Sangue em Redmoor

O céu era uma ferida aberta.

Nuvens negras corriam como bestas, escondendo a luz da lua, que deveria nos proteger. O vento carregava o cheiro da morte antes mesmo de cruzarmos os limites da Redmoor.

Eu cavalgava à frente, com Dante à esquerda e Kaela à direita, nossas roupas tingidas com o emblema da matilha. Atrás de nós, um pelotão de guerreiros silenciosos seguia com passos calculados. Garras prontas. Corpos tensos. Olhos atentos.

— Estão tentando nos intimidar — sussurrou Kaela, sentindo o peso do território. — O próprio solo parece querer expulsar a gente daqui.

— Talvez devesse — respondeu Dante, os olhos dourados fixos nas árvores adiante. — Redmoor não é conhecida pela hospitalidade.

Foi quando ouvimos o primeiro uivo.

Agudo. Apressado. Um sinal de alerta.

Logo depois, três lobos de pelagem escura surgiram do nada, cercando nosso grupo. E atrás deles, saindo das sombras como se fosse parte da própria floresta, veio ele:

Alfa Cael Bloodthorn.

Líder de Redmoor. Um lobo velho e brutal. Alto, de ombros largos e olhos vermelhos que nunca piscavam.

Ele parou diante de nós, analisando cada guerreiro com desdém, até que seus olhos pousaram em mim. Sua sobrancelha arqueou com desdém.

— Esperava reforços. Recebi uma patrulha de crianças... e uma fêmea no comando.

O ar se tornou denso.

Kaela deu um passo à frente, mas ergui a mão.

Era eu quem responderia.

— Recebeu uma Alfa. Esteja grato por não ter recebido um caixão.

Cael riu, mas o som foi áspero, sem humor.

— Uma Alfa... fêmea. E você espera que eu aceite isso? Redmoor não se curva a farsas nem a experimentos políticos.

— Redmoor está à beira de ser destruída — rosnei, com a voz firme. — E ainda está preocupado com o que tenho entre as pernas?

Dante deu um passo à frente. O poder emana dele como calor de uma fogueira.

— A ameaça é real, Cael. Sua matilha grita por socorro. O inimigo está mais próximo do que você imagina.

— E o que você sabe disso, forasteiro? — Cael rosnou. — Sangue exilado não dá conselhos.

Foi quando o solo tremeu.

Literalmente.

Todos silenciaram.

Um rugido rasgou o céu.

Longo. Gutural.

Antinatural.

As árvores balançaram. Pássaros explodiram em voo. A própria floresta prendeu a respiração.

— Isso... não era um lobo — murmurou Selene, os olhos arregalados.

Do sul, algo vinha marchando em nossa direção. As sombras ganhavam forma. Criaturas deformadas, corrompidas pela magia, surgiam entre as árvores. Muitas.

Centenas.

— Protejam o perímetro! — gritei.

Os guerreiros se espalharam.

Cael pareceu paralisado.

— Isso não pode ser real...

— Isso é apenas o começo — disse Dante, já se transformando.

E então o inferno se abriu.

A criatura que liderava o ataque saiu da floresta com um rugido que fez o chão vibrar. Era um lobo grotesco, do tamanho de uma casa, com chifres saindo das costas e olhos que ardiam como brasas.

Eu nunca tinha visto algo tão monstruoso.

Saltei no ar e me transformei.

Minha loba explodiu para fora com força total, mais feroz do que nunca. Corri contra a criatura, ignorando o medo, ignorando as dúvidas. Este era o momento.

Se Cael precisava de uma prova de liderança, eu a daria com garras e sangue.

A batalha foi caos puro.

Amara girava como uma tempestade, rasgando com precisão.

Kaela liderava o flanco norte, protegendo os feridos.

Dante e eu lutávamos juntos, uma dança letal entre presas e músculos.

Mas a criatura era forte. Demais.

Foi quando Cael finalmente se transformou. Um enorme lobo vermelho, musculoso e poderoso. Ele lançou-se contra a besta com um uivo de guerra, unindo-se a nós.

Naquele instante, ele parou de olhar para mim como um erro.

E começou a me ver como Alfa.

Demorou horas.

Sangue tingiu o chão.

Metade da floresta queimou com os feitiços defensivos ativados por Kaela.

Mas quando a criatura caiu, partida por mim e por Dante, um novo uivo nasceu no coração de Redmoor.

Cael, ainda em forma de lobo, ajoelhou-se diante de mim.

Os outros guerreiros, vendo seu Alfa se render, seguiram o gesto.

E naquele silêncio ensanguentado, ouvi o som que nunca imaginei ouvir.

— Alfa... — disse Cael, com a voz rouca, os olhos baixos. — Montserra tem meu respeito. E minha lealdade.

Me mantive firme.

Mas por dentro...