A coisa que Thomas menos gostava na vida era sentir que não tinha o controle de alguma coisa. Claro que não temia o escuro. Mas porra! Depois de ter visto aquela coisa com Gwen... quem não teria medo?
Mas ela acendeu a lanterna do celular. Rodos, vassouras e as sombras dos objetos e deles dois. Isso o tranquilizou aos poucos.
Thomas notou certo cinismo no olhar semicerrado dela, como se dissesse a alguém: “Sério que tentou assustar a gente com isso”, e ela simplesmente riu um pouco e, de repente, Thomas também relaxou de vez do estado de alerta. Como se não fosse assustador e aquilo não fosse nada. Mas era o tipo de história que, se contasse, ninguém acreditaria.
— Engraçado é que, quando o invoquei a primeira vez, ele me escorraçou como uma mendiga e quase me deixou cega — contou, suave, como se não fosse nada.
Thomas não era cristão devoto; mesmo assim, era sinistro pra um caramba.
Ela revelou, dando de ombros:
— Mas parece ter gostado de você de primeira. Isso me deixa com muita inveja, sabia? Além de ser o capitão do time de basquete, tem que roubar a única coisa que sou boa?
— Isso é ele ter gostado de mim? — exclamou, mais indignado do que são. Gwen gargalhou. — Porra! Minha cabeça ainda dói, e ele queimou a lâmpada...
— Só está te testando, seu bobo. Daemons fazem isso para testar como o humano lida com o caos deles. Se corremos feito as formiguinhas operarias que o mundo espera que sejamos ou se enfrentamos e peitamos de frente e sem medo o desconhecido e nos jogamos do abismo, igual a carta do louco do tarô, o salto de fé. — Explicou Gwen, apaziguadora, e afagou o ombro dele.
Thomas sentiu algo no estômago e na virilha, vergonhoso, por um leve toque dela nele. Ainda estava alucinado com a ideia de transarem. A lembrança de como ela gostava de dor.
— Você tem alguém na sua família que mexe com bruxaria... Se não tiver, vou me sentir muito puta com você mesmo... — Observou Gwen como quem não quer nada.
Como ela podia conversar assim no escuro com ele depois de terem visto uma sombra com chifres?
Por que ela estava tão calma? Melhor ainda: por qual razão fodida ele não estava correndo e lutando para sair de lá? A presença dela era intimidante, mas estranhamente o acalmava. Como devia ser para o time dele quando o capitão entrava em quadra, mesmo quando o placar não estava a favor.
— A sua cabeça ainda está doendo muito, lindo? — sondou ela e se aproximou com a lanterna do celular da cabeça dele, avaliando o ferimento.
Ele sentiu um calor no coração pelo cuidado inesperado e atenção. Era bajulado sim o tempo inteiro por estar no time, mas isso era tão diferente. Era não pelo que ele era para a escola, mas mera preocupação genuína. Ela também impediu o professor de tirá-lo da festa, mesmo tendo derrubado as coisas dela. Ela era gentil.
— Tá saindo um pouco de sangue. — Avaliou, preocupada.— Você quer passar na enfermaria...
— Não. — Respondeu um pouco mais emotivo do que gostaria, com os olhos azuis nos escuros profanos dela. — Não tem medo dele? Quem é ele? Ele é sempre assim com as pessoas que se aproximam de você com segundas intenções? — disparou as perguntas.
— Incrivelmente, quando gosta da pessoa, o rei Paimon é assim. Não tem nada a ver com você ter me tocado ou não. — afirmou Gwen, gentil, passando os dedos suavemente ao redor do ferimento no couro cabeludo dele e fazendo careta, como se a dor dele fosse dela.
— Ele pareceu muito irritado por eu ter te tocado. — Constatou Thomas. — Muito mesmo. Eu senti a aura assassina, Gwen
— Bobagem. Ele gostou de você. Quer até te ajudar com a Samantha. — Retrucou ela. — daemons não sentem como humanos.
Thomas não protestou, ela parecia conhecer mais do assunto, mas notou mesmo que a coisa, a sombra sentia ciúme dela, mas ela não acreditou nele.
Mas Thomas era um homem ciumento, ele sentiu a posse primitiva da coisa. Como ele ficava em ver Aeron tocando Samantha antes de saber que era corno. Sabia exatamente o tipo de sentimento que tinha captado quando foi lançando para longe da Gwen.
Gwen tirou algo da bolsa, e Thomas percebeu ser uma pomada caseira em uma latinha. Tinha cheiro de ervas. Ela mostrou, ele não protestou, então, ela passou a pomada no ferimento. Ardeu um pouquinho, ele se encolheu levemente e ela soprou como se se desculpasse sem palavras, mas estancou o sangue. Ele nem quis saber o que era. Depois, ela guardou de novo o pote de metal na bolsa.
Então ela prosseguiu a investigação e ele percebeu que era uma:
— Algo em você chamou atenção dele. Eu tive que fazê-lo muitas ofertas para ter seu favor. Estou com inveja mesmo... O que você tem de tão especial?
— Meu tio mexia com essas coisas... Eu não sei muito dele — respondeu Thomas ao notar o olhar triste dela. — Ele era da maçonaria ou algo assim. Isso influencia no interesse dele por mim?
Ela abriu um sorriso e assentiu com a cabeça.
— Tá explicado o mistério, então. Ele deve sentir potencial em você. Como um rei deve gostar de alguém que tem um parente realmente iniciado em ordens que regem o mundo. Eu não sou ninguém e sou um pé no saco dele. Ele se ofende comigo e tenho que o bajular muito.— comentou, menos rancorosa. — É mais fácil quando é de linhagem nobre por assim dizer. Ter um tio marçom e iniciado nos mistérios... Ah, eu queria.
Thomas percebeu que ela ficou menos magoada; havia algo empolgado na voz dela agora, mais resignado. Apesar dos olhos escuros, o rosto dela denunciava todas as emoções com uma transparência, e ela pareceu profundamente magoada do interesse do daemon nele antes, ele também tinha visto isso. Era tão estranho alguém tão sincera, quando Samantha sorria tão lindamente e o apunhalava pelas costas.
Por que comparar as duas? Nem fazia sentido.
— Você quer ir, então? Destranca a porta e vamos... — pediu ela, ainda segurando a lanterna. — Vamos, vamos... As pessoas devem dar por nossa falta logo e se nós pegarem aqui vai ter conversa chata sobre usar camisinha. Cê sabe.
Ele destrancou a porta, girou a maçaneta e saíram do cubículo. O corredor tinha alguns casais se beijando e mais ardentes. Miraram um ao outro, ambos vermelhos e ofegantes, se lembrando da pegação anterior.
— Então, eu vou para casa — comentou ela de repente, com a voz suave e apontando a saída, os pés na direção dele porém. — A gente se vê por aí... Você decide se quer o feitiço ou não e aí... me procura.
Ela começou a andar em direção à saída da escola, um tanto pensativa. Ele correu até ela. Surpreendendo até a si, deixou escapar:
— Está tarde. Quer carona até a sua casa, como meu pedido de desculpas por ter estragado seu show e trabalho?
Ela ajeitou a alça da bolsa no ombro e assentiu com a cabeça.
— Eu gostaria muito disso. Obrigada!
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Atualizado até capítulo 38
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