Aquele que salvou o dia

...✦ Apolo ✦...

A estrada à minha frente estava escura e deserta, apenas os faróis da Harley cortavam o breu da noite.

Eu me forçava a focar na condução, a manter a mente nas curvas da estrada e no caminho que ainda faltava para chegar em casa.

Mas era difícil ignorar a presença de Olívia tão perto de mim.

Cada vez que o corpo dela se pressionava contra minhas costas durante o trajeto, eu sentia uma onda de sensações indesejadas me dominar.

Droga, Bernardo! Se ele tivesse me avisado que eu precisaria buscar a melhor amiga dele, eu teria vindo de carro, e não estaria aqui, lutando para manter o controle sobre cada parte do meu corpo.

O vento frio da noite não ajudava em nada a esfriar o calor que subia pela minha espinha sempre que eu sentia Olívia se mover ligeiramente atrás de mim.

Mesmo com o capacete cobrindo seus cabelos, eu sabia que ela estava lá, que sua presença era real e inegável.

Ela estava mais linda do que eu me lembrava. Como é possível? Era a mesma Olívia, mas algo nela parecia diferente, mais maduro, mais… atraente. Eu estava ferrado.

Essa mulher vai acabar comigo.

— Estamos quase chegando — gritei por sobre o ombro, esperando que o som do motor e do vento não abafassem minha voz.

Olhei pelo retrovisor e percebi que ela estava de olhos fechados durante quase todo o trajeto. Não pude evitar um sorriso.

Ela sempre foi medrosa com coisas assim, eu não a culpava.

Andar de moto não é para todos, e apesar de minha Harley ser espaçosa e robusta, deve parecer bem insegura para quem não está acostumado.

Finalmente, as luzes da minha casa surgem ao longe, um sinal de que estávamos perto de acabar com essa tentação de mulher agarrada a mim.

Por hábito, acabei pegando o acesso privado que se estendia até a lateral da propriedade.

— Chegamos.

Paro a moto, apoiando meus dois pés no chão para dar mais estabilidade enquanto ela descia. Mas Olívia não se moveu, continuava agarrada à minha cintura como se estivesse presa em um transe.

— Olívia? — Chamei, preocupado.

Pareceu funcionar. Ela lentamente afrouxou o aperto na minha cintura e começou a se levantar. Mas, antes que pudesse descer completamente, ouvi um som agudo.

REEEC!

Imediatamente olhei para trás, preocupado que algo tivesse acontecido. A visão que me aguardava me fez congelar.

A saia do vestido de Olívia estava presa nos pinos do bagageiro, e quase metade do tecido havia sido rasgado. A outra metade, mal cobria o necessário, deixando suas pernas longas e torneadas à mostra de uma forma que eu sabia que não conseguiria esquecer nunca mais.

— Ai meu Deus! — Ela exclamou, os olhos arregalados em choque enquanto tentava cobrir-se com as mãos, se encolhendo em uma tentativa de se proteger do que parecia ser o pesadelo de qualquer mulher.

Eu sabia que não deveria, mas minha mente não pôde evitar registrar a lingerie de renda preta que agora estava visível. Isso só podia ser uma piada de mau gosto do destino. Quem diabos usa algo assim para pegar um avião?

Desci da moto com rapidez, jogando os capacetes de qualquer jeito no chão. Sem pensar duas vezes, retirei minha jaqueta e a enrolei em Olívia, ajudando a manter a peça no lugar enquanto nos direcionava para a entrada. 

Tudo o que passava pela minha cabeça era não deixar que meus seguranças vissem aquela maldita calcinha.

Quando chegamos à dispensa, que era o cômodo privado mais próximo de onde entramos, finalmente a deixei lidar sozinha com a jaqueta, tomando cuidado para não olhar diretamente para ela. Estava usando todo o meu autocontrole para manter o foco, mas a situação não estava ajudando em nada.

— Onde está sua mala, Olívia? — Minha voz saiu mais fria do que eu pretendia, mas era o único jeito de segurar a frustração crescente.

Ela choramingou, parecendo mais envergonhada do que nunca.

— Não foi despachada. Chega em uma semana — respondeu, a voz fraca, enquanto um rubor tomava conta de seu rosto.

Passei a mão pelos cabelos, precisando focar em algo que não fosse o que estava bem à minha frente.

— Isso só pode ser um castigo — murmurei, virando de costas para ela.

Eu precisava me distanciar daquela visão, das pernas dela expostas, daquele pedaço pequeno de renda. Se eu continuasse olhando, não poderia garantir o que faria a seguir.

— Ei! A culpa não foi minha. Acha mesmo que eu queria isso? — ela rebateu, agora irritada, o que foi um alívio. Pelo menos o choque estava passando.

— Claro que não. — respondi, ainda frustrado.

— Bem, então me ajude! — Olívia exclamou, exasperada.

Eu estava tentando. Deus sabe que estava tentando, mas cada segundo que passava ao lado dela tornava isso mais difícil.

— Seu pai está te esperando?— perguntei.

— Provavelmente, mas…

Ela não precisou terminar a frase. Eu sabia exatamente o porquê de sua hesitação. 

Não queria nem imaginar o que o Dr. Santos faria se visse a filha nessa situação.

— Vamos entrar e resolver isso.

...✦...

Levo-a direto para o meu quarto, sem pensar duas vezes. Precisava encontrar algo para que ela pudesse se cobrir, algo que fosse grande o suficiente para fazer desaparecer aquela visão tentadora.

Fui até o closet no canto do quarto, pegando uma das minhas blusas do time de futebol. Era a peça mais comprida que eu tinha e, no corpo pequeno dela, pareceria um vestido. Entreguei a blusa para Olívia, que torceu o nariz ao pegá-la.

— Não vou usar essa camisa fedida — disse ela, pegando a peça com as pontas dos dedos, como se fosse algo repulsivo.

— É pegar ou sair andando seminua por aí.

Eu dei de ombros, tentando esconder o sorriso que ameaçava escapar. A verdade é que eu cuidava muito bem das minhas roupas, e a blusa estava longe de ser fedida. Ela deu uma fungada perto do tecido e, ao perceber isso, vi a surpresa em seu rosto.

— Bom, saia para eu me trocar então — pediu, e eu obedeci.

Aqueles minutos em que fiquei do outro lado da parede foram uma tortura. Sabia que ela estava ali, a poucos passos de mim, se despindo para vestir a minha camisa. Minha imaginação viajou para lugares perigosos, e tive que respirar fundo várias vezes para manter o controle.

Quando finalmente ela disse que estava pronta, meu coração errou uma batida ao me virar para encará-la.

Olívia, vestindo a minha camisa, parecia uma visão saída diretamente dos meus sonhos mais secretos. A peça larga cobria suas curvas, mas de uma forma que só destacava ainda mais sua figura. 

E lá estava o meu nome, bordado nas costas da camisa, como um lembrete doloroso de que aquela era a mulher que destruiu meu coração.

Porra.

— Vamos, o Bernardo já deve estar chegando — murmurei, forçando-me a sair daquele quarto, que agora parecia claustrofóbico. Precisava me afastar, antes que fizesse algo que pudesse me arrepender, mais uma vez, para o resto da vida.

Baixar agora

Gostou dessa história? Baixe o APP para manter seu histórico de leitura
Baixar agora

Benefícios

Novos usuários que baixam o APP podem ler 10 capítulos gratuitamente

Receber
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!