Capítulo Especial – O Nascimento do Donzinho

Cheguei em casa no final da tarde, sob um céu incendiado de tons dourados e cinza, como se o próprio universo estivesse preparando o palco para algo grandioso. A mansão, normalmente vibrante com o som de passos e ordens mafiosas, parecia suspensa no tempo. Um silêncio respeitoso, quase sagrado.

Na sala, lá estava ela.

Verena.

Deitada no sofá como uma deusa em repouso. Imensa, luminosa, com aquele ar de quem carrega o futuro entre as costelas e não dá a mínima para o caos que virá com ele.

Mas para mim, olhar para ela era um lembrete gritante: o fim estava chegando.

— Você está linda, Verena. Meu irmão é um homem... absurdamente sortudo. — murmurei, tentando parecer calmo, mas o suor na minha nuca denunciava meu pânico.

Ela se mexeu, com um grunhido e uma mão na lombar, sorrindo com aquela cara de quem planeja explodir tudo com charme e batom.

— É hoje, Jean. — disse com a naturalidade de quem anuncia a previsão do tempo. — Esse bebê quer sair e eu já avisei que não tem mais espaço aqui dentro.

Senti meu coração escorregar pela espinha. Sentei num pufe como se o peso do mundo tivesse acabado de me jogar nele.

— Não fala isso, Verena... não brinca comigo. Não pode ser hoje! Você tem certeza? Você não pode segurar mais um pouquinho?

Ela me olhou como se eu fosse a criatura de três cabeças querendo destruir a Terra.

— Segurar, Jean?! Isso aqui é um bebê, e não uma bolsa de compras! E já tô com nove meses, pombas! Tá achando o quê? Que sou um animal?

— Eu só preciso de mais tempo. — gaguejei. — Três meses. Dois. Um. Só isso.

— Jean Ferrari, você é um covarde disfarçado de durão. Isso tudo é medo de casar, né?

— Verena, me dá só uma semana. É tudo o que eu peço. — supliquei como um pecador diante da redenção.

Ela deu um tapa leve na minha cabeça e riu, com aquele brilho debochado nos olhos.

— Olha, se você correr e fugir agora, eu mesma vou te caçar. E nem precisa me apresentar à sua noiva, porque a menina tem sangue nos olhos. Eu vi com meus próprios olhos.

— E eu vi você destruir o Anthony. — retruquei.

Ela sorriu com nostalgia e tocou a barriga.

— E agora, olha pra mim. Estou aqui... gigante... prestes a dar à luz a um mini mafioso que vai dominar o mundo com o olhar. Mas feliz, Jean. Muito feliz. O caos trouxe amor. E talvez... só talvez... traga pra você também.

Eu não respondi. Não podia. Aquilo me atingia mais do que eu queria admitir.

Ela gemeu e segurou a barriga.

— Ai...

Me levantei num pulo.

— Foi contração?! Foi agora?! DEUS DO CÉU, VERENA!

— Relaxa, é só o aviso. Mas se fosse você, começaria a rezar.

Antes que eu pudesse implorar mais tempo ao destino, Anthony entrou na sala como quem volta da guerra — camisa aberta, cabelo desgrenhado e aquele brilho arrogante de Don feliz.

— Sua noiva sofreu uma emboscada ontem — anunciou como se dissesse “o jantar está pronto”.

— Morreu?! — soltei, com mais esperança do que deveria.

Verena me fuzilou com o olhar.

— JEAN! Cuidado com a boca!

— O quê? Eu só perguntei...

Anthony riu, aquele riso irritante de quem tem tudo sob controle.

— Infelizmente pra você, ela está bem. Te esperando pra dizer "sim".

— Que sorte a minha... — murmurei.

— Espero que trate bem a sua esposa, Jean. — disse Anthony, sério.

— Não conte com isso. — retruquei com um sorriso cínico.

