde, já cansado.

— E quando é o próximo voo? Talvez possa esperar aqui mesmo — digo, já pensando em não precisar pagar um táxi até ali.

— Ha! Então você terá uma semana bem desconfortável moça — ele fala achando graça.

Claro, os voos para esse fim de mundo só acontecem uma vez na semana.

— Tudo bem, então. — suspiro cansada — Preciso pegar algum ticket ou documento para poder pegar minha mala daqui uma semana?

Ele me olha como se eu tivesse criado um terceiro olho bem no meio da testa.

— Não é necessário moça.

E se afasta me deixando ali perplexa. Não sei como vou me acostumar com toda essa desorganização, a vida precisa de ordem, regras e leis para funcionar. Exausta de toda essa situação, pego meu celular, agora com 1% de bateria e ligo para Bernardo, tenho certeza que a bateria não vai aguentar esperar uma resposta por mensagem dele, felizmente depois de chamar algumas vezes, ele atende, e escuto muito barulho do outro lado da linha.

— Oi, sou eu, cheguei faz um tempinho — digo um pouco sem jeito, aparentemente ele está em algum tipo de bar, consigo ouvir a música ao fundo por trás da algazarra de vozes.

— Ah, claro, eu acabei tendo que resolver uma coisa urgente, mas não se preocupe, já pedi para alguém te buscar — ele grita do outro lado da linha

— Tudo bem, quem devo esperar?

Silêncio.

Afasto o celular do rosto e olho para a tela, totalmente preta. Maravilha. Enfio o celular de volta à minha bolsa e decido esperar próximo à porta de entrada. A ansiedade começa a crescer. Pergunto a mim mesma se alguém realmente virá me buscar ou se estou prestes a enfrentar mais um desafio sozinha.

Afinal, com a situação com meu pai ainda fresca na mente, o apoio de um amigo parece a única constante que me resta.

Sinto uma pontada de tristeza ao perceber que, por mais que eu tente manter a calma e parecer forte, a realidade de que estou sozinha em um lugar que, se tornou tão distante e estranho para mim, está se tornando esmagadora.

Olho ao redor, vendo apenas os poucos funcionários que ainda estão no aeroporto, já cansados e esperando ansiosamente pelo fim do expediente. Cada minuto parece uma eternidade enquanto espero, e a frustração e desamparo só aumentam.

Me agarro à esperança de que, apesar de tudo, a ajuda que Bernardo prometeu realmente se concretize, pois afinal de ser filha do prefeito da cidade, ninguém aqui parece lembrar de mim, e eu sinceramente agradeço por isso.

A única coisa que me conforta é a certeza de que logo estarei ao lado de alguém que se importa, e que talvez, só talvez, as coisas possam melhorar a partir daqui.

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