— Ela acabou com os bastardos com uma metralhadora. E não errava um tiro. — comentou, quase orgulhoso. — Tenho o vídeo. Vai ser seu presente de casamento.

— Uma metralhadora? — gargalhei. — Aquela boneca mimada?

— Aquela boneca mimada destruiu quatro SUV blindado.

— Vinte e quatro anos, Anthony. Ela nem sabe o que quer da vida.

— Mas sabe matar. Isso já é um começo.

Antes que eu pudesse retrucar, Verena soltou um grito gutural.

— AH! AGORA VAI! AI, CARALHO!

Anthony congelou. As pupilas dilataram. O rosto perdeu cor.

— O que aconteceu?! — berrou.

— Eu vou PARIR, seu idiota! — ela gritou. — A bolsa estourou! Eu tô com dor! Não me deixe parir esse menino no sofá!

Ele caiu de joelhos, em pânico.

— O que eu faço, amor?! ME DIZ! EU FAÇO TUDO!

— Você é o Don da Camorra, PORRA! — gritei. — Age como um!

— Ele travou... — murmurou Verena, revirando os olhos. — Jean, sobe! As bolsas estão no closet! Agora! E avisa a família! AI!

Corri. Pela primeira vez na vida, obedeci uma mulher sem pestanejar.

John apareceu do nada, como se fosse um enviado de Deus.

— Finalmente alguém sensato. — Verena suspirou.

— Anthony! Levanta! — John tentou ajudar.

— Não coloque essas mãos em mim. Está para nascer o futuro Don da Camorra. Ninguém toca em mim! — rosnou Anthony, quase desmaiando.

— Eu vou dar DOIS MURROS se não levantar agora! — ameaçou Verena. — E juro que você nunca mais me engravida de novo!

Anthony arregalou os olhos e finalmente correu, como um cachorro assustado.

O caos reinava.

Verena foi levada para o hospital em comboio. Oito carros, três motos, dois helicópteros de vigilância aérea. Nenhum desfile de celebridade tinha aquela segurança. E no centro de tudo: ela, a rainha em trabalho de parto.

Anthony, ao seu lado, não parava de suar e balbuciar orações em todos os idiomas possíveis.

Na sala de parto, Verena parecia uma deusa em fúria.

— SE VOCÊ ENCOSTAR EM MIM SEM ME AVISAR, EU TE ENFORCO! — gritava para a enfermeira.

— Amor... você está indo muito bem. — sussurrava Anthony.

— CALA A BOCA, ANTHONY! Eu odeio você! A culpa é toda sua! SUA E DAQUELA NOITE NA BIBLIOTECA!

— Foi uma bela noite... — ele sorriu, nostálgico.

— ENTÃO VEM AQUI E PARI VOCÊ ESSA CRIANÇA!

E então, veio o grito mais profundo, mais cortante, mais visceral.

E um choro.

O mundo parou.

O som da vida.

Dante nasceu.

Anthony caiu de joelhos. Chorava como um menino.

— Ele... ele é perfeito. — sussurrou. — Verena... você me deu um rei.

Verena, pálida, suada, exausta... sorriu com lágrimas nos olhos.

— Eu dei a luz a um Don... e espero que ele saiba amar antes de aprender a matar.

E naquele exato instante, lá fora, Jean recebia a ligação:

— Senhor Jean, seu sobrinho nasceu. E... está na hora do senhor se preparar. O casamento será amanhã.

Jean sentiu o chão sumir. As pernas fraquejaram.

— Dante nasceu... e eu... vou morrer.

O ciclo estava só começando.

E o inferno... bem, estava só esperando abrir as portas.

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Comments

Tania Cassia

Tania Cassia

coitado do Jean kkkkkkkkkk vai morrer é de amor isso sim

2025-06-11

1

Andreia

Andreia

Tadinho do Jean🤣🤣🤣🤣🤣

2025-06-14

0

Maria Aparecida

Maria Aparecida

/Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm//Facepalm/kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

2025-06-10

0

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